Covid-19: "O pulmão artificial salvou a minha vida", diz empresária que passou 60 dias internada para vencer a doença
Chamado no meio médico de ECMO (sigla em inglês para oxigenação por membrana extracorpórea), o pulmão artificial tem ajudado a salvar vidas ao longo da pandemia de covid-19
Durante esta segunda onda da covid-19 em Pernambuco, uma tecnologia tem se destacado como um recurso para salvar vidas de pessoas que evoluem de forma gravíssima em unidade terapia intensiva (UTI). Chamado popularmente de pulmão artificial, o aparelho desponta com o papel de aumentar a sobrevida dos pacientes. Em epidemias anteriores, como a de H1N1, em 2009, o procedimento conhecido como ECMO (sigla em inglês para oxigenação por membrana extracorpórea) deu suporte a pacientes com insuficiência respiratória aguda grave.
Agora, mais uma vez, a ECMO funciona como um pulmão extra para as pessoas com covid-19 grave, cuja função pulmonar foi muito reduzida. A administradora de empresas e empresária Noemia Resende, 43 anos, é uma das pessoas que tiveram uma evolução muito grave da covid-19 e foram beneficadas com a técnica. Ela ficou 60 dias internada no Real Hospital Português (RHP). "Entrei no dia 15 de novembro e saí em 15 de janeiro. Nesse período, tive quatro broncoaspirações, fui traqueostomizada (procedimento que consiste na abertura da traqueia para o meio externo, com inserção de um tubo para permitir a passagem do ar), precisei de hemodiálise e de várias transfusões de sangue", relata.
Ela foi entubada no dia 29 de novembro e diz que chegou a um estado muito crítico, com ambos os pulmões com mais de 50% de comprometimento. "Fiquei 20 dias em ECMO, que realmente foi o que salvou a minha vida. Lembro que, durante um momento no hospital, pedi ao médico para não desistir de mim. A toda a equipe, sou muito grata. Hoje estou bem e já voltei totalmente à minha rotina", comemora Noemia.
Na rede pública de saúde do Estado, apenas o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) faz uso da tecnologia, segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco. Hospitais privados também utilizam a máquina, que ainda pode exercer a função do coração.
"Quando o paciente não consegue obter melhora com o respirador mecânico nem com drogas que ajudam a manter o oxigênio no organismo, pode-se pensar na indicação da ECMO. Temos difundido o uso dessa tecnologia no hospital e conseguimos salvar vidas", informa a médica Verônica Monteiro, coordenadora de Terapia Intensiva Covid-19 do Real Hospital Português (RHP).
Ela destaca que, de maio até agora, 23 pessoas infectadas pelo novo coronavírus já fizeram uso do pulmão artificial no RHP, que conta com 20 profissionais certificados em ECMO. "Entre os pacientes, estão pessoas que vieram de outros Estados, como Amazonas, Paraíba e Alagoas. No hospital, temos alcançado uma taxa de sobrevida maior do que a mundial, que é de 47%." Atualmente, o RHP tem quatro pessoas que estão em tratamento com ECMO, cuja média de tempo de uso é de duas semanas. "Mas já tivemos quem ficou 41 dias com o equipamento, teve alta em bom estado de consciência e orientado", acrescenta.
No Imip, a demanda pelo pulmão artificial tem aumentado nos últimos dias. "Na última semana, instalamos cinco máquinas (para ECMO), voltadas para os pacientes com covid-19 grave. A nossa média mensal tem sido três casos que utilizam o procedimento", diz o cirurgião cardíaco Fernando Augusto Figueira.
Na visão dele, quando bem indicada, a ECMO tem se mostrado promissora para salvar a vida dos doentes que têm uma evolução muito ruim da covid-19. "Dados de mortalidade pela infecção mostram que, em média, 80% dos pacientes entubados morrem. Mas, se a ECMO for iniciada em tempo adequado, a sobrevida pode chegar a 50%. Ou seja, a máquina é um fator protetor, capaz de diminuir mortalidade por covid-19", explica Figueira. Atualmente, internados no Imip, há uma pessoa em terapia com o pulmão artifical e duas que já saíram da máquina. A equipe do cirurgião ainda acompanha outros três pacientes que também estão em tratamento com ECMO em hospitais privados.