DOR CRÔNICA

Mais de um terço dos brasileiros acima de 50 anos têm dores crônicas

Do total dos que sentem dores, 30% fazem uso de opioides. Ministério da Saúde destinou R$ 870 milhões para Estados e municípios ampliarem equipes multiprofissionais na atenção primária

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Cinthya Leite

Publicado em 11/12/2023 às 18:41
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As dores crônicas fazem parte do cotidiano de 36,9% dos brasileiros com mais de 50 anos. Desses, 30% usam opioides (medicamentos com efeitos analgésicos e sedativos potentes, que geralmente causam sonolência) para aliviar o problema.

Os dados preliminares fazem parte da última edição do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos (ELSI-Brasil), financiado pelo Ministério da Saúde.

O trabalho também revelou que a dor crônica é mais frequente entre mulheres, pessoas de baixa renda e aqueles com diagnóstico para artrite, dor nas costas/coluna, sintomas depressivos e com histórico de quedas e hospitalizações.

LEI PARA PACIENTES COM DOR CRÔNICA

Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma nova lei que amplia o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) para pacientes com dor crônica.

A lei determina que pessoas com síndrome de fibromialgia, fadiga crônica, síndrome complexa de dor regional ou outras doenças correlatas receberão atendimento integral pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com a garantia de atendimento multidisciplinar, exames complementares, assistência farmacêutica e acesso a modalidades terapêuticas, como fisioterapia e atividade física.

PREOCUPAÇÃO COM OPIOIDES 

Os dados do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos são considerados preocupantes pela coordenadora de Saúde da Pessoa Idosa na Atenção Primária, Lígia Gualberto. Ela destaca que, para evitar dores ao longo do processo de envelhecimento e consequentemente a demanda por opioides, o ideal é que o indivíduo adote desde cedo hábitos saudáveis de vida, como a prática de atividades físicas.

"Com o envelhecimento, a tendência é o declínio da massa muscular, que se agrava em contexto de sedentarismo. Esse enfraquecimento muscular está diretamente relacionado a prejuízos na mobilidade em idades avançadas e ao contexto de dor crônica", explica.

O RISCO DE OPIOIDES PARA ALIVIAR A DOR

A pesquisadora Fernanda Lima-Costa (Fiocruz/UFMG) faz parte do time de pesquisadores à frente do levantamento e vê os números com preocupação, já que o uso de opioides para tratar a dor, mesmo que prescrito, está associado ao aumento do risco de efeitos adversos.

"A gente tem hoje uma epidemia de uso de opioides nos Estados Unidos que está se agravando. Isso ainda é pouco discutido no Brasil, mas nós já temos uma prevalência alta do uso desses medicamentos", alerta. Além disso, Fernanda ressalta a necessidade de vigilância e qualificação da atenção à saúde.

NÍVEL DE DOR INTERFERE DIRETAMENTE NA QUALIDADE DE VIDA 

De acordo com a revista científica The Lancet, a dor, nas suas diversas manifestações, afeta a percepção geral de saúde e está associada a sintomas depressivos e à baixa qualidade de vida.

A dor também é associada à menor produtividade e à exclusão da força de trabalho.

O impacto da dor pode ser ainda mais grave entre indivíduos com baixo nível socioeconômico e aqueles que trabalham em setores como agricultura e serviços.

No Brasil, o envelhecimento populacional e a crescente prevalência de doenças crônicas apontam para um futuro onde uma grande parte da população será afetada pela dor.

A publicação The Lancet indica, ainda, que o uso de opioides é considerado uma preocupação para os médicos. Em países como os Estados Unidos e o Canadá, onde o uso prescrito desses medicamentos é elevado, há também uma alta prevalência de uso para fins não médicos que provocam altos níveis de transtornos e casos de overdose dessas medicações.

Nos Estados Unidos, de acordo com a revista, relatos apontam que em 2020, mais de 68 mil mortes ocorreram por overdose desses fármacos. O uso naquele país aumentou exponencialmente nos últimos 30 anos.

Outra recomendação, segundo Lígia Gualberto, é que ao longo da vida, a pessoa mantenha a vacinação em dia.

"Estudos mostram que ter gripe aumenta a chance de infarto em pessoas idosas. Além disso, a vacina anual de gripe reduz a mortalidade por todas as causas e também por causas cardiovasculares em idosos. Pessoas idosas que se vacinam todos os anos, no início da temporada, têm melhor proteção", explica.

“A matéria apresentada neste portal tem caráter informativo e não deve ser considerada como aconselhamento médico. Para obter informações fornecidas sobre qualquer condição médica, tratamento ou preocupação de saúde, é essencial consultar um médico especializado.”

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