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Maternidade no Recife tem surto de infecção respiratória em recém-nascidos

Em meio ao avanço dos vírus respiratórios em Pernambuco, alojamento canguru confirmou adoecimento de bebês infectados pelo vírus sincicial respiratório, o causador da bronquiolite

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Cinthya Leite

Publicado em 26/05/2022 às 21:38 | Atualizado em 26/05/2022 às 22:11
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O cenário de gravidade das doenças respiratórias que ocorre há semanas, em Pernambuco, chegou ao alojamento canguru do Centro Integrado de Saúde Amauri de Medeiros (Cisam), conhecido como Maternidade da Encruzilhada, na Zona Norte do Recife. Nesse setor da unidade, que conta com seis leitos, ficam os recém-nascidos de baixo peso ao nascer ou que chegaram ao mundo antes do tempo adequado - condição chamada de prematuridade. 

Em meio ao avanço dos vírus respiratórios, o alojamento canguru do Cisam confirmou cinco bebês infectados pelo vírus sincicial respiratório (VSR), o causador da bronquiolite, um dos principais agentes envolvidos no adoecimento das crianças pequenas atualmente no Estado. "O primeiro paciente iniciou os sintomas no dia 12 deste mês. A hipótese é que tenha se infectado com alguém que possa ter visitado o espaço com quadro gripal. A mãe dele também ficou doente. Fizemos testes de covid e influenza, que foram negativos", relata o infectologista João Paulo França, da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). 

O médico diz que, na sequência, apareceu um segundo caso em bebê. "Este está mais delicado, pois ele teve um quadro gripal seguido de uma pneumonia. Está grave, em unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal, intubado, fazendo uso de antibiótico. Felizmente ele vem apresentando melhora do quadro." 

Em seguida, um terceiro bebê manifestou o quadro infeccioso e contaminou o irmão gêmeo. "Dessa maneira, com quatro casos, percebemos que foi a hora de parar a admissão de novos bebês e suas mães no alojamento canguru e descobrimos que o causador do surto é o VSR", informa João Paulo.

Ele acrescenta que, no último domingo (22), um quinto caso em recém-nascido foi detectado. E na terça-feira (24), uma mãe apareceu com sintomas. "Assim, o alojamento canguru está fechado para novos internamentos. Já fizemos a desinfecção, e estamos trabalhando com a data máxima de 30 de maio para reabrir o setor."

Segundo informa João Paulo, quatro bebês se recuperam bem da infecção respiratória. Alguns precisaram de assistência em unidade de cuidados intermediários (UCI), onde é possível fazer isolamento para evitar a disseminação do vírus. O recém-nascido que teve um quadro mais severo permanece em UTI e tem respondido bem ao tratamento. 

Outra condição também tem preocupado bastante o infectologista: a quantidade de mulheres internadas no Cisam com gestação de alto risco, que têm maior risco de ter parto prematuro e bebês com condições que necessitam de UCI e UTI. "Como essas crianças vão nascer? Estamos com todos os leitos ocupados, sem vagas", lamenta.

Ao todo, o Cisam está atualmente com 41 mulheres (a maioria grávida), o que denota um cenário de superlotação. Desse total, 21 mulheres estão nos corredores. "E só na UCI, que tem 15 vagas para recém-nascidos, estamos com 29, apresentando quadros diversos, como prematuridade, infecções neonatais e problemas gastrointestinais", acrescenta.  

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), em crianças pequenas, de até 2 anos de idade, o vírus sincicial respiratório (VSR), um dos principais agentes de uma infecção aguda nas vias respiratórias, corresponde a mais de 40% dos quadros em Pernambuco. E, nas crianças maiores, o rinovírus humano corresponde a 20% dos casos na faixa etária entre 3 e 5 anos e 66% nas crianças entre 6 e 9 anos.

Aumenta a fila de espera por UTI para recém-nascidos 

Atualmente, em Pernambuco, a ocupação geral dos leitos para bebês e crianças com quadros respiratórios está em 79%: são 73% nas vagas de enfermaria e 85% nas de terapia intensiva (UTI).

Nesta quinta-feira (26), há 57 crianças na fila de leitos de UTI pediátrica e 16 recém-nascidos (até 28º dia de vida) aguardam transferência para vaga em UTI neonatal.

Dos 153 leitos de UTI infantis para síndrome respiratória aguda grave na rede estadual de saúde, 59 podem receber recém-nascidos (até o 28º dia de vida). Eles estão concentrados no Grande Recife: Hospital Barão de Lucena (HBL), Maria Lucinda (HML) e Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip). No interior, só há leito de UTI neonatal na Maternidade Santa Maria, em Araripina, no Sertão. Dos leitos abertos nesta semana, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), os 10 do Hospital Maria Lucinda têm esse perfil.

Em nota, a SES informa que acertou a abertura de 10 novos leitos neonatais no Hospital Memorial Guararapes (rede contratualizada), em Jaboatão dos Guararapes, para esta semana. Outros 10 devem ser colocados em operação no Imip na próxima semana. "No entanto, é importante destacar que as unidades ainda estão tentando fechar as equipes para garantir o funcionamento destas vagas", acrescenta.

A secretaria ressalta que "o quadro de escassez de pediatras, intensivistas pediátricos e neonatais é uma realidade de todo o País, tanto na rede pública como na privada". Em Pernambuco, por ano, são formados, em média, apenas dois intensivistas pediátricos, menos de dez neonatologistas e pouco mais de 30 pediatras.

"Apesar do número de leitos de UTI infantis ter praticamente triplicado em relação à sazonalidade de 2021, o número de solicitações de terapia intensiva passou de 64 por semana no ano passado para 228 na semana passada, ou seja, um aumento de 3,5 vezes", finaliza a SES. 

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