SAÚDE CARDIOVASCULAR

Beber com moderação faz bem ao coração? Veja o que diz cardiologista

Novo estudo traz à tona hipóteses inéditas sobre possível redução do risco de eventos cardiovasculares graves associada a consumo leve a moderado de álcool. Ainda assim, isso não pode ser justificativa para beber de forma abusiva

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 30/06/2023 às 9:54 | Atualizado em 30/06/2023 às 10:04
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O consumo leve a moderado de álcool é definido de acordo com as diretrizes brasileiras de hipertensão de 2020, que recomendam até dois drinques por dia para homens e até um drinque por dia para mulheres - FOTO: Wavebreak Media LTD/Freepik

Por Audes Feitosa, médico cardiologista e fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia

É amplamente reconhecido que o consumo excessivo de álcool acarreta uma série de riscos à saúde, incluindo doenças cardiovasculares e câncer.

Portanto, é fundamental enfatizar que não devemos estimular o consumo de bebidas alcoólicas.

Nesse cenário, desponta um novo estudo que traz à tona hipóteses inéditas sobre a possível redução do risco de eventos cardiovasculares graves associada ao consumo leve a moderado de álcool.

O estudo, apoiado pelos National Institutes of Health, foi publicado online, no dia 12 de junho, no periódico Journal of the American College of Cardiology.

Embora intrigante, essas descobertas não devem ser interpretadas como uma justificativa para o consumo abusivo.

O consumo leve a moderado de álcool é definido de acordo com as diretrizes brasileiras de hipertensão de 2020, que recomendam até dois drinques por dia para homens e até um drinque por dia para mulheres.

É importante ressaltar que não existe um nível seguro de consumo de álcool, e cada indivíduo deve levar em consideração sua saúde, histórico médico e recomendações médicas personalizadas.

O estudo analisou uma amostra significativa de aproximadamente 53 mil adultos, com idade média de 60 anos e 60% do sexo feminino, registrados no Mass General Brigham Biobank.

Os pesquisadores examinaram a relação entre o consumo leve a moderado de álcool e a incidência de eventos cardiovasculares graves, levando em conta fatores genéticos, clínicos, socioeconômicos e de estilo de vida.

Após um acompanhamento médio de 3,4 anos, observou-se que o consumo leve a moderado de álcool estava associado a uma redução de 21% no risco de eventos cardiovasculares graves em comparação à abstinência ou ao consumo mínimo.

Além disso, os pesquisadores descobriram que esse efeito benéfico estava parcialmente relacionado à diminuição da atividade da rede neuronal associada ao estresse.

O estresse crônico é conhecido por desempenhar um papel significativo no desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Quando os centros neuronais associados ao estresse são ativados, ocorrem alterações periféricas que levam a problemas cardíacos.

O álcool, em curto prazo, é conhecido por reduzir o estresse.

Portanto, a diminuição da atividade da rede neuronal relacionada ao estresse, associada ao consumo leve a moderado de álcool, pode explicar a redução do risco de eventos cardiovasculares graves observada no estudo.

A redução do risco de eventos cardiovasculares graves foi mais pronunciada em indivíduos com transtorno de ansiedade, uma condição em que há um aumento da sinalização neuronal relacionada ao estresse.

Esses achados fornecem uma nova perspectiva sobre a relação entre o consumo moderado de álcool e a saúde cardiovascular, destacando a importância de pesquisas futuras para explorar e entender melhor esses mecanismos de ação.

No entanto, é crucial enfatizar que os aparentes benefícios cardiovasculares do consumo leve a moderado de álcool estão acompanhados de um aumento do risco de câncer. Foi observado que mesmo níveis de consumo associados a alguma proteção contra doenças cardíacas também estão relacionados ao aumento do risco de câncer.

Portanto, é fundamental equilibrar cuidadosamente os possíveis benefícios e riscos ao tomar decisões relacionadas ao consumo de álcool.

À medida que avançamos na compreensão dessas associações, é essencial lembrar que existem outras maneiras de promover a saúde cardiovascular e reduzir o estresse sem recorrer ao consumo de álcool.

Práticas como exercícios físicos regulares, intervenções de redução do estresse, como meditação, e tratamentos farmacológicos talvez possam impactar positivamente as redes neuronais relacionadas ao estresse, oferecendo benefícios cardiovasculares sem os riscos associados ao álcool.

É fundamental que aqueles que consomem bebidas alcoólicas sigam as recomendações máximas diárias sugeridas e evitem o consumo excessivo.

Ao mesmo tempo, é importante ressaltar que ninguém deve começar a beber, mesmo que com moderação, apenas para melhorar os desfechos de saúde, especialmente considerando os riscos associados ao álcool.

Os resultados do estudo em questão fornecem uma base para investigações futuras sobre os possíveis mecanismos de ação e a relação entre o consumo leve a moderado de álcool e a saúde cardiovascular.

À medida que avançamos no campo da pesquisa, é essencial continuar explorando intervenções seguras e eficazes para reduzir o estresse e melhorar a saúde cardiovascular, especialmente para aqueles que enfrentam transtornos de ansiedade e outras condições relacionadas que têm um impacto significativo na saúde geral.

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