HANSENÍASE TRANSMISSÃO: doença negligenciada, hanseníase ATACA PELE E NERVOS; entenda
Em 2022, foram detectados quase 216 mil casos em todo o mundo, em particular no Brasil e Índia, segundo a OMS
Com informações da AFP e da Sociedade Brasileira de Dermatologia
Ainda no século 19, o médico norueguês Gerhard Armauer Hansen, pesquisador de saúde pública, conseguiu identificar o bacilo causador da hanseníase que, séculos atrás, já carregava preconceito, segregação e era chamada de lepra, em tom pejorativo.
Pelo sobrenome do pesquisador, a doença passou a ser chamada hanseníase.
Passados quase 150 anos, profissionais da saúde ainda lutam promovendo campanhas de esclarecimento para desmitificar a hanseníase.
Apesar dos tratamentos existentes, a hanseníase continua a infectar milhares de pessoas a cada ano, em particular nos países pobres.
Embora existam pesquisas, poucos laboratórios dedicam recursos à doença.
A hanseníase tem o triste privilégio de ser uma das 20 enfermidades tropicais que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerada negligenciadas.
O QUE É QUE CAUSA A HANSENÍASE?
Causada pelo bacilo 'Mycobacterium leprae', a hanseníase é uma doença transmissível que ataca a pele e os nervos periféricos, com sequelas potencialmente graves.
"A hanseníase pode estar em qualquer lugar, até mesmo na sua casa. Esse é o chamado da campanha que alerta toda a população. O doente que começa o tratamento não transmite a doença, nem necessita ser isolado, muito menos estigmatizado", diz o presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Heitor Gonçalves.
SINTOMAS DA HANSENÍASE
"Precisamos informar que a ida até uma unidade básica de saúde ou ao dermatologista em que a pessoa já costuma se consultar, em caso de áreas do corpo com dormência, manchas escuras em tons vermelhos, esbranquiçados ou amarronzados, fazendo a pele perder a sensibilidade, podem indicar a presença da doença, possibilitando o diagnóstico e tratamento nas fases iniciais da mesma", orienta Heitor Gonçalves.
QUAIS OS PRIMEIROS SINAIS DA HANSENÍASE?
- sensação de formigamento, fisgadas ou dormência nas extremidades
- manchas brancas ou avermelhadas, geralmente com perda da sensibilidade ao calor, frio, dor e tato
- áreas da pele aparentemente normais que têm alteração da sensibilidade e da secreção de suor
- caroços e placas em qualquer local do corpo
- diminuição da força muscular (dificuldade para segurar objetos)
Em 2022 foram detectados quase 216 mil casos em todo o mundo, em particular no Brasil e Índia, segundo a OMS.
HANSENÍASE TEM CURA
A hanseníase tem cura.
O tratamento é feito nas unidades de saúde e é gratuito.
A cura é mais fácil e rápida quanto mais precoce for o diagnóstico.
O tratamento é via oral, constituído pela associação de dois ou três medicamentos e é denominado poliquimioterapia.
A hanseníase, favorecida pela promiscuidade e as condições de vida precárias, tem como particularidade um período de incubação muito prolongado, que pode chegar a duas décadas.
A demora no diagnóstico permite que continue infectando as pessoas próximas.
TRATAMENTO DA HANSENÍASE
Há décadas existe um tratamento médico com três antibióticos.
No Brasil, o Sistema único de Saúde (SUS) disponibiliza o tratamento da doença gratuitamente.
Mas o tratamento pode chegar a 12 meses, o que dificulta o acompanhamento em países sem um sistema de saúde adequado.
"É necessária uma infraestrutura com cuidadores para dispensar os medicamentos, o que exige recursos", afirma Alexandra Aubry, professora de Biologia e especialista na doença do Centro de Imunologia e Doenças Infecciosas (CIMI) de Paris.
Os antibióticos existentes são doados pela fundação do laboratório suíço Novartis, que fabrica os remédios, por meio da OMS.
Bertrand Cauchoix, porém, aponta "um risco de tensões muito grandes" em caso de problemas na linha de produção dos antibióticos.
Em termos gerais, os laboratórios farmacêuticos não se esforçam para produzir novos medicamentos que seriam mais fáceis de administrar.
"Não há doações para a lepra, apenas doações de caridade", lamenta Cauchoix.
A doença é quase inexistente nos países ocidentais e se propaga em um número limitado de pacientes em países que não poderiam pagar caro por novos medicamentos.
Em seu laboratório de pesquisas em Paris, um dos poucos no mundo com capacidade para examinar esta bactéria, Alexandra Aubry avalia a eficácia de cada novo antibiótico que chega ao mercado para tratar outras doenças.
"Tentamos identificar as associações de antibióticos", explica Aubry. "Testamos todas as formas possíveis de simplificar para obter tratamentos mais curtos, como por exemplo uma vez por mês durante seis meses".
Também há projetos de vacinas, cada vez mais raros porque também faltam recursos. "É muito complicado ter financiamento para isto. Para avaliar a eficácia de uma vacina é necessário acompanhar a população vacinada durante 10 ou 15 anos", lembra Aubry.