Números oficiais da China não refletem realidade de surto de covid, diz OMS
Apesar da onda de casos, o país registra oficialmente poucas mortes ligadas à covid-19 em razão de uma polêmica mudança na metodologia de contagem
Da AFP
A Organização Mundial da Saúde (OMS) criticou, nesta quarta-feira (4), a nova definição da China para mortes por covid-19, considerando-a "muito reduzida", e afirmou que as estatísticas oficiais não refletem o verdadeiro impacto do surto atual no país.
A OMS insistiu que apoia a exigência de testes negativos de covid-19 para viajantes provenientes da China, uma medida imposta por vários países.
"Acreditamos que os números atuais publicados pela China sub-representam o impacto real da doença em termos de internações hospitalares, internações em terapia intensiva e, principalmente, em termos de mortes", declarou Michael Ryan, diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS.
A China enfrenta atualmente seu pior surto de infecções após a suspensão de sua política de "covid zero" no início de dezembro.
Apesar da onda de casos, o país registra oficialmente poucas mortes ligadas à covid-19 em razão de uma polêmica mudança na metodologia de contagem.
Agora, apenas as pessoas que morrem em decorrência direta de insuficiência respiratória ligada ao coronavírus são contabilizadas nas estatísticas.
"Consideramos que esta definição é muito restrita", disse Ryan.
"Continuamos a pedir à China dados mais rápidos, regulares e confiáveis sobre internações e mortes, bem como o sequenciamento mais completo e em tempo real do vírus", enfatizou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva nesta quarta-feira.
"Esses números são úteis para a OMS e para o mundo inteiro, e pedimos a todos os países que os compartilhem. Os dados continuam sendo essenciais para que a OMS possa fazer avaliações regulares, rápidas e robustas dos riscos associados à situação atual e adaptar seus conselhos e orientações de acordo", explicou.
"Com uma circulação tão alta (do vírus) na China e a ausência de dados completos (...) é compreensível que alguns países tomem medidas restritivas", continuou Tedros.
Os Estados Unidos exigirão testes negativos para a maioria dos viajantes provenientes da China a partir de quinta-feira. Para Washington, a medida é resultado da falta de transparência de Pequim.
A OMS está "na melhor posição para fazer uma avaliação" graças aos seus contatos com as autoridades chinesas, julgou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price.
A China condenou as novas restrições impostas por uma dúzia de países na terça-feira e alertou que pode tomar "contramedidas" em retaliação.
Tomamos as medidas que consideramos justificadas, adaptadas à evolução da situação na China e com base nas discussões entre os nossos especialistas", afirmou nesta quarta-feira uma porta-voz da Comissão Europeia, o braço executivo da UE.
Na semana passada, Espanha, Itália e França decidiram unilateralmente exigir testes negativos para viajantes oriundos da China.
Da noite para o dia, os Estados membros da UE concordaram em coordenar sua resposta à explosão de casos na China. Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça também responderão de forma coordenada com os países do bloco europeu.
A UE incentiva os países que integram o bloco a exigir testes negativos de covid-19 realizados até 48 horas antes dos viajantes deixarem a China.
A UE concordou em sugerir que os viajantes usem "uma máscara" e sejam submetidos a "testes aleatórios" na chegada. Também é a favor do controle das "águas residuais de aeroportos com voos internacionais e aviões que chegam da China", segundo um comunicado da presidência sueca da UE.
Embora os Estados membros tenham liberdade para implementar as recomendações adotadas a nível da UE, "todos entendem que, se não agirmos juntos, haverá falhas no sistema", acrescentou um porta-voz da Comissão.