Romoaldo de Souza

No Congresso Nacional o receio é de que a "fritura" do fogo amigo acabe chamuscando a política de Lula

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Romoaldo de Souza

Publicado em 25/08/2023 às 23:01
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DEBAIXO DE VARA -Os operadores do Direito costumam usar uma expressão, digamos, mais “gourmetizada”: sob vara. Uma forma de afirmar que o investigado irá à presença do juiz à força. Uma condução coercitiva.

Com receio da vara, no caso específico, estamos falando da força da lei, o ex-craque da seleção brasileira Ronaldinho Gaúcho pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para não ser conduzido à força para prestar depoimento à CPI das Pirâmides Financeiras.

A motivação da Comissão Parlamentar de Inquérito é que mesmo convocado, Ronaldinho Gaúcho não deu a mínima. “Fez biquinho”, e não compareceu à Câmara dos Deputados, nesta semana.

A defesa do ex-jogador também já havia pedido ao ministro Edson Fachin, do STF, a revogação de um ato da Justiça Federal do Rio de Janeiro quando determinou a apreensão do seu passaporte.

Ronaldinho e o irmão, Roberto de Assis, foram chamados a prestar depoimento sobre os negócios da “18K Ronaldinho”, empresa que foi apontada como uma pirâmide financeira pelo Ministério Público Federal.

Se Gaúcho vai dar, mais um vez, um drible na CPI, ainda não se sabe. É esperar!

A FRITURA NO FOGO AMIGO
Parafraseando o poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Luciana que frita Márcio, que frita Wellington que só está tentando se segurar no cargo.

Luciana Santos, ministra de Ciência e Tecnologia, não gostou nada das abordagens “inconvenientes” de Márcio Santos que hoje comanda Portos e Aeroportos e pode perder o cargo para Silvio Costa Filho. A ministra, presidente nacional do PCdoB, tem dito a colegas - para que seus apelos cheguem aos ouvidos do presidente Lula da Silva (PT) - que o seu partido é proporcionalmente a mais fiel das legendas. O problema é que 100% de seis é ínfimo para quem precisa aprovar alguns projetos relacionados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como o atual governo.

Márcio França, importante liderança do PSB, não tem dormido o “sono dos justos” por causa dos boatos de que Lula poderá entregar sua atual pasta a Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), com o objetivo de ajudar a sacramentar de vez a aliança com o todo poderoso centrão. França pode “ganhar” o novíssimo Ministério da Pequena Empresa, que já nasce micro.

Na Esplanada dos Ministérios e nos corredores do Congresso Nacional a máxima que se escuta é que de tanto Lula emperrar a reforma ministerial , “vai faltar óleo em Brasília.” Tudo isso sem contar que até Simone Tebet (MDB), ministra do Planejamento e Orçamento, arregala os olhos toda vez que escuta o nome “Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome”, hoje sob o comando de Wellington Dias.

É bom que se diga que Dias tem madrinha forte. A primeira dama, Rosângela da Silva, não se cansa de defendê-lo. Mas o óleo da fritura está chegando à temperatura máxima. Alguém poderá sair chamuscado. Tanto pode ser o “fritador” como os “fritados”

“NÃO DELATOU”
A portas fechadas e usando o fardamento complemento, incluindo as medalhas que recebeu, o tenente-coronel Mauro Cid prestou depoimento na Polícia Federal, nesta sexta-feira (25), por coincidência, no Dia do Soldado.

O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ficou na PF por 6 horas e 13 minutos, mas não concluiu todo o interrogatório “porque houve uma falha no sistema de dados”, segundo contou seu advogado, César Bitencourt, garantindo que não houve delegação por parte do oficial. “Não, ele não delatou”, disse a defesa.

Mauro Cid prestou depoimento como testemunha nas investigações que apuram a participação do hacker Walter Delgatti Neto acusado de inserir dados falsos no protocolo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). “Voltaremos na próxima semana”, afirmou o advogado César Bitencourt.

MEU TESTEMUNHO SOBRE MARCO MACIEL
Eu cheguei ao Congresso Nacional para cobrir a Assembleia Nacional Constituinte, no final de 1987. Trabalhava na rádio Tupi do Rio de Janeiro e já tinha sido alertado para me manter com o pé atrás, toda vez que fosse entrevistar o senador Marco Maciel (1940-2021). “O homem é um enciclopédia, mas é duro de arrancar um ‘lead’ dali”, dizia meu chefe que já o conhecia. No jargão jornalístico quando alguém não dá lead é porque costuma contornar o cerne da questão.

Eu fui ouvi-lo logo sobre um tema espinhoso. A reforma agrária na Constituinte. Cheguei no gabinete, fui recebido com a deferência com que Marco Maciel conversava com os jornalistas. Com uma presteza singular. Ofereceu água, uma xícara de café.

Gravador de fita na mão, eu sapequei a primeira [e única] pergunta: “senador, com que prioridade a Assembleia Nacional Constituinte deve tratar um tema tão importante para os movimentos sociais do campo, como é a reforma agrária?”

Para quê? Marco Maciel discorreu sobre toda a história fundiária do Brasil. Do Brasil Colônia aos conflitos vividos pela “Nova República” que ele ajudou a construir ao lado do ex-presidente José Sarney.

Datas, personagens, medidas, dinâmicas. Tudo. Marco Maciel sabia de tudo. E falava e eu olhava a fita K-7 correndo no gravador. 30 minutos depois, a fita trava. Tinha rodado um lado. Fui lá, virei a fita e ele me diz: “Está acompanhando?”

Claro que eu estava adorando aquela aula, mas praticamente voltei para a redação sem uma posição clara, como o novato jornalista esperava. Esse era Marco Maciel.

 

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