Romoaldo de Souza

Ex-presidente Jair Bolsonaro escorrega na casca de banana que ele tinha jogado no meio da rua

Leia a coluna Política em Brasília

Romoaldo de Souza
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Romoaldo de Souza
Publicado em 07/07/2023 às 19:22
Reprodução/Redes Sociais
Bolsonaro interrompe Tarcísio de Freitas - FOTO: Reprodução/Redes Sociais

Tem um ditado popular bastante comum entre os indígenas mapuche, também conhecidos como araucano, que vivem entre o Chile e a Argentina que diz que “banana não tem semente, mas tem casca e tem filamento”.

Enquanto estava à sombra do Palácio do Planalto (2019-2022), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não fez o menor esforço para colocar em votação a reforma tributária recém aprovada na Câmara dos Deputados. E não é que lhe tenham faltado sugestões e incentivos. Mas “essa não é e não será a minha proposta”, dizia.

Nesta semana, quando quase todas as correntes políticas fechavam questão pela votação do relatório do deputado Agnaldo Ribeiro (PP-PB), Bolsonaro “solta os cachorros” contra o texto e contra quem manifestou apoio à iniciativa que prevê relativa [de novo!] simplificação da carga tributária.

Ao ouvir do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), que “a direita não pode perder a narrativa de ser favorável à reforma tributária. Senão, ela acaba sendo aprovada, e quem aprovou?" Bolsonaro levantou-se bufando, pegou microfone e tentou enquadrar seu ex-ministro. “Se o PL estiver unido, não aprova nada". A legenda, de 99 deputados, deu ao menos 20 votos à favor da reforma tributária.

“O [ex]presidente perdeu uma grande chance, no mínimo, de ficar em silêncio”, disse um aliado que foi, nos últimos quatro anos, de visitar a despensa do Palácio da Alvorada em busca de leite condensado.

Para outros, Jair Bolsonaro agiu como se estive caminhando pelas largas avenidas de Brasília e, do outro lado da rua, eis que ele avista uma casca de banana. O ex-presidente foi lá, do outro lado da rua e estabacou-se no chão.

Sequer ouviu os apelos do seu ex-ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI). “Há 1 unanimidade no Brasil: o Brasil precisa mudar. Precisa porque o povo não pode esperar 4 anos sofrendo, abandonado, enquanto questões que são de país, e não de governos, precisam ser enfrentadas. Dizia isso ontem, digo hoje e direi sempre: nenhuma oposição pode ser contra o Brasil. O Brasil que queremos é maior do que todos nós, o Brasil que queremos pode não ser o de hoje, mas é hoje que temos a obrigação de construí-lo”, escreveu.

O ex-presidente estava mais interessado em seguir pelos argumentos do filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que, a pretexto de dizer a quais estados e regiões a reforma tributária “deles” era prejudicial ao país, distribuiu um mapa colocando os estados nordestinos de Sergipe e Bahia como se estivessem situados no Sudeste.

O 01, como o pai chama o filho, segue na sua geografia de resultados e dispõe São Paulo como um dos quatro estados da Região Sul. Eduardo Bolsonaro ainda omite a existência dos estados de Mato Grosso do Sul e Tocantins.

O parlamentar quase que reduziu o país à época das 15 capitanias hereditárias, entre os períodos de 1534 e 1536.

Em terras lusitanas, “escorregar em casca de banana” significa cair em um armadilha. A oposição capitaneada por Bolsonaro caiu nos próprios erros.

AGORA, FINALMENTE, VAI
O presidente Lula da Silva (PT) delegou à primeira-dama a espinhosa missão de mandar um duro recado ao “Poderoso Centrão”, ajuntamento de parlamentares que flerta com cargos públicos e interesse relativamente republicanos.

Faz-se necessário alertar de que relatividade estamos falando, uma vez que o presidente da República tem se revelado um bom entendedor do assunto. Haja vista, seu conceito de democracia, quando sai em ardorosa defesa da ditadura do Nicolás Maduro. Para ele “o conceito de democracia é relativo.”

O recado de Rosângela Lula não poderia ser mais direto “Eu estou aqui no MDS [Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome] e esse é o coração do governo. O presidente Lula fala que a população mais pobre do Brasil é a prioridade desse governo. Então, o ministério é que atende as políticas públicas feitas para essa população são pensadas aqui. Acabamos de fazer uma reunião muito importante, eu aprendi muito aqui, tirei muitas dúvidas e eu quero contar para vocês que a gente tem muitos projetos muito legais vindo aí pela frente, o Brasil Sem Fome está chegando e a gente está muito feliz. O trabalho aqui está acontecendo e a realidade do Brasil está mudando a cada dia. Todos juntos pela união e reconstrução do Brasil”, disse.

Traduzindo do “janjês” para a política brasileira, ela quis dizer que a não ser no sentido poético, não se entrega o coração a ninguém, muito menos à especulação montada pelos deputados desse grupo que quer o comando da pasta.

O ministro Wellington Dias respirou aliviado. Como na canção “Medo Bobo” com Maiara e Maraísa, poderia ter se virado para “Janja” e declamado: “Eu pensei que só tava alimentando. Uma loucura da minha cabeça. Mas quando ouvi sua voz respirei aliviado.”

PENSE NISSO!
Não foi a primeira nem será a derradeira vez que aproveitadores do descuido dos colegas parlamentares que emendas “jabutis” foram enxertadas em projeto de lei e até em propostas de alteração da Constituição Federal.

Experiente tributarista diz a coluna que “chega ser vergonhoso” que mais de 400 deputados tenham “analisado” a PEC da reforma tributária e não tenham se dado conta de que ao menos um “jabuti” foi parar na proposta.

Os deputados incluíram no relatório de Agnaldo Ribeiro (PP-PB) a possibilidade de que sejam ampliadas as isenções tributárias a templos religiosos e suas entidades assistenciais.

Ou seja, alguém usou da boa fé de muitos deputados que sequer leram o relatório da reforma tributária, foi lá e “depositou” esse tema. E não é que foi aprovado?

A propósito, o ditado popular diz que “jabuti não sobe em árvore. Se está lá ou chegou por uma enchente ou por mão de gente”.

E que mãos! Pense Nisso!

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