ARBOVIROSES

Ovitrampas contra dengue: Recife tem armadilhas em 75% dos bairros para deter epidemia

O histórico das epidemias de dengue no Recife não permite que a vigilância ambiental relaxe nas medidas para o combate ao mosquito transmissor

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Cinthya Leite

Publicado em 18/04/2024 às 20:41 | Atualizado em 18/04/2024 às 21:43
Notícia

O uso de 2,8 mil armadilhas para capturar os ovos do mosquito do dengue (chamadas de ovitrampas) tem ajudado a retirar mais de 8 milhões de ovos do Aedes aegypti por ano em 71 dos 94 bairros do Recife. Se não fossem essas ferramentas instaladas em áreas da cidade, esses ovos eclodiriam na natureza e colocariam mais pessoas em risco de infecções transmitidas pelo mosquito. 

Neste ano, a capital pernambucana acumula 4.194 notificações de casos suspeitos de arboviroses, sendo 3.297 de dengue, 762 de chikungunya e 135 de zika. Desse total, foram confirmados 85 casos de dengue e 88 de chikungunya. A cidade segue, assim como todo o Estado, sem confirmações de zika. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, houve aumento de 148,3% dos casos notificados
e de 499,5% dos casos prováveis de arboviroses. 

"Para uma cidade com cerca de 1,6 milhões de habitantes, que é o caso do Recife, não podemos dizer que há epidemia com 3.297 notificações de dengue", avalia a gerente de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde do Recife (Sesau), Vania Nunes. Para ela, a estratégia de enfrentamento ao Aedes, que inclui as ovitrampas e todo o trabalho de mobilização com os agentes de endemia da vigilância ambiental, tem um papel fundamental para deter a epidemia na cidade. 

Apesar do incremento de registros de dengue, em comparação com o ano passado, Vania reforça que a situação epidemiológica atual da capital não desponta ainda com índices epidêmicos. "Essa comparação é feita com 2023, que foi um ano em que os casos de arboviroses foram muito baixos. Então, o aumento em número absoluto deste ano já faz elevar o percentual", explica Vania. 

SESAU RECIFE/DIVULGAÇÃO
Ovitrampas consistem em um recipiente simples pintado de preto e uma solução de água com larvicida. Elas simula o ambietne perfeito para depósito de ovos pelo mosquito - SESAU RECIFE/DIVULGAÇÃO

Diferentemente de cerca de 550 cidades brasileiras, que enfrentam severa epidemia de dengue neste ano com emergência decretada, o Recife está com incidência moderada da doença: 182 casos por 100 mil habitantes. 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que taxas abaixo de 100 casos/100 mil habitantes configuram baixa incidência de dengue; moderada de 100 a 300 casos/100 mil habitantes e alta incidência a partir de 300 casos/100.000 habitantes.

No entanto, a situação não é confortável, até porque o histórico das epidemias de dengue no Recife não permite que a vigilância ambiental relaxe nas medidas para o combate ao mosquito transmissor.

O risco de explosão de epidemia este ano ainda existe - e é elevado. O Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (LIRAa) aponta para isso, com taxa de 2,7% (corresponde a um risco alto de ter infestação pelo mosquito Aedes e, consequentemente, de epidemia). O índice satisfatório precisa ser inferior a 1%. 

O "mapa das arboviroses", como é chamado o LIRAa, é um instrumento que permite conhecer de forma rápida, por amostragem, a quantidade de imóveis que tem recipientes com larvas de Aedes aegypti. A partir desse mapeamento, além de se identificar depósitos com condições para a proliferação do mosquito, é possível fazer coleta de larvas e análise de amostras do vetor em laboratório.

Além disso, algumas áreas do Recife estão em situação crítica. O LIRAa do Distrito Sanitário VIII apresenta risco muito alto de epidemia (maior ou igual a 4%). "É o caso do Ibura e da Cohab (Zona Sul), onde sempre estamos fazendo os mutirões para sensibilizar os moradores sobre a importância de combater o vetor, adotar medidas preventivas para evitar a propagação da dengue e fazer visita domiciliar para erradicar possíveis criadouros nos imóveis", diz Vania. 

A gerente de Vigilância Ambiental do Recife ainda alerta para o fato de, nos últimos dias, a cidade ter a combinação perfeita para a proliferação do Aedes aegypti: sol e chuva ao mesmo tempo. "As chuvas intermitentes, acompanhadas de sol e calor, encurtam o ciclo do mosquito."

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A gerente de Vigilância Ambiental do Recife, Vania Nunes, alerta para o fato de, nos últimos dias, a cidade ter apresentado a combinação perfeita para a proliferação do Aedes aegypti: sol e chuva ao mesmo tempo - SESAU RECIF/DIVULGAÇÃO

Os dias de chuva do outono podem ocasionar acúmulo de água em recipientes desprotegidos, e o sol que tem aparecido constantemente faz a combinação perfeita para a eclosão dos ovos que dão origem a milhares de novos mosquitos. Dessa maneira, a circulação do vírus aumenta em progressão geométrica. 

"Por isso, ainda não podemos dizer que a situação será tranquila ao longo do ano. Historicamente, aqui no Recife, este é o período de maior risco para um aumento em larga escala dos mosquitos, devido a fatores climáticos. Continuamos a realizar o trabalho preventivo", ressalta

Neste ano, equipes da Vigilância Ambiental do Recife visitou 684.190 imóveis, com realização de inspeção em 76,9% (526.093 imóveis). Não foi possível realizar visita em 158.097 (23,1%) deles, ou por estarem fechados, ou pelo fato de as pessoas não autorizarem a entrada dos agentes. 

Atualmente, existem 2.513 ovitrampas (armadilhas para captura de ovos do mosquito) instaladas em residências de 71 dos 94 bairros da cidade (75,5%), além de 286 armadilhas instaladas em locais considerados como pontos estratégicos. Assim, há um total de 2.799 ovitrampas distribuídas na capital. O objetivo da prefeitura é levar as ovitrampas, até o fim do ano, a todos os bairros da cidade. 

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A cada 15 dias, um agente de vigilância ambiental e endemias recolhe a palheta, que é levada para o Centro de Vigilância Ambiental do Recife - SESAU RECIFE/DIVULGAÇÃO

As ovitrampas consistem em um recipiente simples pintado de preto e uma solução de água com larvicida. Elas simula o ambietne perfeito para depósito de ovos pelo mosquito. Em cada ovitrampa, há uma palheta de madeira com textura rugosa, onde são captados os ovos ali depositados. 

A cada 15 dias, um agente de vigilância ambiental e endemias recolhe a palheta, que é levada para o Centro de Vigilância Ambiental do Recife. No laboratório, os ovos são contados e analisados. Os dados coletados são fundamentais para mapear e direcionar o combate aos focos do mosquito.

“A matéria apresentada neste portal tem caráter informativo e não deve ser considerada como aconselhamento médico. Para obter informações fornecidas sobre qualquer condição médica, tratamento ou preocupação de saúde, é essencial consultar um médico especializado.”

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