COLUNA JC SAÚDE E BEM-ESTAR

TDAH: tire as suas principais dúvidas sobre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade

O distúrbio, que acomete de 3% a 5% das crianças, ainda é rodeado de estigmas e pode persistir na vida adulta

Imagem do autor
Cadastrado por

Cinthya Leite

Publicado em 21/09/2021 às 7:04
Notícia
X

Ele geralmente aparece na infância, originado de causas genéticas, e acompanha o paciente até a vida adulta, com sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Estamos falando do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, mais conhecido pela sua sigla: TDAH. O distúrbio acomete de 3% a 5% das crianças em todo o mundo e ainda é rodeado de preconceitos e estigmas. Infelizmente, há quem ainda não considere o TDAH como uma doença e acredita que o transtorno não existe. Consequentemente, essa percepção dificulta a busca por tratamento médico, comumente por falta de informação adequada sobre o tema.

Para tirar dúvidas sobre o assunto, selecionamos as principais perguntas e respostas da cartilha da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA). 

Confira:

O que é hiperatividade?

É o aumento da atividade motora. A pessoa hiperativa é inquieta e está quase constantemente em movimento. Quando se trata de criança, os professores descrevem que ela se levanta da carteira a todo instante, mexe com um ou com outro, fala muito. Parece que é elétrica ou que está com um motorzinho ligado o tempo todo. Raramente consegue ficar sentada, mas se é obrigada a permanecer sentada, se revira, bate com os pés, mexe com as mãos ou, então, acaba adormecendo. Dificilmente consegue se interessar por uma brincadeira em que tenha que ficar quieta, mas está sempre correndo, subindo em móveis, árvores e frequentemente em locais perigosos. Uma criança mais hiperativa nem mesmo para comer consegue sentar, quanto mais para assistir a um programa de televisão, ler um livro ou uma revista.

Como aparece a hiperatividade num adolescente ou num adulto?

Adolescentes e adultos hiperativos costumam se mostrar de forma um pouco diferente das crianças, pois é próprio dessas idades mais avançadas uma redução normal da atividade motora. Então, muitas vezes o que predomina, no adolescente e no adulto, é uma sensação interna de inquietação, ou eles se mostram sempre ocupados com alguma coisa, dando a impressão de estarem sempre muito atarefados, quando na verdade o que ocorre é uma dificuldade em diminuir o nível de atividade. Adultos têm dificuldade em sair de férias, ou comumente se ocupam com várias atividades ao mesmo tempo, na maior parte das vezes sem conseguir completar nenhuma delas.

Hiperatividade é sinônimo de TDAH?

Não. A rigor, hiperatividade significa apenas o aumento da atividade motora, que pode ser encontrada em diversos transtornos psíquicos, como o autismo, o transtorno bipolar e em certos quadros ansiosos. A hiperatividade também pode ocorrer em decorrência de certas doenças físicas (por exemplo, o hipertireoidismo), mas raramente pode ser causada por alguns
medicamentos.

O que é impulsividade?

É a deficiência no controle dos impulsos, é “agir antes de pensar”. Podemos entender impulso como a resposta automática e imediata a um estímulo. Por exemplo, se vemos alguma coisa apetitosa, queremos comê-la; se estamos de dieta, temos que controlar o impulso. Se alguém nos incomoda ou agride, nosso impulso é afastá-lo ou revidar, agredindo-o de volta; mas isto pode ser algo ruim para todos e deve ser controlado. Se observarmos uma criança pequena, fica fácil ter uma ideia do que é impulsividade, porque nessa fase ela naturalmente ainda não desenvolveu nenhum controle dos seus impulsos. Em outras palavras, ela não tem freio. Somente à medida em que a criança cresce é que a educação vai criando esse freio interno, através de um processo de inibição da resposta imediata. No TDAH, as reações tendem a ser imediatas, sem reflexão.

E a desatenção, como se apresenta?

A falha da atenção pode aparecer de diversas formas. A pessoa não consegue manter a concentração por muito tempo, se começar a ler um livro, na metade da página não consegue lembrar o que acabou de ler. Até mesmo numa conversa é capaz de perder o fio da meada. A desatenção é responsável por erros tolos que o estudante comete em matérias que ele seguramente domina, mas que no momento da prova sua atenção caiu. Outras vezes, a mente da pessoa com TDAH parece que não tem um “filtro”, por isso, qualquer estímulo é capaz de desviar sua atenção. Assim é que numa aula, por exemplo, basta passar alguém no corredor ou acontecer um ruído na rua para deixar a pessoa perdida em relação ao que está sendo falado pelo professor. Outra forma de falha da atenção é quando a pessoa não é capaz de dar um recado, simplesmente por não se lembrar disso no exato momento em que encontra a pessoa a quem deve dar o recado. No entanto, basta alguém perguntar qual o recado que ela ficou de transmitir que frequentemente irá lembrá-lo.

