ZIKA CONGÊNITA

Oito anos após epidemia de zika, pesquisa avalia crianças em idade escolar cujas mães foram infectadas pelo vírus

Pesquisadores afiliados ao Life Zika Study têm monitorado continuamente a saúde e o desenvolvimento de crianças com síndrome da zika congênita

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Cinthya Leite

Publicado em 18/03/2024 às 12:24
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O Wellcome Trust, instituição filantrópica de apoio à pesquisa com sede em Londres, no Reino Unido, concedeu financiamento a pesquisadores da London School of Hygiene and Tropical Medicine e de instituições parceiras no Brasil. O suporte tem como objetivo estudar as necessidades de saúde e aprendizado de crianças em idade escolar, cujas mães foram infectadas pelo zika durante a gravidez.

As infecções pelo zika na gestação podem prejudicar o desenvolvimento fetal e levar a anomalias estruturais, como a microcefalia, e atraso no desenvolvimento. O conjunto de manifestações clínicas (microcefalia, problemas de visão e de audição, entre outros) é reconhecido como síndrome da zika congênita.

Com um financiamento do Wellcome Collaborative Award in Science no valor de £3,6 milhões para um período de sete anos, pesquisadores da London School of Hygiene and Tropical Medicine lançam o Estudo dos Impactos à Longo Prazo para Famílias Afetadas pela Epidemia de Zika (Life Zika).

A pesquisa é feita em parceria com pesquisadores da Universidade de Pernambuco (UPE), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Brasil.

"Há oito anos, os olhos do mundo estavam voltados para o Brasil e para a emergência de saúde pública relacionada à zika, mas essa atenção passou. Acreditamos que é hora de trazer a zika de volta à agenda científica", ressalta o colíder do estudo Ricardo Ximenes, professor de Medicina Tropical da UFPE e de Medicina Interna da UPE. 

O Life Zika Study reúne uma equipe interdisciplinar com experiência em epidemiologia, vinculação de dados e métodos de ciências sociais, para gerar novos conhecimentos sobre as consequências a longo prazo das infecções pelo vírus zika durante a gravidez.

"Embora a transmissão do vírus zika tenha diminuído em todo o mundo, as crianças com síndrome da zika congênita e suas famílias continuam a enfrentar consequências sociais e de saúde devastadoras da pandemia de 2015-2017", frisa a colíder do estudo Elizabeth Brickley, professora de Epidemiologia e Saúde Planetária na London School of Hygiene and Tropical Medicine.

Desde o surgimento da epidemia de microcefalia no Nordeste do Brasil em 2015, os pesquisadores afiliados ao Life Zika Study têm monitorado continuamente a saúde e o desenvolvimento de crianças com a síndrome da zika congênita.

"Como a síndrome da zika congênita é uma doença nova que só foi identificada entre os recém-nascidos há oito anos, as consequências da infecção pelo vírus durante a gravidez para o desenvolvimento posterior da criança permanecem desconhecidas", alerta o infectologista Demócrito Miranda, pesquisador do Estudo Life Zika da UPE, que liderou o acompanhamento da Coorte Pediátrica do Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia (Merg). 

Esse novo financiamento permitirá que o Life Zika Study estenda o acompanhamento das crianças afetadas até a idade de 13 anos e, portanto, aprenda sobre a síndrome da zika congênita em diferentes estágios do desenvolvimento infantil.

Serão usadas avaliações clínicas abrangentes, e os pesquisadores compararão as necessidades de saúde e aprendizado entre crianças com e sem exposição pré-natal ao vírus zika. O projeto também reunirá dados do Consórcio Brasileiro de Coortes de Zika, que representa todas as coortes no Brasil que acompanharam crianças expostas ao vírus zika durante a gravidez.

Os achados do Estudo Life Zika ajudarão a orientar o planejamento e a organização do atendimento clínico para crianças expostas ao vírus Zika durante a gravidez. Além disso, os resultados esclarecerão quais as adaptações necessárias para facilitar a participação de crianças com deficiências relacionadas à zika em atividades sociais, inclusive na escola.

"É importante lembrar que as crianças com casos graves da síndrome da zika congênita podem precisar de cuidados por toda a vida. Esses cuidados são geralmente prestados pelas mães e podem acarretar custos significativos de saúde, sociais e econômicos", destaca a pesquisadora Sandra Valongueiro, do Estudo Life Zika da UFPE. 

O Estudo LIFE Zika usará métodos de ciências sociais para compreender os impactos sociais e de saúde mais amplos para os membros da família de crianças com síndrome congênita.

Os pesquisadores esperam que essas evidências sirvam de base para o desenvolvimento de políticas públicas que promovam a proteção social de crianças com a síndrome e suas famílias.

Com vistas à preparação para futuras epidemias, o estudo Life Zika também tem como objetivo melhorar a compreensão de como os pesquisadores podem envolver de forma mais eficaz as comunidades afetadas nas respostas científicas às emergências de saúde pública.

"Além de promover a colaboração de coortes epidemiológicas apoiadas por diferentes tipos de dados, este projeto visa avaliar as percepções e preocupações relacionadas à produção de dados, uso e compartilhamento de dados durante e após emergências de saúde pública, usando a epidemia do vírus zika e a síndrome da zika congênita como estudos de caso", diz a pesquisadora do Estudo Life Zika no CIDACS/Fiocruz, Bethânia Almeida. 

O Estudo Life Zika será lançado oficialmente na próxima quarta-feira (20), a partir das 9h, no Cais do Sertão, no Bairro do Recife, durante reunião científica internacional. 

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