AUTISMO

Ações do Dia Mundial de Conscientização sobre Autismo clamam por um mundo inclusivo e acessível para todos

Data chama a atenção para o transtorno do espectro autista (TEA), com destaque para diagnóstico precoce, sinais, fatores de risco, acompanhamento médico e terapias

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Cinthya Leite

Publicado em 01/04/2024 às 18:08 | Atualizado em 01/04/2024 às 18:11
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Em 2 de abril, Dia Mundial de Conscientização sobre Autismo, precisamos trazer a reflexão sobre a importância de fazer avançar os direitos e promover a inclusão das pessoas que vivem com o transtorno do espectro autista, conhecido pela sigla TEA.

O termo "espectro" foi inserido ao nome do transtorno autista em 2013, devido à diversidade de sintomas e níveis que as pessoas apresentam. Cada paciente tem o seu próprio conjunto de manifestações, o que o torna único dentro do espectro.

O transtorno do espectro autista é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, como também padrões de comportamentos repetitivos.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), existem no mundo mais de 70 milhões de pessoas com autismo, uma condição que pode interferir na comunicação e interação em sociedade. A incidência em meninos é maior: a cada quatro casos, um se manifesta em meninas.

Mesmo as famílias que não têm filhos com o transtorno do espectro autista, precisam conhecer sobre essa condição, presente em todos os ambientes da sociedade. 

"Por uma questão de direitos fundamentais, os governos devem investir em sistemas de apoio comunitário mais fortes, programas de educação e treinamento inclusivos e soluções acessíveis e baseadas em tecnologia para permitir que as pessoas com autismo desfrutem dos mesmos direitos que as demais", diz o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para marcar o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo.

"Para ampliar o apoio e o investimento em países e comunidades, é necessário trabalhar lado a lado com as pessoas com autismo e seus aliados. Hoje e todos os dias, vamos nos unir para concretizar seus direitos, garantir um mundo inclusivo e acessível para todas as pessoas."

Especialistas sublinham que, nos últimos anos, mudou o padrão de diagnóstico do autismo. "Antigamente achavam que a pessoa com autismo era só aquele caso mais grave, aquela criança que tinha todas as características do transtorno. Hoje, entende-se que a criança precisa crescer, desenvolver e, a partir daí, preencher alguns critérios. Um bom profissional consegue já identificar uma criança com autismo ao 1 ano e meio de vida", explica o neurocientista Victor Eustáquio, sócio-fundador da clínica Somar Special Care. 

A instituição atua há mais de 20 anos: possui duas unidades no Recife: uma na Torre (Zona Oeste) e outra em Boa Viagem (Zona Sul). Também há uma em Olinda (Jardim Atlântico) e outra em Jaboatão dos Guararapes (Piedade). Em breve, a Somar inaugura a quinta unidade, no complexo esportivo do Sport Club, na Ilha do Retiro, área central do Recife.

O neurocientista Victor Eustáquio destaca que o critério de diagnóstico do autismo ampliou bastante nos últimos anos. "Falamos de espectro, quando antes era só o grave. Hoje, existe uma modulação. Então, temos crianças com nível de suporte 3 (o mais grave), 2 (moderado) e 1 (leve). Então, o leque aumentou. E associado a essa condição ampla, há mais profissionais capacitados para diagnosticar", diz.

Ele traz dados que mostram o crescimento no número de diagnósticos. "Lá pelos anos de 1970, por exemplo, a cada 100 mil crianças, uma era autista. Em 2020, a cada 54 nascidas, uma era autista; em 2022, era uma a cada 46. Agora, em 2024, temos uma autista a cada 36 crianças que nascem. São dados do CDC (órgão de saúde Centers for Disease Control and Prevention, nos EUA) que comprovam o autismo como, de fato, uma questão de saúde pública."

Não há cura para o autismo, mas há intervenções que promovem o desenvolvimento da criança, com trabalho focado em habilidades como fala e interação social.

"As terapias são diversas: temos psicomotricidade, concentração, atenção, lateralidade da criança, equilíbrio... São atividades dinâmicas e humanizadas. A intervenção tem que ser individualizada, e o profissional precisa respeitar o limite de cada um. Mesmo dentro de cada grupo (leve, moderado e grave), existem especificidades", frisa Victor. 

Ele ressalta ainda que ambientes sociais (escola, praia, praça e zoológico, por exemplo) precisam ser retratados no acompanhamento para que a criança possa ter um melhor convívio social.

Além disso, muitas vezes as crianças com autismo e transtornos do desenvolvimento têm outras condições associadas, como dificuldades de aprendizagem ou quadros de saúde mental.

O neurocientista chama a atenção para os transtornos associados ao autismo, como déficit de atenção, hiperatividade, dislexia e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

"Quanto mais comorbidades estiverem associadas ao autismo, a abordagem é diferente. Nosso papel é estimular cada indivíduo. E o profissional precisa entender sobre cada condição para não atender o indivíduo de forma generalizada, pois não funciona", acrescenta. 

O diagnóstico precoce é essencial para o tratamento do transtorno do espectro autista. Quanto mais cedo o acompanhamento médico é iniciado, maiores as chances de a pessoa com autismo ter qualidade de vida.

O processo para detectar o autismo, contudo, pode ser um desafio, pois os sintomas variam em intensidade e gravidade, a depender de cada pessoa.