A desorganização é comum no TDAH?

A pessoa com TDAH é comumente muito desorganizada, devido à falha da atenção e à hiperatividade. Por isso, frequentemente perde ou não sabe onde colocou objetos, como canetas, óculos, livros, chaves e telefone celular. Não é raro depois achar esses mesmos objetos nos locais mais estranhos, porque foram inadvertidamente colocados ali num momento de distração, quando outro estímulo desviou a atenção do que a pessoa estava fazendo.

O TDAH sempre se acompanha de hiperatividade?

TDAH e hiperatividade não são sinônimos, embora seja comum se dizer que uma determinada pessoa é hiperativa quando, se quer dizer, que ela apresenta TDAH. Por outro lado, toda pessoa com TDAH é desatenta (embora exista desatenção em vários outros transtornos, como a depressão e a ansiedade). Na maioria das vezes, a pessoa com TDAH é hiperativa sim, mas nem sempre isso acontece. Em muitos casos, o TDAH se apresenta sem muitos sinais de hiperatividade.

Os sinais do TDAH costumam desaparecer após a adolescência?

Antigamente, era exatamente isso que a ciência acreditava: que as manifestações clínicas desapareciam espontaneamente quando a pessoa alcançava a adolescência ou se aproximava da idade adulta. Todavia, estudos mais recentes vieram comprovar que as características desse transtorno persistem na
adolescência e chegam até a idade adulta, perdurando, em maior ou menor grau, por toda a vida da pessoa.

Em que idade começa o TDAH?

As manifestações sempre têm início na infância. Geralmente, os pais contam que, desde o berço, notavam um bebê agitado e inquieto, que tinha uma dificuldade para adormecer ou então que chorava demais e não tolerava frustração. Para o diagnóstico, feito por um médico, é necessário que os sintomas estejam presentes antes dos 12 anos de idade.

Com que frequência ocorre o TDAH?

Existem diversas estatísticas, e a frequência com que se observa o transtorno entre as crianças varia de 3% a 10% da população infantil. Nos adultos, estima-se ser em torno de 4%. Pensa-se que, em cada sala de aula, deve existir pelo menos uma criança com o transtorno.

Como é feito o diagnóstico?

O médico chega ao diagnóstico colhendo uma história da vida da pessoa, geralmente com a ajuda dos pais (no caso de crianças) e com a ajuda do marido ou da mulher (no caso de adultos). O especialista geralmente usa questionários que podem ser listas de verificação de sintomas ou escalas de avaliação. Sempre se procura verificar se o caso atende a determinados critérios que tratam do transtorno. Esses critérios diagnósticos são estabelecidos pela Associação Psiquiátrica Americana ou pela Organização Mundial de Saúde.

Quais os comprometimentos que os sintomas do TDAH (desatenção, hiperatividade e impulsividade) podem causar?

1. Dificuldade no rendimento escolar é uma das primeiras consequências desse transtorno
2. Dificuldades de relacionamento são frequentes
3. Em função dessas situações expostas nos dois itens anteriores, a regra é a pessoa desenvolver uma baixa
autoestima
4. Problemas profissionais, como mudanças frequentes
de trabalho, demissões e nível de realização abaixo da
sua capacidade não são raros
5. As pessoas com TDAH são mais propensas ao uso de álcool e drogas, até porque essas substâncias podem atenuar passageiramente alguns sintomas do transtorno
6. Estatisticamente, sabe-se também que essas pessoas são mais propensas a vários tipos de acidentes, em particular os acidentes de trânsito
7. Essas pessoas apresentam um risco maior de desenvolverem outros transtornos, como depressão e ansiedade

O TDAH frequentemente ocorre acompanhado de outros transtornos?

Estima-se que até 70% das crianças com TDAH apresentam simultaneamente outros transtornos, assim como os adultos que também costumam apresentar um número elevado de outros transtornos simultâneos. Entre eles, estão distúrbios do aprendizado (podem aparecer com dificuldade para leitura, escrita e matemática). Há ainda o transtorno de desafio e oposição e transtorno de conduta, tiques, transtornos ansiosos (pânico, fobia social e transtorno de ansiedade generalizada), transtornos do humor (depressão, distimia e transtorno bipolar), abuso de drogas e alcoolismo.

Qual o tratamento do TDAH?

O primeiro passo e talvez o mais importante de todos é o conhecimento. A própria pessoa, os pais, os maridos, as esposas, os professores, enfim, todos precisam aprender sobre TDAH, saber como ele se apresenta, como isso compromete o modo da pessoa ser e agir no cotidiano, suas reações e principalmente que isso não é culpa de ninguém, nem da pessoa e nem de seus pais. Ou seja, o programa de tratamento deve sempre incluir informação e conhecimento, medicação e recursos psicoterápicos. 

Tags

Autor