Pessoas com TDAH têm o dobro do risco de se envolver em sinistros de trânsito
Diretriz da Abramet estabelece recomendações para direção segura dos condutores que vivem com o transtorno
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) se caracteriza basicamente por três sintomas: impulsividade, desatenção e agitação. Eles podem se manifestar de forma isolada ou simultânea. Estudos têm mostrado que pessoas com TDAH têm risco aumentando de se envolver com sinistros de trânsito.
"Se transpusermos os sintomas do TDAH para a condução de veículos, veremos que eles representam um aumento do risco de sinistros de trânsito e, para motoristas com o transtorno, esse risco é duas vezes maior. Estudos comprovam que pessoas com TDAH também cometem mais infrações de trânsito, em geral provocadas por breves períodos de desatenção à sinalização da via", diz o médico Alysson Coimbra, diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra).
Diante desse cenário, especialistas da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) elaboraram uma diretriz com recomendações para subsidiar a atuação do médico do tráfego na realização de exames relacionados à Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e também para orientar as pessoas que têm TDAH a adotarem uma condução veicular segura.
"Historicamente a maioria dos sinistros de trânsito está relacionada ao fator humano, ou seja, pode ser evitada a partir de orientações que surgem a partir de estudos científicos", observa Alysson Coimbra, um dos autores da diretriz.
TDAH: SINISTROS DE TRÂNSITO NAS RODOVIAS
Hoje, no Brasil, fatores relacionados à desatenção estão entre as principais causas de acidentes nas rodovias federais.
De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), de janeiro a agosto deste ano, 10.155 sinistros de trânsito foram causados por:
- ausência de reação
- reação tardia do condutor ou por motoristas que acessaram a via sem observar a presença de outros veículos
Esses sinistros provocaram 692 mortes e deixaram 11.542 pessoas feridas.
"Isso mostra o quanto esse transtorno (TDAH) pode estar subdiagnosticado em nossos motoristas", alerta Alysson Coimbra.
TDAH: RISCO EM DOBRO NO TRÂNSITO
Segundo a Abramet, estudos epidemiológicos concluem que o risco de uma pessoa com TDAH se envolver em sinistros automobilísticos é 54% maior, em comparação com quem não tem o transtorno.
No entanto, estudos observacionais, que utilizaram dados oficiais e informações autorrelatadas, concluíram que esses condutores apresentaram um risco quase dobrado de se envolver nesses sinistros e, com mais frequência, cometiam infrações de trânsito.
"Estudo com mais de 17 mil motoristas constatou taxas mais altas de colisões envolvendo pessoas com TDAH, em relação ao grupo controle, sendo (6,5% X 3,9%) para os homens e (3,9% X 1,8%) para as mulheres. O risco relativo para colisões de veículos conduzidos por pessoas com TDAH é 1,36 a 1,88 vezes maior”" descreve trecho da diretriz.
TRATAMENTO TDAH
O TDAH é um transtorno tratado com psicoterapia e medicação. No Brasil, por enquanto, há apenas drogas estimulantes disponíveis para o tratamento.
"Substâncias usadas no tratamento do TDAH podem ampliar a inabilidade de conduzir do motorista. A orientação mais importante é a de que o condutor não dirija se não estiver medicado; não utilize o celular e jamais dirija se tiver consumido bebidas alcoólicas. O álcool amplia os prejuízos cognitivos e comportamentais e afeta negativamente mais as pessoas com TDAH", comenta Alysson Coimbra.
Além disso, a diretriz traz duas importantes recomendações: não usar o piloto automático e usar, preferencialmente, o câmbio manual.
"A pessoa com TDAH vai ter mais atenção e concentração para dirigir em situações onde é mais cobrada, como durante a troca de marchas. Mesmo que a pessoa tenha um carro automático, pode optar pelo modo manual quando estiver dirigindo. Isso deixa o motorista mais atento ao trânsito. Também por isso o piloto automático deve ser evitado", completa o médico.
Recomendações de segurança para motoristas com TDAH:
- Não dirija se não estiver medicado;
- Caso queira ouvir música, sintonize previamente o modo de reprodução e mantenha volume baixo;
- Não se alimente dirigindo;
- Não utilize telefone celular e dispositivos de mensagens de texto;
- Deixe o celular e tocadores de MP3 guardados ou desligados;
- Conheça as rotas de direção de antemão, quando possível;
- Dê preferência para conduzir veículos com embreagem manual;
- Evite o acionamento do piloto automático;
- No início de sua habilitação, procure estar sempre acompanhado com um condutor experiente;
- Não consuma, de forma alguma, bebidas alcoólicas se for dirigir.
Fonte: Diretriz Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e condução de veículos automotores, Abramet