Romoaldo de Souza

Deputados novatos fazem parte do time dos beija-flores. Querem estar em todas

Leia a coluna Política em Brasília

JC
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Publicado em 03/06/2023 às 21:06 | Atualizado em 03/06/2023 às 21:08
Lula Marques/ Agência Brasil
Brasília (DF) 30/05/2023 Reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados para sortear os relatores das representações contra sete deputados. Foto Lula Marques/ Agência Brasil. - FOTO: Lula Marques/ Agência Brasil

Parece normal que um parlamentar de primeiro mandato queira ocupar todos os espaços possíveis até para competir com quem já tem tempo de “estrada”. Com aqueles que já tem mandatos no currículo. Mas na atual legislatura, os “novatos”, como são conhecidos aqueles que estão na Câmara pela primeira vez, chegaram com muita sede ao pote.

Dos 513 deputados, 244 deles são estreantes na Casa, “marinheiros de primeira viagem”, ou como diz a poesia de Nando Chagas e Pedro Gil, “Viagem ao Fundo do Ego”, “Explorador sem experiência. Marinheiro de primeira viagem. Embarquei de peito aberto. Levando só a coragem”. E haja coragem e disposição.

Saindo do Anexo 4, onde fica a maioria dos gabinetes, indo em direção ao corredor das comissões, “é chão”, como me disse outro dia Silvye Alves (União Brasil-GO), ostentando um salto alto, que a deixa com quase dois metros de altura. “No fim do dia, meu amigo, a gente fica com a panturrilha ‘moída’”.

“As vezes, a gente fica feito um beija-flor. Passa numa comissão dá presença. Vai a outra faz um aceno. Ainda tem aquelas subcomissões. É muita atividade”, lembra. Isso sem contar as sessões plenárias, cada vez mais demoradas e as atividades extracongressuais. “Ir a um ministério, no Planalto. A gente tem que ser vista, também”, sorri.

Quase sempre acompanhados de um batalhão de assessores ou de assessor que trabalha por um batalhão, os “novatos” querem tudo, ao mesmo tempo. “Tira uma foto”! “Posta”! “Não, essa não minha filha, dá uma caprichada nos filtros”, ordena outro parlamentar. “Você não imagina! Se eu ganhasse por foto que faço, estava rica”, diz uma assessora também “moída”, no fim do expediente, quase sempre perto da meia-noite. “Ao menos quando o deputado está em Brasília, é nessa toada” diz.

“MELHOR ESTAR VIVO, MAS NÃO DEIXA DE SER UM BAQUE NO CONTRACHEQUE”
O ex-deputado Asdrubal Bentes (1939-2020) não escondia de ninguém sua divergência para um ato da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados que impôs o pagamento de um dia de salário, toda vez que morrer um colega. “Eu sei que é um forma de ajudar à viúva ou ao viúvo. Mas imagine se morrerem dois, três por mês?” questionava. Asdrubal morreu por complicações da covid-19, já fora do mandato. Não deu despesa aos colegas.

Na ponta do lápis, quando morre um parlamentar, a família recebe 512 diárias. Levando-se em conta que cada deputado recebe bruto, por mês, R$ 33.763,00. Cada diária corresponde a R$ 1.125,43. Essa diária, multiplicada por 512 deputados [os que ficaram vivos] é entregue à família do morto, total: R$ 576.221,00. Na legislatura passada (2018 a 2022), nove deputados morreram, quem escapou “morreu” com mais de R$ 9 mil.

“Não vejo motivo, nem ninguém tem chegado até este deputado para reclamar. Vamos continuar como está”, diz o deputado Luciano Bivar (União Brasil-PE), primeiro-secretário da Casa, uma espécie de prefeito da Câmara. Pelo visto, a máxima de Asdrubal Bentes ainda é a melhor alternativa. “Ainda que viver tenha seu custo”, é sempre “melhor estar vivo”.

 

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