Lula faz discurso pela democracia, mas derrapa no improviso

Além do mais, o discurso da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, dou um tom partidário ao evento. Não foi somente o Planalto que foi depredado

Publicado em 08/01/2025 às 22:55 | Atualizado em 08/01/2025 às 22:57
Google News

O BIGU DE LULA
O ato do Executivo para lembrar o 8 de Janeiro teve o discurso escrito pelo marqueteiro Sidônio Palmeira, novo ministro da Secretaria de Comunicação Social. Foi o primeiro do chefe da Secom. Lula agradeceu aos que trabalharam para restabelecer as obras de arte parcialmente destruídas, acertou quando colocou a democracia no centro de sua fala, pedindo a punição aos “golpistas”, e aproveitou para pegar uma carona no sucesso do filme “Ainda Estou Aqui”, do cineasta Walter Salles: "Hoje é dia de dizermos em alto e bom som: ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que estamos vivos e que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas de 8 de janeiro de 2023".

DISCURSO PERSONALISTA
Mas esqueceram de alertar o presidente de que o ato era contra o quebra-quebra de 8 de janeiro de 2023 e que ele era um personagem como a maioria dos brasileiros. Em tom de campanha, Lula se colocou no centro das atenções e falou de sua queda no banheiro: “Achei que tinha chegado o meu fim, mas não chegou o meu fim. Eu estava tão otimista, estava pensando até em tomar um gole, estava sem beber até então.”

TIOZÃO DO CHURRASCO
O presidente derrapou feio quando disse que “os amantes” se apaixonam mais “pela amante” do que pelas mulheres. “Somente em um processo democrático a gente pode conquistar isso. É por isso que eu sou um amante da democracia. Não sou nem marido, eu sou um amante da democracia, porque, na maioria das vezes, os amantes são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres”.

A SANHA REGULATÓRIA
O sonho intervencionista do ministro Jorge Messias, advogado-geral da União, pregando a regulação das mídias sociais, ganhou força com o anúncio do CEO do Facebook e do Instagram, Mark Zuckerberg, anunciando que vai reduzir a checagem de conteúdos em suas plataformas. Com isso, ”torna-se ainda mais premente a necessidade de criar um novo marco jurídico para a regulação das redes sociais no Brasil”, disse o AGU.

NADA MUDA NO JORNALISMO PROFISSIONAL
O trabalho do jornalismo profissional terá pouca ou nenhuma mudança no jeito de se publicar uma matéria, escrever uma reportagem, fazer uma nota. Na avaliação do presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, haverá “mais reconhecimento” pelo trabalho do jornalismo. "Então, a nossa responsabilidade aumenta e nossa visibilidade seguramente vai aumentar também", afirmou.

‘XANDÃO’ EMPODERADO
Chamado por Lula de “Xandão”, em plena solenidade do 8 de Janeiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes disse que “independente das bravatas” de seus diretores, as redes sociais somente atuarão no país se respeitarem a legislação. “Aqui no Brasil, a nossa Justiça Eleitoral e o nosso STF, ambos já demonstraram que aqui é uma terra que tem lei. As redes sociais não são terra sem lei. No Brasil, [as redes sociais] só continuarão a operar se respeitarem a legislação brasileira”, disse.

DIVULGAÇÃO
Priscilla Krause, em Brasília - DIVULGAÇÃO

PRISCILA KRAUSE NO PLANALTO
Somente cinco estados e, todos eles do Nordeste, incluindo Pernambuco, mandaram representantes ao ato desta quarta-feira. A vice-governadora representou Pernambuco destacou que “a democracia sempre será o melhor caminho” e que “o respeito às nossas instituições é inegociável”.

COM TRUMP E NÃO ABRE
A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou ao Supremo Tribunal Federal para pedir a liberação do passaporte. Bolsonaro foi convidado a assistir à posse de Donald Trump e precisa do salvo conduto do ministro Alexandre de Morares para ir ao Estados Unidos. “Estamos na expectativa. Estou esperançoso”, disse a um interlocutor.

JUROS DO CONSIGNADO
Com a taxa Selic rompendo a chamada Linha Kármán [limite entre a atmosfera e o espaço exterior], o Conselho Nacional de Previdência Social discute nesta quinta-feira (9) “o teto de juros” do empréstimo consignado para os beneficiários da Previdência Social. Hoje, o limite é de 1,66% ao mês.

PENSE NISSO!
Nos oito primeiros anos de mandato do Lula, o ministro da Secretaria-Geral, Luiz Dulci, renomado intelectual das letras em Minas Gerais, era o responsável por escrever os discursos do presidente. Com rebuscadas citações, contextualização acadêmica. Uma obra de arte.

Envolvo do manto do salvador da pátria, Lula, quase sempre nem lia aquilo que Dulci escrevia. Às vezes dizia que ia passar a vista “na papelada”. Em outra ocasião, no interior de Goiás, o presidente simplesmente jogou no chão dezenas de folhas de papel impressos com letras garrafais e corpo grande. Dulci ficava uma arara. Educado, mas uma arara.

Na estreia de Sidônio Palmeira, que chega à Secom para suprir a falta de intelectualidade do ministro anterior, Lula leu um trecho dos escritos do ministro e estava indo até bem. Não fosse por um senão. Resolveu improvisar.

Aí submergiu das entranhas conservadoras o Lula deselegante e moralmente reprovável saiu-se com aquela história de que “os amantes são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres”.

De Lula, no improviso, não se pode esperar muito, mas o inquietante é que os grupos que se apropriam de arroubos igualitários não deram um piu. Essa seletividade…

Pense nisso!

Tags

Autor