Todo parlamentar novato, mesmo aquele cujo traquejo com a política se limita àquilo que ouviu dizer da mesa do almoço de domingo com família, qualquer um já chega a Brasília, sabendo o principal ditado popular do parlamento: "Jabuti não sobe em árvore. Ou foi enchente, ou foi mão de gente".
Celso Sabino (União Brasil-PA) é um desses novatos que chegou à Câmara “disposto a aprender”. E aprendeu rápido um trecho do poema “À sombra desta mangueira” do educador pernambucano, Paulo Freire (1921-1997). "Escolhi a sombra desta árvore para/ repousar do muito que farei, /enquanto esperarei por ti”.
E Sabino não esperou muito tempo não. Primeiro ele se aproximou de Rodrigo Maia (PSDB-RJ) então presidente da Câmara e logo depois já era amigo íntimo de Arthur Lira (PP-AL), líder do poderoso centrão.
Em uma das primeiras reuniões de líderes dos partidos, ele ainda estava no ninho tucano (PSDB), quando ouvi de Rodrigo Maia a advertência de que os deputados tinham a obrigação de distinguir o que é “emenda útil” de um “jabuti”. “Nos igarapés do Norte, senhor presidente, é muito comum a gente encontrar cágados, mas nos projetos tem jabuti?” Riso geral na sala da Presidência da Câmara.
Dias depois, Sabino se aproximou de Lira e a primeira pergunta foi o que significa um jabuti, em um projeto de lei ou uma medida provisória. “São emendas que não dizem respeito a um assunto. É uma emenda de ‘contrabando’”, quando o adento não tem ligação com tema principal.
Vindo a ser escolhido ministro do Turismo, Celso Sabino será um jabuti no Governo Lula (PT). Sempre foi oposição ao partido do presidente, foi aliado de Jair Bolsonaro (PL) para quem fez campanha e, mesmo sendo um “estranho no ninho”, ainda assim, chega à Esplanada dos Ministérios feito um jabuti na político: levado pelas mãos de alguém, no caso Arthur Lira.
A QUADRILHA DA RUA DE BOLSONARO
Brasília é uma cidade tão “diferentona” que a maioria das ruas tem nome de quadra, uns números para identificar a localidade “dane-se” quem não entender. Por exemplo, a quadra onde mora a maioria dos deputados SQN 302 (Superquadra Norte). A série 300 é para informar que o morador está a Oeste do Eixão, a principal avenida de trânsito rápido. Não sei se expliquei direito.
Logo que deixou o Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro (PL) viajou aos Estados Unidos e depois que voltou para Brasilia, foi morar em um condomínio de luxo, Solar de Brasília, na cidade do Jardim Botânico. Perto do centro da cidade.
O ex-presidente tem reclamado de tudo, ultimamente. Do trânsito, dos engarrafamentos, da falta de um retorno próximo à sua portaria e dos pouco mais de 400 metros quadros da casa onde mora. Que nem sempre lhe garante privacidade para reuniões políticas.
Mas, agora o ex-presidente “está que não aguenta”, segundo contou um vizinho. É que todo fim de semana tem uma festa junina por perto. Neste, especialmente, tem um forrobodó numa comunidade católica perto da casa dele, renomada por fazer “festas de arromba”, que duram a noite toda e a quadrilha [junina] rolando solta.
“Vou me certificar com o chefe do condomínio, se no próximo fim de semana tiver mais uma quadrilha por aqui vamos ter que passar num hotel, onde for, mas ele “tengo, tengo” desses instrumentos estão me deixando sem rumo”.
Quando era presidente, Bolsonaro aplaudiu de pé seu ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, tocando forró no Palácio do Planalto e lembrando os velhos tempos do Forró da Brucelose. “O homem está ficando impaciente”, confidenciou um assessor de Bolsonaro.
NEY SUASSUNA CANTA POEMA DE ZÉ DANTAS E SENADORES MORREM DE RIR DA PERFORMANCE
Ney Suassuna (PMDB-PB) era considerado um político festeiro, mas ele tinha na ponta da língua uma resposta. “Na minha Campina Grande, a capital mundial do forró, onde as pessoas respiram forró dia e noite, a gente já nasce dançando forró. Então, essas festinhas são pra gente não perder o embalo”, dizia.
Certa vez, a pretexto de criticar as políticas sociais do governo federal e abastecimento de água em caminhão pipa, ele disse que o Parlamento “deveria aprovar uma nota de repúdio contra nossas elites governantes [que] sempre insistem em tratar a questão de forma emergencial, com cestas básicas e medidas assistenciais. É num momento como esse, carregado de emoção que mesmo com a voz embargada eu ouso cantar o poeta do Pajeu, o médico Zé Dantas (1921-1962)”. E solfejou "Seu doutor, uma esmola a um pobre que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão". Jefferson Péres (PDT-AM), que gostava de fazer críticas sarcásticas, suspirou “eu não sei o que é pior se ouvir essas tristes memórias do povo sofrido do Nordeste ou se escutar Vossa Excelência ‘assassinando’ a música de Luiz Gonzaga (1912-1989)”. O plenário quase veio abaixo de tanto rir, mas Suassuna ignorou as críticas do colega manauara e segui seu discurso.