Especialistas dizem que restrições em Pernambuco são tardias e que festas seguirão espalhando vírus
Para médico infectologista, neste momento atual, "o mais adequado seria cancelar todas as festas. E não precisaria ser por um longo período"
Após o anúncio de restrições a grandes eventos com aglomeração, que certamente foram também responsáveis por disseminar a variante ômicron em Pernambuco, profissionais de saúde fazem críticas ao que foi divulgado na segunda-feira (7), por nota, pelo governo estadual. Integrantes do Gabinete de Enfrentamento à Covid-19 optaram por cancelar o ponto facultativo durante o Carnaval e definiram que o limite de pessoas, em eventos no Estado de Pernambuco, será reduzido de 3.000 para 500 pessoas em locais abertos, e de 1.000 para 300 em locais fechados. As medidas valem a partir desta quarta-feira (9) e vão até o dia 1° de março.
"Depois de dois finais de semana com eventos privados, ajudando a espalhar o vírus em meio à alta de casos, superlotação de hospitais e suspensão de férias, o governo de Pernambuco anuncia novas restrições. Eventos fechados: até 300 pessoas. Eventos abertos: até 500 pessoas", critica, no Twitter, o médico infectologista Bruno Ishigami, que diariamente analisa o cenário epidemiológico da covid-19 nas redes sociais e sugere condutas que podem ser adotadas pela população, profissionais e autoridades sanitárias.
Também médico, Demetrius Montenegro, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), analisa que a redução no número de pessoas permitidas nos eventos traz um impacto em termos de transmissão do vírus. "A propagação será menor com essas restrições. Como epidemiologista e infectologista não vejo, no momento, a necessidade de um lockdown. Mas, neste momento atual, o mais adequado seria cancelar todas as festas. E não precisaria ser por um longo período. Ajudaria demais se não houvesse eventos por cerca de 15 dias. Passado esse período, a liberação seria aos poucos", diz Demetrius. Recentemente, no Instagram, ele fez duras críticas às festas realizadas - que, na visão dele, são "incubadoras de vírus".
"Acho uma lástima e fico preocupado com as aglomeração em festas, não importa o número de pessoas, até porque esse número só me mostra o tamanho da incubadora de vírus e de quantos infectados e infectantes podem de lá sair. Além disso, existem os que negam, os que escondem sintomas e o pior, os que testam positivo e não cumprem o isolamento. Verdadeira falta de consciência sanitária e de empatia e quiçá crime!", ressalta Demetrius. "Alguns vão falar no transporte público. Bem, isso é outro caso, é o inevitável. Mas, se controlarmos o evitável, incluindo a melhora da cobertura vacinal entre adultos e crianças, a chance de novas variantes diminuirá. Caso contrário, não sairemos nunca dessa Caverna do Dragão."
Na segunda-feira (7), por meio de nota, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, informou que reconhece "todas as repercussões econômicas, sociais e culturais em torno desta decisão, mas não há condições sanitárias para que seja realizada qualquer tipo de festividade, no período de Carnaval, em Pernambuco. Além disso, reduzimos a capacidade dos eventos de 3 mil para 500 pessoas e não descartamos tomar outras medidas restritivas, caso o número de casos continue em crescimento acelerado."
Nos eventos acima de 300 pessoas, será exigida a apresentação de teste negativo de covid-19, além do passaporte vacinal. Para eventos corporativos, que não são festivos, o limite será de até 1.500 participantes.
Segundo o governo de Pernambuco, a variante ômicron do coronavírus continua em franca aceleração no Estado. Isso tem impactado no aumento de positividade e, consequentemente, de hospitalizações e óbitos, principalmente em não vacinados.
Atualmente, 919 pacientes estão internados com quadros respiratórios graves nos leitos de terapia intensiva (UTI) na rede pública, mesmo patamar de julho do ano passado. Além disso, a média móvel de confirmações diárias de novos óbitos no Estado chegou a 13,2 nesta segunda-feira (7) – um aumento de 128%, em comparação com a de 14 dias atrás.
"Este cenário de aceleração exponencial da variante ômicron impõe a adoção de novas medidas restritivas dentro do nosso Plano de Convivência. Por determinação do Governador Paulo Câmara, vamos continuar trabalhando para minimizar os impactos da doença, com a contratação de profissionais de saúde e a abertura de novos leitos", destacou o secretário Estadual de Saúde, André Longo. "Mas só os esforços do Governo do Estado não serão suficientes para diminuir a circulação viral e superar o vírus. Precisamos, então, do engajamento da sociedade, com o respeito aos protocolos, o reforço nos cuidados e principalmente com a vacinação", acrescentou.