LUTO

ÓCIO CRIATIVO DOMENICO DE MASI: Morre o sociólogo do trabalho que criou a teoria do ócio criativo

Criador da teoria do "ócio criativo", De Masi defendia que o cérebro não pode ser forçado a produzir quando já está saturado de informações

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Estadão Conteúdo

Publicado em 09/09/2023 às 21:17 | Atualizado em 09/09/2023 às 21:25
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O sociólogo italiano Domenico De Masi morreu neste sábado, 9, aos 85 anos. De acordo com a imprensa italiana, ele descobriu uma "doença invasiva" em 15 de agosto. Estava de férias em Ravello, na Costa Amalfitana, e os médicos do Hospital Policlínico Gemelli, de Roma, deram-lhe poucos dias de vida.

Criador da teoria do "ócio criativo", De Masi defendia que o cérebro não pode ser forçado a produzir quando já está saturado de informações. E, quando a pessoa se encontra satisfeita, as ideias tendem a chegar de forma inesperada, o que torna necessário conciliar trabalho, estudos e lazer, sem se sobrecarregar em nenhum momento.

Nascido em 1.º de fevereiro de 1938, na cidade de Rotello, De Masi era professor emérito de Sociologia do Trabalho na Universidade degli Studi "La Sapienza", de Roma. Ao longo de sua trajetória, desenvolveu pesquisas orientadas para a sociologia do trabalho e das organizações. Entre as bandeiras do sociólogo estavam a redução da jornada de trabalho e o trabalho remoto.

O doutorado em sociologia do trabalho foi obtido em Paris, onde foi aluno de Alain Touraine, o sociólogo francês que foi determinante para a formação de intelectuais como ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem De Masi se tornaria amigo. É dessa época outro encontro marcante na vida de De Masi: o trabalho, ainda que por pouco tempo, com o empresário Adriano Olivetti, que defendia um capitalismo humano.

TRANSFORMAÇÃO

Autor de dezenas de livro, De Masi enxergava três grandes fatores de transformação no mercado de trabalho até 2030: o aumento do uso da tecnologia, a feminilização da força de trabalho e a globalização. "A tecnologia também mudará o mundo do trabalho: a engenharia genética curará muitas doenças, a inteligência artificial substituirá parte do trabalho intelectual", afirmou à reportagem.

De Masi defendia que o desemprego era uma "construção social e não uma fatalidade" e que poderíamos ter todos os "desempregados ocupados imediatamente".

"Um alemão trabalha 1.400 horas ao ano em média. A ocupação é de 79%. O desemprego é de 3,8%. Na Itália trabalhamos 1.800 horas ao ano, veja que loucura! E temos 58% de ocupação e 11% de desemprego. Se na Itália trabalhássemos 1.400 horas não existiria nenhum desempregado."

POLÍTICA

Na política, o sociólogo se aproximou do Movimento 5 Estrelas (M5S), um partido antissistema, inspirando a adoção da renda cidadã, na Itália, no primeiro dos governos formados pelo M5S. Pelas redes sociais, o ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte, presidente do M5S, disse que De Masi tinha uma refinada inteligência e coragem e amor pelo conhecimento. "Ele foi um amigo sincero e um interlocutor privilegiado."

No Brasil, aproximou-se de Luiz Inácio Lula da Silva, que o visitou em junho, na Itália. "Nós somos amigos há anos. Fui encontrá-lo até no cárcere, em Curitiba", contou De Masi.

Lula escreveu hoje: "Estou surpreso e triste pelo falecimento do meu amigo. Intelectual incansável e homem público apaixonado, sempre foi um defensor das causas sociais, do avanço das conquistas humanas e de um mundo mais justo e solidário." E concluiu: "Serei eternamente grato pela visita que fez quando eu estava preso."

 

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