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"O uso de cigarros eletrônicos causa doenças pulmonares graves", alerta pneumologista no dia de combate ao fumo

Pesquisas mostram que o cigarro eletrônico aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação de cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco de uso do cigarro

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Cinthya Leite

Publicado em 29/08/2021 às 9:32 | Atualizado em 29/08/2021 às 9:34
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Neste Dia Nacional de Combate ao Fumo, cujo objetivo é reforçar ações de conscientização sobre os danos causados pelo tabaco, vale o alerta trazido pelo médico pneumologista Murilo Guimarães: "Está cientificamente provado que o uso de cigarros eletrônicos causa doenças pulmonares graves. Nunca se deve ceder a esse dispositivo". 

Leia também: Cringe mesmo é fumar, diz Inca em dia de combate ao tabagismo

Um estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostrou exatamente que há riscos à saúde pelo uso de cigarro eletrônico. O uso dele aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação de cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco de uso do cigarro, segundo a pesquisa. “Nossos resultados mostram que o cigarro eletrônico aumenta a chance de iniciação do uso do cigarro convencional entre aqueles que nunca fumaram, contribuindo para a desaceleração da queda no número de fumantes no Brasil”, destaca a coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca, a médica epidemiologista Liz Almeida.

Os pesquisadores analisaram 22 estudos de diferentes países sobre o tema, totalizando 97.659 participantes. Sobre o uso do cigarro convencional, nos últimos 30 dias foram analisados nove estudos com 33.741 indivíduos. Todas as pesquisas foram publicadas entre 2016 e 2020.

Os cigarros eletrônicos expõem o organismo a uma variedade de elementos químicos gerados de formas diferentes. Uma pelo próprio dispositivo (nanopartículas de metal), e a outra tem relação direta com o processo de aquecimento ou vaporização, já que alguns produtos contidos no vapor de cigarros eletrônicos incluem carcinógenos conhecidos e substâncias citotóxicas, potencialmente causadoras de doenças pulmonares e cardiovasculares. 

A iniciação do uso do cigarro convencional, a partir do uso do cigarro eletrônico, pode ser explicada pelo fato de que cigarros eletrônicos com nicotina podem levar à dependência dessa substância e à procura por outros produtos de tabaco, aponta Liz Almeida. “Além disso, a utilização do dispositivo eletrônico repete os comportamentos de uso do cigarro convencional, como os movimentos mão-boca, inalação e expiração", ressalta. 

Proibição

Apesar da comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos serem proibidas no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária desde 2009 (RDC 46, de 28/08/09), esses produtos são vendidos ilegalmente pela internet, no comércio informal ou ainda podem ser adquiridos no exterior para uso pessoal. A Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 apontou que 0,6% da população já utilizava dispositivos eletrônicos para fumar no País, naquele ano.

O tabagismo é um dos principais fatores de risco evitáveis e responsável por mortes, doenças e alto custo para o sistema de saúde, além da diminuição da qualidade de vida do cidadão e da sociedade. Não há nível seguro de exposição ao tabagismo passivo. A única maneira de proteger adequadamente fumantes e não fumantes é eliminar completamente o uso de produtos fumados de tabaco em ambientes fechados.

Cringe mesmo é fumar

Além de destacar os malefícios do tabagismo através de números, a campanha do Inca usa uma palavra que tem se tornado popular nos últimos meses: cringe — de origem inglesa, refere-se a situações desconfortantes e constrangedoras. Após internautas tornarem popular o termo, que significa algo como vergonhoso (em tradução livre), o Inca criou cards para redes sociais que dizem: "Cringe mesmo é fumar". De fato, o cigarro e similares estão, cada vez mais, virando um retrato de um vício fora de moda.

Ainda assim, há pessoas que continuam a precisar de ajuda para dizer não ao tabaco, especialmente durante esta pandemia — momento em que se observa queda em procura por tratamento contra o tabagismo. Dados coletados pelo Programa Nacional de Controle do Tabagismo, coordenado pelo Inca, revelam que a redução do número de pessoas que buscaram tratamento, durante o ano de 2020, foi de 66% em nível nacional, em comparação com 2019. O impacto variou nas regiões do País: 59% no Norte, 68% no Sudeste, 66% no Nordeste, 63% no Centro-Oeste e 62% no Sul. Os números estão no relatório Tratamento do Tabagismo no SUS durante a Pandemia de Covid-19.

"A pandemia mudou tudo. As pessoas que fumam deixaram de vir aos consultórios. Agora, a procura para tratamento aumentou um pouco, mas ainda não é a demanda que tínhamos antes da covid-19", diz o pneumologista Murilo Guimarães. A perda de pacientes, desde o início da pandemia, explica-se por vários fatores. Entre eles, estão incentivo para ficar em casa, fuga de aglomerações, redução da própria força de trabalho da saúde (direcionada às ações de combate ao coronavírus) e sedentarismo, entre outras condições. "Estamos refinando a análise para entender por que alguns Estados tiveram perda menor e outros, uma perda maior", informa a coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca, Liz Almeida.

Infelizmente o tabagismo mata, a cada ano, no Brasil, 162 mil pessoas e custa R$ 125 bilhões aos cofres públicos. Esse valor é destinado a cobrir despesas diretas e indiretas com doenças causadas pelo cigarro. Isso equivale a 23% do que o Brasil gastou, em 2020, com o enfrentamento à covid-19. O alto custo do tabagismo não inclui os gastos do SUS para tratar a dependência de nicotina. Outro detalhe é que ainda enfrentamos a covid-19, e o tabagismo se mostrou fator de risco para o agravamento de sintomas da infecção. "Percebemos o quanto o cigarro faz com que as pessoas com covid-19 tenham uma pior evolução do quadro e maiores complicações", frisa Murilo.

Para frear o tabagismo, é necessário adotar uma série de estratégias, como avançar no controle de vendas para crianças e adolescentes, oferecer acesso a programas de educação e conscientização sobre os riscos que os produtos derivados de tabaco acarretam à saúde, bem como oferecer programas de formação voltados aos profissionais da saúde.

No Brasil, são registrados anualmente cerca de 30 mil novos casos de tabagismo. Em cerca de 80% dos casos, o câncer de pulmão está associado ao consumo de tabaco. A nicotina, principal substância do cigarro, pode levar também ao surgimento de outros problemas, como infarto, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e acidente vascular cerebral (AVC). A questão é que parar de fumar não é fácil, pois se trata de uma dependência psíquica e química. Por isso, o tratamento deve ser acompanhado por um médico e outros profissionais de saúde. "Além de o tabagismo gerar uma dependência química e física, traz uma dependência psicológica. Esse é o motivo pelo qual, mesmo sabendo que o cigarro traz malefícios, ainda há pessoas que consomem e fazem uso do cigarro rotineiramente. É preciso que o paciente esteja motivado e busque tratar situações como ansiedade e depressão", explica o cardiologista Marco Antonio Alves, do Hospital Esperança Recife.

A prática de atividade física também é fundamental para ajudar a parar de fumar, pois libera dopamina, substância que proporciona prazer ao corpo, substituindo a sensação provocada pelo cigarro. Medicações também podem ser usadas. "Há adesivos e chicletes de nicotina que podem ser terapia adicional ao uso de comprimidos, sempre com orientação médica", acrescenta Marco Antonio.

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