Transplante de coração: a missão de salvar vidas abraçada pioneiramente em Pernambuco, por Carlos Moraes, completa 30 anos
Referência no País, Pernambuco celebra os 30 anos do primeiro transplante cardíaco realizado no Estado, em agosto de 1991, pelo médico Carlos Moraes
Aos 80 anos, o médico cirurgião Carlos Moraes caminha pelos corredores do Real Hospital Português (RHP), no bairro de Paissandu, área central do Recife, carregando um coração cheio de histórias reais e emocionantes sobre renascimento. Muitas delas, contadas ao longo dos últimos 30 anos, revelam como o universo do transplante cardíaco possibilita, aos pacientes, recomeçarem a vida, quantas vezes for preciso. Na tarde desta quinta-feira (19), no Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), no bairro do Espinheiro, Zona Norte da cidade, Carlos Moraes recebe colegas, pacientes e parentes para marcar os 30 anos do primeiro transplante cardíaco do Estado, realizado por ele.
"Meu filho (o também cirurgião Fernando Moraes) sempre fala que, nos últimos 30 anos, nós permanecemos em sobreaviso. E graças a essa condição, conseguimos, além de realizar os transplantes de coração, beneficiar muitos outros pacientes que nem precisam desse procedimento. Sabe por quê? Somos uma equipe acostumada a tratar doentes graves. Então, quem chega ao hospital numa condição mais severa também conta com nosso apoio, porque sempre há plantonistas do nosso programa à disposição", relata Carlos Moraes. Para isso, ele diz contar sempre com um grande apoio do RHP.
Desde o primeiro transplante cardíaco de Pernambuco, realizado em agosto de 1991, Carlos Moraes soma 221 pacientes, de diversas faixas etárias, que passaram por esse procedimento e ganharam nova força no RHP, por terem recebido um novo coração, sob os cuidados da equipe comandada pelo médico. Os procedimentos também só foram possíveis porque famílias conseguiram se deixar tocar pela generosidade e dizer sim à doação de órgãos. É um consentimento que possibilita a transformação da dor da morte no renascimento de outras vidas. "Nunca interrompemos o programa nestes 30 anos", frisa Carlos Moraes, que também instituiu, em 2012, o programa de transplante cardíaco do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), localizado na Boa Vista, área central do Recife. Na instituição, de 2012 a 2014, a equipe do médico realizou 49 transplantes de coração, sendo seis deles em crianças.
Ao contar sobre a trajetória profissional, Carlos Moraes também ressalta que, antes da criação da Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE), em 1995, as adversidades eram imensas na área. "Mas, depois de instituída a central, tudo evoluiu melhor. E aqui destaco o papel de Noemy Gomes, que é atual coordenadora da CT-PE (leia matéria abaixo)." Tanto Carlos quanto Noemy falam sobre a agilidade que é necessária para a realização do transplante cardíaco. E nesse quesito, a tecnologia, a evolução da medicina, o planejamento e a humanização formam um quarteto necessário para o procedimento acontecer. Como pode, por exemplo, o coração de um doador voltar a bater no peito de uma outra pessoa no curto tempo de quatro horas?
A resposta a essa pergunta vem quando conhecemos o motorista aposentado Sílvio Mesquita de Assunção, 55 anos. Ele é o paciente número 59 de Carlos Moraes. Já passou por dois transplantes de coração e um de rim. O primeiro procedimento cardíaco foi feito em fevereiro de 2003. Ele conta que, dois anos antes, começou a apresentar sintomas sugestivos de infarto. Procurou uma emergência hospitalar, onde foi orientando a ir a um cardiologista.
"Eu me sentia muito cansado e, meses antes do transplante, não conseguia realizar minhas atividades sem ajuda, como tomar banho. Mas, após ganhar um novo coração, ganhei outra vida. Sete anos depois, em 2010, tive outro problema e precisei passar por mais um transplante cardíaco. Voltou todo o filme na minha cabeça, mas não deixei de ter esperanças. Hoje, com o retransplante, continuo bem. Sou muito grato aos médicos, aos demais profissionais de saúde, a Deus e às famílias dos meus doadores. Se não fossem eles, não estaria contando hoje a minha história", comemora Sílvio.