Barroso diz em Roma que Brasil vive 'estabilidade institucional'
Em Brasília, Aparecida ou em Belém, políticos se travestem de fieis para homenagear Nossa Senhora. No PL, silêncio total para denúncias de violência
SANTOS DO PAU OCO
Políticos se apropriam da imagem de Nossa Senhora Aparecida para comemorar o dia da padroeira, ficarem bem na foto como se beatos fossem.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), abriu a procissão na Esplanada dos Ministério [região central de Brasília], segurando a imagem da virgem, pedindo “muita proteção para o meu povo sofrido e querido do Distrito Federal”.
O ex-igrejeiro, oriundo das invasões urbanas na periferia de São Paulo, ministro da Reforma Agrária, Paulo Teixeira, disse que a imagem de Nossa Senhora “santa negra, lembra o sofrimento do povo negro, que veio para cá escravizado”.
FALTOU VIRAR CORDEIRO
E esse cordeiro não é o “imolado antes da fundação do mundo e manifestado na história”, como no primeiro Livro de Pedro, capítulo 1º, versículos 19-20, não. Falo do cordeiro raiz, aquele que acompanha o Círio de Nazaré, em Belém (PA), brigando para tocar a corda da procissão. O presidente Lula da Silva (PT) e a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, subiram em um barco, segurando a imagem da virgem de Nazaré no cortejo náutico.
SONHAR NÃO CUSTA...
… mas o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, ou é um otimista empedernido ou está jogando para a plateia. Em Roma, “Cidade Eterna”, como queria o poeta Tibulo (54a.C.-19a.C.), Barroso tirou do bolso direito do paletó azul uma anotação para dizer que no distante Brasil, “há uma grande harmonia entre os [três] Poderes”. De improviso completou: “Temos estabilidade institucional. Harmonia não significa concordância plena, mas que somos capazes de eventualmente divergir civilizadamente e convergir para muitas coisas”.
O SILÊNCIO DE MICHELLE
A ex-primeira-dama ainda não se manifestou após o PL receber denúncias de que o deputado estadual pelo Estado de São Paulo Lucas Bove teria agredido a ex-mulher, Cíntia Chagas.
Em nota, a assessoria diz que o PL Mulher repudia “qualquer forma de violência doméstica”, enquanto aguarda a comprovação dos fatos. A presidente do PL Mulher foi aconselhada a só se manifestar publicamente, após a conclusão do inquérito.
MAIS UM
O morador de rua Vitor Manoel de Jesus foi acordado na manhã desse feriado (12), por integrantes de um grupo de uma comunidade católica que distribui comida nas noites de Brasília, nas imediações da [antiga] rodoferroviária. Os vicentinos contaram a Vitor que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, arquivou processo que o acusava de cometer crimes de associação criminosa armada, dano qualificado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. “Golpe? Eu?” respondeu Vitor. Como na música de Chico Buarque: Geni e o Zepelim, “se virou de lado e tentou até sorrir”. Vitor adormeceu livre das garras de Moraes.
PENSE NISSO
Governantes - assim mesmo: comum de dois gêneros - adoram delegar responsabilidades quando uma catástrofe natural tem consequências que afetam a população. Toda. Não é somente uma ou outra classe social. É toda população! É disso que falo.
A culpa sempre é terceirizada: é “a mãe natureza”, é a chuva que “choveu mais que nos anos anteriores”, é a maldita “herança maldita”.
Governantes se esquivam de assumir a própria responsabilidade, seja negligenciando os bueiros entupidos, a falta de poda das árvores, a frágil fiscalização.
É que tem governantes que são bons de baterem no peito e evocarem para si a redundância da primeira pessoa do singular: “eu fiz”; ou a falsa modéstia do plural majestático: “nós somos”. Mas com a mesma habilidade criam uma terceira pessoa para jogar-lhe a culpa.
Em “O Casal Perfeito”, a personagem Greer Garriso, vivida por Nicole Kidman, chega-se para o marido suspeito de matar a amante e diz que ele não precisa carregar aquela culpa, mas adverte que “O ruim da culpa é que você não vai poder transferi-la”.
Pense nisso!