INFECTO 2023

Infectologista defende dose única contra HPV para aumentar cobertura vacinal

Durante Congresso Brasileiro de Infectologia, médica apresentou estudos com resultados positivos sobre os efeitos da dose única contra HPV em programas de vacinação

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Cinthya Leite

Publicado em 20/09/2023 às 17:26 | Atualizado em 21/09/2023 às 20:36
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SALVADOR - Um novo plano para a erradicação do câncer de colo do útero, a partir da vacinação contra o papilomavírus humano (HPV), tem levado médicos a defenderem a dose única da vacina contra o vírus para aumentar a cobertura vacinal. 

O plano, divulgado recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), considera uma diminuição de doses da vacina para crianças e adolescentes. Em contrapartida, aumenta-se o alcance entre a população-alvo do esquema vacinal.

No Brasil, a aplicação da vacina contra HPV é feita em duas doses para crianças e adolescentes entre 9 e 14 anos. No Sistema Único de Saúde (SUS), o imunizante é distribuído gratuitamente e previne infecções para os tipos mais frequentes de HPV: 6, 11, 16 e 18 (quadrivalente). Nas clínicas privadas de vacinação, é aplicada a HPV nonavalente, recentemente disponibilizada no País e com a formulação de cinco tipos adicionais do vírus, em comparação com a que está no SUS.

"Os países que estão colocando a dose única são todos usando a nonavalente. O fato de ser nona ou quadri não muda (a recomendação do número de doses). O que muda é: nós temos segurança para introduzir a dose única de HPV, independente da vacina que a gente vai fazer?", questionou a médica infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emilio Ribas (SP), em palestra que ministrou ontem durante o 23º Congresso Brasileiro de Infectologia, em Salvador. 

Ela é coautora do artigo HPV vaccination programs in LMIC: is it time to optimize schedules and recommendations?, publicado recentemente no Jornal de Pediatria. O texto revisa estudos sobre a eficiência da dose única contra HPV nas diferentes faixas etárias e aplicabilidade dessa nova recomendação da OMS. O trabalho observou resultados positivos, na literatura científica, sobre os efeitos da dose única em programas de vacinação. 

"A partir dos estudos, estou cada vez mais convencida de que a gente, fazendo seguimento (acompanhamento) dessas meninas, faça dose única com a vacina que há hoje no Brasil. Assim, eu também ampliaria a faixa etária, colocaria mais gente sobre proteção e deixaria a dose única, desde que se faça acompanhamento (de quem recebeu o imunizante)", destacou Rosana.  

ESTRATÉGIA

Segundo a OMS, adotar a dose única como estratégia pode ser um importante passo para aumentar as coberturas e proporcionar a proteção para um número maior de meninas que não têm acesso à imunização contra o HPV. 

Com essa iniciativa, médicos acreditam que é possível favorecer o controle de doenças relacionadas ao HPV e, com isso, ter um impacto real e definitivo na mortalidade pelo câncer de colo do útero. 

BAIXA COBERTURA

O HPV é um vírus que causa infecções sexualmente transmissíveis, provoca verrugas em tecidos orais e genitais e, dependendo do tipo do vírus, pode causar câncer, como os de colo do útero, vulva, vagina, pênis e canal anal.

A vacina contra o HPV é aplicada no sistema público de saúde, com foco principalmente em pessoas que ainda não iniciaram a vida sexual.

No Brasil, a adesão à vacina de HPV é baixa: não alcança o nível recomendado pela OMS, de 90% entre nove e 14 anos.

Segundo um estudo da Fundação do Câncer, com dados de 2013 a 2020, 76% do público-alvo tomaram a primeira dose e apenas 56% tomaram as duas doses previstas no esquema vacinal brasileiro. Em relação aos meninos, os números são ainda menores, com apenas 52% vacinados com a primeira dose em 2022.

SINTOMAS DO HPV 

A infecção pelo HPV não apresenta sintomas na maioria das pessoas. Em alguns casos, o HPV pode ficar latente de meses a anos, sem manifestar sinais (visíveis a olho nu), ou apresentar manifestações subclínicas (não visíveis a olho nu).

As primeiras manifestações da infecção pelo HPV surgem entre dois e oito meses após a infecção, mas pode demorar até 20 anos para aparecer algum sinal.

COMO DETECTAR

O diagnóstico do HPV é atualmente realizado por meio de exames clínicos e laboratoriais, dependendo do tipo de lesão, se clínica ou subclínica. 

O exame preventivo contra o HPV, o Papanicolau, é o mais comum para identificar de lesões precursoras do câncer de colo do útero. Esse exame ajuda a detectar células anormais no revestimento do colo do útero, que podem ser tratadas antes de se tornarem câncer.

O exame não é capaz de diagnosticar a presença do vírus. No entanto, é considerado o melhor método para detectar câncer de colo do útero e suas lesões precursoras.

Quando essas alterações que antecedem o câncer são identificadas e tratadas, é possível prevenir quase todos os casos. Por isso, é muito importante que as mulheres façam o exame de Papanicolau regularmente.

 

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