Pacientes da rede pública tomam quase o dobro de remédios para hipertensão, em comparação com os de consultórios privados
Estudo realizado no Brasil mostra que a hipertensão não está sendo controlada de forma eficaz na rede pública de saúde
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou esta semana, pela primeira vez, um relatório que detalha o impacto global da hipertensão arterial (pressão arterial de 140/90 mmHg ou mais - ou que tomam medicamentos para hipertensão), com dados sobre a incidência da doença em cada país.
De acordo com o levantamento, um a cada três adultos em todo o mundo sofre de pressão alta.
O Brasil está acima da média, com 50,7 milhões de hipertensos entre 30 e 79 anos (ou seja, 45% da população). Um estudo publicado, no último dia 18, na revista científica Frontiers in Cardiovascular Medicine, mostrou os desafios para tratamento da hipertensão, especialmente na rede pública de saúde (leia detalhes ao longo desta matéria).
A hipertensão pode causar derrames, ataques cardíacos, insuficiência cardíaca, danos renais e muitos outros problemas de saúde.
Segundo a OMS, se os países conseguirem expandir a cobertura do tratamento adequado, 76 milhões de mortes poderão ser evitadas entre 2023 e 2050 no mundo.
Relatório global sobre hipertensão: a corrida contra um assassino silencioso (leia clicando aqui)
"A hipertensão arterial, conhecida como pressão alta, é um problema de saúde sério e comum. Ela é responsável por mais mortes do que qualquer outra doença no mundo. No entanto, apenas cerca de 20% das pessoas com hipertensão mantêm sua pressão arterial sob controle, ou seja, dentro dos níveis recomendados para reduzir o risco de problemas de coração e vasos sanguíneos. Isso é preocupante", alerta o cardiologista Audes Feitosa, ex-presidente do Departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Ele é coautor de um novo estudo publicado na revista científica Frontiers in Cardiovascular Medicine, que trouxe à tona descobertas importantes sobre o controle da hipertensão no Brasil.
"Os pesquisadores compararam pacientes tratados em centros de saúde públicos e privados. Eles descobriram que os pacientes tratados em centros públicos enfrentam maiores desafios. Por exemplo, eles têm taxas mais altas de obesidade e precisam tomar quase o dobro de medicamentos para controlar a pressão arterial, em comparação com os pacientes de centros privados", diz Audes, que faz parte do Serviço de Hipertensão de Pernambuco, do Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco da Universidade de Pernambuco (UPE). O serviço foi um dos que participaram do estudo.
Segundo a pesquisa, a média de anti-hipertensivos utilizados foi de 2,9 nos serviços públicos e 1,4 nos serviços privados.
"Outro achado preocupante é que, em média, a pressão arterial dos pacientes tratados nos centros públicos é significativamente mais alta do que a dos pacientes de centros privados. Isso significa que a pressão arterial não está sendo controlada de forma eficaz na população atendida pelo sistema público de saúde", salienta Audes Feitosa.
Além disso, o estudo revelou que a taxa de controle da pressão arterial, ou seja, o número de pessoas que conseguem manter sua pressão dentro dos limites saudáveis, é significativamente menor nos centros públicos em comparação com os privados.
"As taxas de hipertensão não controlada foram de 67,8% e 47,6% por medidas em consultório e 60,4% e 35,3% pela Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA) nos serviços públicos e privados, respectivamente. Esse é um problema sério, pois o controle adequado da pressão arterial é essencial para prevenir complicações graves, como morte, infarto e acidente vascular cerebral (AVC)", frisa Audes Feitosa.
O cardiologista destaca que esses achados do estudo têm implicações significativas para a saúde pública no Brasil. Eles destacam a necessidade de um diagnóstico mais precoce da hipertensão, principalmente nos serviços públicos de saúde.
"Além disso, essas descobertas enfatizam a importância de um tratamento mais agressivo, incluindo acesso mais amplo a consultas médicas e medicamentos, especialmente formulações que combinam diferentes medicamentos em um único comprimido. Essas combinações facilitam a adesão ao tratamento e, consequentemente, melhoram o controle da hipertensão."
A melhoria no controle da hipertensão pode levar a uma redução significativa nas taxas de morte, AVCs, infartos e danos aos órgãos. "Portanto, esse estudo destaca a necessidade de ações mais eficazes para lidar com a hipertensão no Brasil, especialmente no sistema público de saúde."
O cardiologista lembra que a hipertensão é uma condição tratável, e o controle adequado da pressão arterial pode salvar vidas.
"Consultar um médico regularmente, seguir as orientações médicas e fazer mudanças no estilo de vida, como uma alimentação saudável e a prática de exercícios, são passos essenciais para manter a pressão arterial sob controle e reduzir o risco de doenças graves", finaliza Audes Feitosa.