A morte de um menino de 4 anos em Pernambuco por meningite B, causada pela bactéria meningococo do tipo B, acende um alerta para cuidados e prevenção das doenças meningocócicas.
Foi a primeira morte por doença meningocócica de 2023 no Estado. Em 2022, não houve óbito, pela doença, em Pernambuco. E em 2021, houve o registro de duas mortes.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), a criança que foi a óbito por tinha o registro de duas doses da vacina meningocócica conjugada C, disponível no Sistema Único de Saúde, através do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Não há informações sobre a aplicação da vacina meningocócicas B, que só está disponível em clínicas privadas e chega a custar até R$ 850 por dose.
A meningite é uma inflamação das membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal. Os principais tipos de meningite bacteriana podem ser prevenidos pela vacinação, recomendada especialmente para crianças e adolescentes.
Em 2023, até a 23ª semana epidemiológica (terminou no dia 10 de junho), foram notificados 16 casos de doença meningocócica em Pernambuco. Desses, 10 foram confirmados, 2 descartados e 4 estão em investigação. No mesmo período em 2022, foram notificados 10 casos: 7 confirmados e 3 descartados.
Pelo menos, dos casos de doença meningocócica deste ano em Pernambuco, cinco foram meningite B e dois meningite do tipo C.
O cenário epidemiológico se mostra diferente de todo o ano de 2022, quando todos os casos sorogrupados foram todos do tipo C. Não houve confirmação por meningite B, no ano passado, em Pernambuco.
"O meningogoco do tipo C ainda é o sorotipo mais prevalente quando são consideradas todas as faixas etárias. Mas nos menores de 5 anos (pela ação da vacina meningo C introduzida no Programa Nacional de Imunizações em 2010), o sorotipo mais comum atualmente é o B", diz o médico Eduardo Jorge da Fonseca Lima, conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de Pernambuco e pediatra do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip).
Ele frisa que, de 2010 a 2021, observa-se tendência de declínio na incidência da doença meningocócica por 100 mil habitantes, sobretudo no sorogrupo C, quando é considerado o acumulado de todas as faixas etárias.
"Ressaltamos que o número de casos reportados foi muito baixo em 2020 e 2021, devido à pandemia, e pode levar a interpretações mais difíceis. Mas temos uma tendência de queda no coeficiente de incidência devido ao sorogrupo C, principalmente em crianças menores de 1 ano e de 1 a 9 anos. Por outro lado, a incidência do sorogrupo B foi relativamente estável nos grupos de idade", destaca.
Segundo Eduardo Jorge, com base em dados de 2020 a 2022, o sorogrupo B foi responsável por 69,89% dos casos de doença meningocócica invasiva (DMI) sorogrupados em crianças menores de 10 anos no Brasil. "E considerando todas as faixas etárias em 2021, o tipo B foi responsável por 58,2% dos casos sorogrupados de DMI no Brasil."
ONDE ENCONTRAR VACINA MENINGITE B
Infelizmente, a vacina contra a meningite B não está disponível na rede pública de saúde.
Nas clínicas privadas, o valor médio de cada dose de meningite B é variável: de R$ 650 a R$ 850.
VACINA MENINGITE B INTERVALO DOSES
Para crianças, as sociedades brasileiras de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm) recomendam o uso rotineiro de duas doses (aos 3 e 5 meses de vida) e um reforço da vacina meningocócica B (entre os 12 e 15 meses).
O esquema, no entanto, pode variar de acordo com a idade de aplicação da primeira dose contra meningite B. Se esta for a partir dos 2 anos (24 meses de vida), não há necessidade de reforço.
"Apesar da gravidade da doença, a incidência dela é relativamente baixa. Mas acredito que precisamos iniciar essa discussão no Brasil (introdução da vacina contra meningite B no calendário do Programa Nacional de Imunizações). A Inglaterra foi o primeiro país que introduziu o imunizante para todos os lactentes em setembro de 2015", diz Eduardo Jorge.
VACINA MENINGITE B PARA QUE SERVE?
A vacina meningocócica B previne meningites e infecções generalizadas (doenças meningocócicas) causadas pela bactéria meningococo do tipo B.
Na Inglaterra, o programa de vacinação contra meningite B atingiu altas coberturas vacinais: mais de 90% nas doses 1 e 2; 88% no reforço.
"Houve redução da doença meningocócica B, ao longo dos últimos anos, na população elegível para a vacinação na Inglaterra. A cada ano após a implementação do programa, mais coortes de nascimento foram protegidas, e o número casos foi reduzido. Itália, Canadá, Austrália e Portugal são outros países onde houve a introdução da vacina contra meningite B", informa Eduardo Jorge.
REAÇÃO VACINA MENINGITE B
Em crianças menores de 2 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), as reações associadas à aplicação da vacina contra meningite B incluem febre alta com duração de 24 a 28 horas.
