Polícia conclui inquérito que apura denúncias de agressões supostamente praticadas por Pedro Eurico contra ex-mulher
Resultado foi remetido ao Ministério Público de Pernambuco para análise. Polícia Civil não quis informar por quais crimes o ex-secretário foi indiciado
Atualizada às 16h35
A Polícia Civil de Pernambuco informou, nesta quinta-feira (9), que concluiu o inquérito que investiga o ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos do Estado, Pedro Eurico, por denúncia de violência doméstica contra ex-esposa, a economista aposentada Maria Eduarda Marques de Carvalho. O resultado foi remetido ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Os crimes pelos quais Eurico foi indiciado não foram divulgados pela polícia.
Em uma breve nota, a Polícia Civil afirmou que "maiores informações não podem ser repassadas em função da Lei Federal 11.340/06 (Lei Maria da Penha), com o Artigo 20 do Código de Processo Penal e o Artigo 3, parágrafo 2 da Resolução 346/2020 do Conselho Nacional de Justiça e também pela Lei de Abuso de Autoridade."
Também por nota, a assessoria do MPPE disse que os autos estão sendo analisados pela 7ª Promotoria de Justiça Criminal do Paulista.
Após a denúncia feita pela ex-mulher, em entrevista à TV Jornal, Pedro Eurico anunciou, na noite da última terça-feira (7), ter pedido afastamento do cargo público. No dia seguinte, a exoneração dele foi publicada no Diário Oficial do Estado. A economista disse ter registrados dez boletins de ocorrência por violência doméstica contra o ex-secretário desde o ano 2000.
Em nota, nesta tarde, Pedro Eurico afirmou que não iria se pronunciar sobre a conclusão do inquérito policial. "Lamento a conclusão precipitada do referido inquérito, uma vez que testemunhas fundamentais nem sequer foram ouvidas mas confio na Justiça e na elucidação total dos fatos."
DENÚNCIA
Em entrevista à TV Jornal, Maria Eduarda relatou que ao longo das duas últimas décadas, o relacionamento entre os dois foi conturbado e marcado por agressões e ameaças de morte. "Sempre acreditei que Pedro Eurico iria cumprir com o que me dizia: não ser mais violento, não ser agressivo. Mas era tapa, murro, chute...", afirmou Maria Eduarda.
O primeiro boletim de ocorrência foi registrado ainda na fase em que os dois namoravam, em 2000, na Delegacia da Mulher, na área central do Recife. Exames de corpo de delito, no Instituto de Medicina Legal (IML), confirmaram as agressões físicas.
Em 2002, segundo Maria Eduarda, a violência continuou. "Passou a me seguir, a mandar recados, ameaças. Fui levar minha mãe ao mercado, quando parei em frente à igreja, dois motoqueiros desceram, começaram a bater violentamente no meu carro, disseram que aquilo era um recado dele. Ele ameaçava, sempre dizendo que as coisas iam acontecer comigo e ninguém ia desconfiar. Sempre dizendo que ia parecer um acidente", relatou.
Um ano depois, sob promessas de mudanças, os dois se casaram. Mas já em 2006, houve a separação. "Pedi pra me separar, consegui sair de casa. Como as ameaças continuaram, fui morar em São Paulo. E fiquei separada morando em São Paulo dois ou três anos. Ele foi novamente insistir, pedir perdão, disse que nada ia mais acontecer. Voltei para o Recife e reatamos em 2008", disse.
Ela contou, no entanto, que a relação conturbada e com agressões não mudou. "Cheguei a sair do País. Mas, em 2012, precisei voltar, e casamos novamente. Era uma coisa tão terrível. Ameaças tão fortes, não sabia mais o que fazer."
Em janeiro deste ano, segundo a economista, houve a última agressão física. "Decidi: agora não dá mais. Ele passou a semana inteira batendo porta, gritando, dizendo que não ia mais aguentar esse relacionamento. Uma madrugada, ele acordou e mandou eu sair de casa. Peguei minha bolsa e sai de casa", descreveu.
Em 1º de novembro deste ano, ela voltou a procurar a polícia para registrar outra queixa. Informou que o ex-marido teria tentado invadir a casa onde ela estava morando, em Olinda. No dia seguinte, ela conseguiu uma medida protetiva expedida pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). Mas, segundo ela, cinco dias depois ele teria descumprido e tentado ir até o apartamento.
O QUE DIZ PEDRO EURICO
O posicionamento do agora ex-secretário foi por meio de nota oficial. Segue a íntegra:
"As denúncias improcedentes de agressão datam de mais de 10 anos e muitas destas foram retiradas pela suposta vítima perante a Justiça. Estivemos casados inicialmente, no período de 27 de setembro de 2003 e nos divorciamos em 30 de abril de 2008. Ao longo dos últimos anos de convivência e de um novo casamento, realizado em 2012, cujo divórcio aconteceu em 08 de novembro deste ano, inexistem denúncias apresentadas pela senhora Maria Eduarda, causando estranheza o requerimento de medida protetiva justamente no período em que se discutia a possibilidade de uma dissolução consensual. Foge à realidade a acusação de tentativa de invasão do imóvel recentemente adquirido, haja vista que fui o responsável pelo pagamento da reforma do imóvel concluída exatos três dias antes da apresentação da denúncia perante a Polícia Civil do Estado e compareci ao apartamento inabitado para verificar a conclusão dos serviços. Nesta data, fui impedido de entrar no apartamento por minha ex-esposa devido a troca das fechaduras numa patente manobra patrimonial. Lamentamos as inverdades envolvendo minha vida pessoal, e exposição na imprensa em uma sórdida trama de interesse patrimonial. Diante desses fatos, decido me afastar do comando da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos buscando preservar a instituição e me dedicar à minha defesa e ao devido esclarecimento dos fatos, junto às autoridades competentes."
O QUE DIZ O GOVERNO ESTADUAL
O Secretário executivo de coordenação e Gestão, Eduardo Figueiredo, vai responder pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco. Eduardo assume a pasta em decorrência do pedido de afastamento do secretário Pedro Eurico.