Romoaldo de Souza

Arthur Lira diz que não fumou o cachimbo da paz com Lula. "Larguei esse vício", diz presidente da Câmara

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Romoaldo de Souza
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Romoaldo de Souza
Publicado em 05/06/2023 às 22:47
Ricardo Stuckert
Pela manhã, Lula esteve com Arthur Lira na reunião de lideres da America do Sul, A noite Lira derrotou o Governo ao aporvar o Marco Temporla dos Povos Indígenas - FOTO: Ricardo Stuckert

Mesa posta, água mineral, bolo de cenoura com chocolate, pão de queijo, fatias de pão de forma, pão de sal [ou pão francês como dizem alguns “gourmets” da gastronomia] geleia de frutas vermelhas, manteiga e pequenas fatias de queijo. Numa ponta da mesa estava o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cada vez pigarreando mais. Na outra, o deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, visto por muitos governistas como o principal responsável por todas as derrotas que o atual governo sofreu no Parlamento.

Lula vai direto ao assunto. O presidente reconhece que há “um certo descompasso” na articulação política, “mas nada que não entre nos eixos o quanto antes”. Lira prefere falar de pautas para evitar citar nomes, mas diz a Lula que não é verdade que ele tenha emparedado o governo para ter o comando do Ministério da Saúde afim de entregá-lo a um aliado. Os dois conversam reservadamente, ainda com o guardanapo de linho na mão, e Lira vai embora, exatamente um hora depois de ter chegado ao Palácio da Alvorada.

“Espero que a gente tenha um encaminhamento próprio de estabilidade para o próprio governo, para que não se tenha que ter negociações setorizadas, individualizadas sobre essa ou aquela matéria. O governo precisa de uma arrumação mais efetiva da base do governo”, disse o presidente da Câmara em entrevista à TV CNN. “Penso que o alerta que foi feito [sobre] as dificuldades que houve na semana passada foram um bom recado para que o governo possa recompor o seu rumo”, disse o presidente da Câmara. De pés juntos, Lira jurou que não se discutiu “absolutamente nada” sobre cargos. “Eu não tratei de ministérios, não tratei de liberação de emendas nem liberação de espaços”, afirmou o presidente da Câmara.

Na Secretaria de Relações Institucionais, responsável pela articulação política, a semana excessivamente curta, com apenas dois dias para votações, “é tempo de refletir, corrigir os erros e esperar novos desafios”, como disse, com entonação de palestra de “choach”, um assessor do ministro Alexandre Padilha.

“OVERBOOKING” NO PALANQUE DE LULA EM PERNAMBUCO
Sabe quando você compra uma passagem aérea com hora marcada e tudo? Cuidadoso, você chega com duas horas de antecedência, se despede do parentes, muita gente chorando [alguns até de alegria, diga-se de passagem] e quando você vai no balcão despachar a bagagem o pessoal do atendimento coça a cabeça, digita uns códigos, franze a testa e compartilha o problema. Divide a enrascada.

“Senhor, estamos com um pequeno problema. O seu voo está lotado. Ocorreu “overbooking”, mas não se preocupe. Vamos embarcá-lo o mais rápido possível”

Você olha para trás, os parentes já foram embora, mesmo aqueles que choravam copiosamente, a possibilidade de você chegar ao destino, a tempo do seu compromisso, é quase zero, e o pessoal do atendimento ainda usou o plural majestoso no verbo estar. “Estamos com um problema.”

Pois a ida do presidente Lula a Pernambuco, nesta semana, abarrotou o Cerimonial do Palácio do Planalto e a Secretaria de Relações Institucionais com pedidos de credenciamento de assessores de parlamentares.

Lula estará hoje em Goiana, visitando as instalações do polo automotivo. Na quarta-feira (7), o presidente vai ao lançamento do Novo Farmácia Popular no bairro do Cordeiro, no Recife, e em seguida a Maranguape, no Paulista, à inauguração do campus do Instituto Federal de Pernambuco.

A agenda do presidente é tão importante que até a governadora, Raquel Lyra (PSDB), também fez chegar à imprensa sua agenda ao lado de Lula. Mas, e o “overbooking”? Perguntariam alguns. Em tempos de valorização da máxima segundo a qual “uma imagem vale mais que mil palavras” [embora eu não concorde com isso] tudo quando é parlamentar, “até mesmo de oposição”, entrou na fila para credenciar assessores para estarem no encalce da comitiva.

“Você pode imaginar se o ‘meu’ deputado chegar perto do presidente e eu não estar ali, pertinho, para registrar o momento, a casa cai”. Antes a “casa” que o palanque. O Planalto foi bastante rigoroso com os pedidos, justamente para evitar o “overbooking”. Alguns políticos estão inquietos, eles sabem que uma foto com o presidente quase sempre é sinal de prestigio, mesmo que Lula não saiba nem com quem está falando. “Se seu deputado apertar a mão do presidente, nossos fotógrafos estarão de prontidão para fazer o registro, logo depois, é só encaminhar um e-mail que a gente disponibiliza as fotos”, recomendou um assistente do cerimonial, já dando a entender que a máxima da “carteirada” “você sabe com quem está falando” não vai funcionar.

 

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