SAÚDE MENTAL

SAÚDE MENTAL: situação financeira apertada atinge 48% das mulheres e afeta saúde mental, diz relatório

Relatório mostrou ainda que 45% das mulheres brasileiras têm diagnóstico de ansiedade, depressão ou outros tipos de transtornos mental no contexto pós-pandemia de covid-19

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Cinthya Leite

Publicado em 30/08/2023 às 11:55 | Atualizado em 30/08/2023 às 12:01
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Da Agência Brasil

O relatório Esgotadas: empobrecimento, a sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico das mulheres, desenvolvido pela organização não governamental (ONG) Think Olga, indica que 45% das mulheres brasileiras têm um diagnóstico de ansiedade, depressão ou outros tipos de transtornos mental no contexto pós-pandemia de covid-19.

A ansiedade, transtorno mais comum no Brasil, faz parte do dia a dia de 6 em cada 10 mulheres brasileiras.

A pesquisa foi realizada com 1.078 mulheres, entre 18 e 65 anos, em todos os estados do País, entre 12 e 26 de maio de 2023. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, e o intervalo de confiança é de 95%.

"O relatório não surpreende porque são dados que já sabíamos que aconteciam, ou seja, as mulheres estão cansadas e sobrecarregadas. Quase metade da população feminina tem algum transtorno mental e com muito pouco acesso a cuidados específicos", diz a diretora da Think Olga, Maíra Liguori.

Segundo Maíra, a maioria diz que tem a atividade física ou a religião como ferramentas para conseguir lidar com essa questão. "Tem uma insatisfação com diversas áreas da vida. A questão financeira é a que mais preocupa, e a dupla ou tripla jornada é o segundo maior fator de pressão sobre a psique feminina."

Com a proposta de entender as estruturas que impõem o sofrimento das brasileiras na atualidade, o relatório reúne dados que demonstram desde a sobrecarga de trabalho e insegurança financeira até o esgotamento mental e físico causado pela economia do cuidado, que enquadra todas as atividades relacionadas aos cuidados com a casa e com produção e manutenção da vida.

A situação financeira e a capacidade de conciliar os diferentes aspectos da vida têm as menores notas de satisfação entre as entrevistadas.

Em uma classificação de 1 a 10, a vida financeira recebeu a classificação 1.4.

Já para a capacidade de conciliação das diferentes áreas da vida, a nota ficou em 2.2.

A situação financeira apertada atinge 48% das entrevistadas, e a insatisfação com a remuneração baixa alcança 32% delas.

Já 59% das mulheres das classes D e E estão insatisfeitas com sua situação financeira. Essa insatisfação atinge 54% das pretas e pardas.

As mulheres são as únicas ou principais provedoras em 38% dos lares.

Essas mulheres são, em sua maior parte, negras, da classe D e E e com mais de 55 anos de idade.

Somente 11% das entrevistadas dizem não contribuir financeiramente para a manutenção de suas famílias.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, realizada em 2022, as mulheres gastam 21,4 horas da semana em tarefas domésticas e do cuidado; os homens usam 11 horas.

Já o relatório mostrou que a sobrecarga de trabalho doméstico e a jornada excessiva de trabalho foram a segunda causa de descontentamento mais apontada, atrás apenas de preocupações financeiras.

O trabalho de cuidado sobrecarrega principalmente as mulheres de 36 a 55 anos (57% cuidam de alguém) e pretas e pardas (50% cuidam de alguém).

Para 86% das mulheres, há muita carga de responsabilidades.

A insatisfação entre mães solo e cuidadoras é muito superior em relação àquelas que não têm esse tipo de responsabilidade.

As cuidadoras e mãe solo também são as mais sobrecarregadas com as tarefas domésticas e de cuidado, com 51% das mães e 49% das cuidadoras apontando a situação financeira restrita como o maior impacto na saúde mental.

Isso quer dizer que a sobrecarga de cuidado também é um fator de empobrecimento das mulheres ou "feminização da pobreza", segundo o relatório.

Entre as entrevistadas mais jovens, 26% declararam que os padrões de beleza impostos impactam negativamente na saúde mental. Já o medo de sofrer violência é citado por 16% das entrevistadas.

Para 91% das entrevistadas, a saúde emocional deve ser levada muito a sério, e 76% estão buscando prestar atenção à saúde mental, principalmente após a pandemia de covid-19.

Só 11% afirmam que não cuidam da sua saúde emocional de nenhuma forma.

"É necessário que comecemos a entender o impacto do trabalho de cuidado e suas consequências, além de partirmos de discussões que desestigmatizem tabus sobre a saúde mental. É essencial incentivar ações do setor privado, da sociedade civil e, principalmente, do setor público para um futuro viável para as mulheres", afirmou, em nota, a co-diretora da Think Olga Nana Lima. 

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