O tratamento do transtorno do espectro autista pode incluir terapia comportamental, terapia ocupacional, terapia da fala e medicamentos, se necessário.

O OLHAR DA NEUROPEDIATRIA

De acordo com o neuropediatra Lucas Alves, muitas famílias enfrentam dificuldades ao lidar com condições como o autismo. Geralmente, elas se sentem perdidas e sobrecarregadas, sem saber lidar com os comportamentos da criança ou coma forma adequada que a ajude a se desenvolver melhor.

Por isso, o neuropediatra ressalta que o apoio à família é fundamental, com orientações e suporte emocional.

A idade limite para o diagnóstico precoce do transtorno do espectro autista ainda é uma questão em debate na comunidade médica. 

SINAIS DE AUTISMO: QUAIS SÃO OS PRIMEIROS SINAIS DO AUTISMO?

Independentemente de faixa etária específica, recomenda-se que, diante de qualquer possível atraso observado, as famílias devem procurar um profissional especializado para início de uma investigação.

"Geralmente, o bebê tem uma interação com os pais. Então, o olhar na hora de amamentar é importante. Deve-se também reparar se o bebê se aconchega no colo. Por volta de 1 ano, a criança é chamada pelo nome e olha. Quando acontece alguma coisa em casa, ela segue com os olhinhos. Não significa que, se a criança não fizer isso, ela tem um diagnóstico de TEA (transtorno do espectro autista), mas é importante que isso seja visto e avaliado", orienta Lucas Alves. 

SINAIS DE AUTISMO: QUAL A IDADE QUE SE PERCEBE O AUTISMO? 

Veja características de comunicação e interação social relacionadas ao transtorno do espectro autista:

  • Evita ou não mantém contato visual 
  • Não responde ao nome aos 9 meses de idade
  • Não mostra expressões faciais como feliz, triste, zangado e surpreso aos 9 meses de idade
  • Faz poucos ou nenhum gesto aos 12 meses de idade (por exemplo, não dá tchau)
  • Não compartilha interesses com outras pessoas aos 15 meses de idade (por exemplo, mostrar um objeto que eles gostam)
  • Não aponta para mostrar algo interessante aos 18 meses de idade

Veja comportamentos ou interesses restritos ou repetitivos relacionadas ao transtorno do espectro autista:

  • Alinha brinquedos ou outros objetos e fica chateado quando a ordem é alterada
  • Repete palavras ou frases várias vezes
  • Brinca com os brinquedos sempre da mesma forma
  • Está focado em partes de objetos (por exemplo, rodas, e não no todo)
  • Bate as mãos, balança o corpo ou girar em círculos
  • Tem hipersensibilidade a sons, cheiros e texturas

Veja outras características relacionadas ao transtorno do espectro autista:

  • Competências linguísticas atrasadas
  • Habilidades de movimento atrasadas
  • Habilidades cognitivas ou de aprendizagem atrasadas
  • Comportamento hiperativo, impulsivo e/ou desatento

SINAIS DE AUTISMO: O QUE LEVA A PESSOA A TER AUTISMO?

Um estudo recente, publicado em março de 2023, do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), revelou que uma a cada 36 crianças nos Estados Unidos tem transtorno do espectro autista.

"Talvez por isso, muitas futuras mães têm me perguntado frequentemente se existem formas de diminuir o risco dos seus filhos nascerem com o transtorno", diz Lucas Alves. 

"Precisamos esclarecer que o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que irá se estabelecer nos primeiros três anos de vida. O indivíduo já nasce com uma carga genética que irá predispor a desenvolver o autismo", acrescenta. 

SINAIS DE AUTISMO: QUAIS FATORES AMBIENTAIS CAUSAM AUTISMO?

O depoimento do neuropediatra sinaliza que existe uma forte predisposição genética para o autismo.

"Em alguns casos, essa carga genética já é suficiente para que ele desenvolva o autismo. Porém, na minoria dos casos, algum tipo de fator ambiental pode estar relacionado ao autismo."

Ainda de acordo com Lucas Alves, a ciência já mapeou mais de 77 genes, embora não exista um único deles responsável pelo autismo. "São alterações em diferentes trechos do DNA que podem levar ao desenvolvimento do transtorno, mas elas sozinhas não são capazes de explicar 100% dos casos. É aí que entra o que chamamos de fatores ambientais, principalmente aqueles que acontecem durante os nove meses de gestação."

Abaixo, Lucas Alves menciona três principais fatores de risco para o autismo. Confira: 

  1. Idade paterna: Futuros pais a partir de 40 anos têm um risco de até seis vezes mais de ter um filho com transtorno do espectro autista (TEA). 
  2. Prematuridade: 6% das crianças que nascem com menos de 26 semanas de idade gestacional têm transtorno do espectro autista. Por outro lado, menos de 2% daquelas que nascem com uma idade gestacional acima de 40 semanas terão TEA.
  3. Uso de medicamentos controlados: Existem alguns medicamentos que são terminantemente proibidos durante a gestação, como o ácido valpróico, que é utilizado como estabilizador do humor. Por isso, quem faz uso de algum medicamento deve consultar o médico antes de engravidar.

SINAIS DE AUTISMO: VEJA ENTREVISTA ABAIXO

“A matéria apresentada neste portal tem caráter informativo e não deve ser considerada como aconselhamento médico. Para obter informações fornecidas sobre qualquer condição médica, tratamento ou preocupação de saúde, é essencial consultar um médico especializado.”

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