Pernambuco notifica duas mortes por suspeita de mucormicose, o fungo negro
Os casos ainda estão sendo analisados por um comitê técnico da SES-PE para ver se preenchem os critérios da definição de quadro suspeito para a infecção fúngica
Duas mortes estão sendo investigadas com suspeita de infecção por mucormicose, uma infecção de caráter raro que ficou popularmente conhecida como "fungo preto" ou "fungo negro". De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), que divulgou a informação nesta terça-feira (29), o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância à Saúde (Cievs-PE) foi notificado, ainda nesta semana.
Ainda de acordo com a SES, os casos seguem sendo analisados por um comitê técnico da secretaria para ver se preenchem os critérios da definição de quadro suspeito para a infecção fúngica.
O que é o fungo preto?
A mucormicose é uma doença conhecida há mais de um século, causada por fungos da ordem Mucorales, que têm dezenas de espécies e que existem por toda a parte. Assim como outros fungos potencialmente inalatórios, afeta comumente pacientes com o sistema imunológico debilitado, podendo acometer nariz e outras mucosas. Os sintomas variam de acordo com a localização da infecção. Nos pulmões, pode haver tosse, expectoração e falta de ar. Na face e nos olhos, pode ocorrer vermelhidão intensa e inchaço.
A causa dessa enfermidade é a inalação dos esporos dessas espécies de fungo, que estão normalmente presentes no ambiente, com destaque para locais com matéria orgânica em decomposição no solo, plantas, excrementos de animais e outras. Casos são raros, mas não são inusitados. Estão mais vulneráveis a essa doença fúngica, principalmente, os imunodeprimidos (idosos, diabéticos, pacientes oncológicos, transplantados, casos de Aids não controlada, pessoas em tratamento quimioterápico e/ou com uso de corticoides). O tratamento para a doença depende do avanço da infecção e inclui remoção cirúrgica dos tecidos necróticos e uso de drogas antifúngicas de uso intra-hospitalar. O diagnóstico, após a suspeita clinica, é feito com biópsia do local afetado para microscopia e cultivo.
O responsável técnico pelo Ambulatório de Micologia e Imunobiológicos do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Felipe Prohaska, esclarece a relação da infecção 'fungo preto' com a doença da covid-19. "Acreditamos que na situação da covid-19 provavelmente o vírus deve baixar a imunidade", explica Felipe. "O tratamento que se faz é com uso de corticoide, que é uma das coisas que favorece o surgimento. Se você faz corticoide, numa dose muito alta, por um tempo muito prolongado desregula a glicose e pode causar diabetes. Juntando a imunossupressão do corticoide com a desregulação da glicose causada pela diabetes num paciente imunossuprimido pós-viral pode surgir o famoso fungo negro”, concluiu.
Pernambuco registra caso de 'fungo preto' em paciente que teve covid-19
No último dia 6, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) informou que foi notificada pelo Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), no Recife, a respeito de um caso de infecção por mucormicose, quadro conhecido popularmente como “fungo preto”. A infecção acometeu uma paciente de 59 anos moradora de Casinhas, no Agreste do Estado, diabética, hipertensa, asmática e obesa. Ela teve diagnóstico de covid-19 confirmado em março, além de ter desenvolvido, em seguida, pneumonia bacteriana. A pasta comunicou o Ministério da Saúde e investiga a possível associação da doença com o novo coronavírus.
Na ocasião, o infectologista Demetrius Montenegro, chefe do setor de doenças infectocontagiosas do Oswaldo Cruz, destacou que a doença ocorre em pessoas com baixa imunidade e que a diabetes é uma comorbidade de risco tanto para covid-19 quanto para a infecção pelo fungo. “A mucormicose é uma doença já conhecida, que ocorre em todo o mundo. Apesar da gravidade, a doença não passa de uma pessoa para outra e o diagnóstico precoce é o mais importante, para evitar a necrose dos tecidos infectados pelo fungo”, disse.