"O perfil de segurança da vacina meningo B demonstra adequação, e os eventos mais comuns são reações locais (dor no braço) e febre. Os dados da Inglaterra indicam que, na utilização em vida real em toda a população pediátrica, é consistente com o estabelecido durante os estudos clínicos. Nenhuma nova preocupação de segurança foi identificada", sublinha Eduardo Jorge.
O QUE LEVA A TER MENINGITE?
Entre as principais bactérias que causam meningite, está o meningococo (Neisseria meningitidis). Nesse caso, os sintomas incluem febre alta e repentina, dor de cabeça intensa, rigidez do pescoço, vômitos e, algumas vezes, sensibilidade à luz (fotofobia) e confusão mental.
A doença meningocócica é de evolução rápida, mata um a cada cinco infectados ou, quando atinge a corrente sanguínea (meningococcemia), leva ao óbito sete a cada dez pessoas.
A meningite bacteriana também pode causar cegueira, surdez, problemas neurológicos e amputação de membros. Os tipos A, B, C, W e Y são os mais comuns no mundo.
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza três doses da vacina meningocócica C na infância: aos 3 e 5 meses, além de um reforço aos 12 meses, que pode ser aplicado até antes de completar 5 anos.
"O esquema completo (da vacina meningocócica C) é fazer a terceira dose na rotina com 12 meses, pois esta é uma dose muito importante. O prazo de até 4 anos, 11 meses e 29 dias é para quem perdeu a dose dos 12 meses, e o PNI disponibiliza a dose até essa idade. Mas deve ser feito, para quem perdeu o período certo dos 12 meses, o quanto antes", orienta o médico pediatra Eduardo Jorge da Fonseca Lima.
Para adolescentes, pelo PNI, uma dose é oferecida entre os 11 e 12 anos (como reforço ou dose única, a depender da situação vacinal).
"Apesar da gravidade da doença (meningite B), a incidência dela é relativamente baixa. Mas acredito que precisamos iniciar essa discussão no Brasil (introdução da vacina contra meningite B no SUS)", diz Eduardo Jorge - DIVULGAÇÃO
SINAIS E SINTOMAS DE MENINGITE
Saber identificar os primeiros sintomas e começar o tratamento adequado o mais rápido possível são passos determinantes para a sobrevivência ou redução de sequelas no paciente, segundo explica a infectologista Lessandra Michelin.
"O grande desafio da meningite é o diagnóstico precoce. Por isso, é muito importante que as pessoas conheçam e estejam atentas aos primeiros sinais, que muitas vezes se confundem com os de outras doenças infecciosas, como febre, irritabilidade, dor de cabeça, náusea e vômito", diz a médica.
A infectologista acrescenta que, na sequência, a pessoa infectada pode apresentar pequenas manchas arroxeadas na pele, rigidez na nuca e sensibilidade à luz.
A especialista ainda destaca outros sinais importantes da meningite em crianças menores. "Choro inconsolável, fontanela abaulada (também conhecida como moleira alta), resistência em se alimentar, sonolência ou irritabilidade intensa também podem ser percebidos."
Se o problema não for rapidamente tratado, segundo Lessandra, o quadro pode evoluir para confusão mental, convulsão, choque, infecção generalizada, falência múltipla de órgãos e risco de óbito.
Apesar de todos esses riscos, a meningite meningocócica tem cura e prevenção. Se for diagnosticada rapidamente e o tratamento adequado for iniciado, o paciente pode se recuperar completamente.
MENINGITE, COMO PEGA
A meningite bacteriana é considerada a mais grave. Entre elas, destaca-se a meningite meningocócica, causada pela bactéria Neisseria meningitidis (ou meningococo).
Transmitida por secreções respiratórias ou gotículas através de tosse, espirro ou beijo de uma pessoa contaminada, a meningite meningocócica tem evolução rápida e uma alta letalidade.
A doença pode levar ao óbito.
MENINGITE: SAIBA COMO IDENTIFICAR OS SINTOMAS; VEJA VÍDEO ABAIXO
O QUE É MENINGITE?
Causada pela bactéria Neisseria meningitidis, a meningite meningocócica é uma infecção das membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. É considerada uma doença potencialmente grave, que pode deixar sequelas no paciente e até mesmo levar à morte em até 24 horas.
MENINGITE VACINA
A vacinação é a principal forma de prevenção contra a doença.
Nos postos de saúde, a vacina contra a doença causada pelo meningococo C é gratuita para bebês, com doses administradas aos 3 e 5 meses de idade, e um reforço aos 12 meses, que pode ser aplicado em crianças menores de 5 anos de idade.
Apesar de a faixa etária em maior risco de adoecimento ser a de crianças menores de um 1 ano de idade, os adolescentes e adultos jovens são os principais responsáveis pela manutenção da circulação da meningite.
Além da vacina meningocócica C, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a vacina ACWY, destinada a adolescentes de 11 e 12 anos de idade.
