"TOSSE COMPRIDA"

Crianças de 4 meses e 2 anos são os primeiros casos de coqueluche confirmados no Recife em 2024; cenário alerta para baixa cobertura vacinal

Índices de cobertura vacinal foram de 64,14% em 2022 e de 68,98% em 2023 - bem abaixo da cobertura vacinal adequada, de 90%

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Cinthya Leite

Publicado em 19/04/2024 às 10:08 | Atualizado em 19/04/2024 às 10:17
Notícia

O avanço de casos de coqueluche na cidade de São Paulo, anunciado nesta semana, leva demais cidades brasileiras a ligarem o alerta para a doença, que acomete especialmente crianças com esquema vacinal incompleto. Neste momento de vigilância, a capital pernambucana confirma os dois primeiros casos de coqueluche de 2024: um bebê de 4 meses e uma criança de 2 anos.

O dado foi apurado, pela reportagem do JC, com a Secretaria de Saúde do Recife (Sesau). "Ambos os casos têm histórico de vacina." O bebê de 4 meses, contudo, ainda não tem idade para o esquema completo, de três doses. 

"As crianças menores de 6 meses que, pela idade, não fizeram as três doses da vacina penta combinada (coqueluche, tétano, difiteria, hepatite B e Hib) apresentam maior gravidade quando acometidas pela doença. Alguns casos podem necessitar de internamento", explica o médico pediatra Eduardo Jorge da Fonseca Lima.  

A pentavalente é aplicada aos 2, 4 e 6 meses. Há ainda um reforço (com a vacina DTP) aos 15 meses e aos 4 anos, segundo o calendário do Ministério da Saúde

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Vacinas contra a coqueluche são seguras e eficazes na prevenção da doença - JAILTON JR./JC IMAGEM

RECIFE TEM QUEDA NA COBERTURA VACINAL

Assim como outras cidades brasileiras, o Recife tem apresentado queda na cobertura vacinal, incluindo da pentavalente. Segundo a Sesau, os índices de cobertura vacinal foram de 64,14% em 2022 e de 68,98% em 2023 - bem abaixo da cobertura vacinal adequada, de 90%, para proteger contra coqueluche e as outras quatro doenças já mencionadas acima. 

"Temos a preocupação com possibilidade de surtos na cidade. É importante ressaltar que a cobertura vacinal em Pernambuco foi de 63,3%, aumentou para 72,7% em 2023, mas ainda longe da meta de 90% que queremos", diz Eduardo Jorge. 

Em 2021, segundo o médico, a cobertura para o esquema das três doses iniciais, que é utilizado como o melhor indicador de adesão ao esquema vacinal, caiu 5 pontos percentuais. "Em número absolutos, isso significa que 25 milhões de crianças, em todo o mundo, não fizeram as três doses iniciais de coqueluche. E o mais grave: 15 milhões não receberam sequer uma dose. É um grande alerta para a saúde infantil, com consequências para uma geração", alerta.

A vacina tem taxa de proteção alta e, com a cobertura adequada na população-alvo, é possível reduzir a circulação da bactéria e proteger crianças e bebês. 

RECIFE TEM 170 SALAS DE VACINAÇÃO COM OFERTA DA PENTAVALENTE

"A imunização é a principal medida de prevenção. São 170 salas de vacinação no Recife, além de cinco centros que ofertam as doses", avisa a Sesau. 

COQUELUCHE, CONHECIDA COMO "TOSSE COMPRIDA"

A coqueluche é causada pela bactéria Bordetella pertussis, que vive na garganta das pessoas. A doença é popularmente conhecida como "tosse comprida" e se caracteriza por crises de tosse seca incontroláveis, intercaladas com a ingestão de ar, que provoca um som agudo, como um guincho ou chiado.

A transmissão da doença se dá por via respiratória e por gotículas de saliva quando a pessoa fala, tosse ou espirra.

O tratamento é feito com antibióticos e, quanto mais precoce, maior a chance de reduzir a gravidade e a transmissibilidade da doença.

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"A queda na vacinação é um grande alerta para a saúde infantil, com consequências para uma geração", alerta Eduardo Jorge da Fonseca Lima - JAILTON JR./JC IMAGEM

COQUELUCHE EM GESTANTES: UM GRANDE RISCO

Há ainda uma vacina acelular (dTpa) que as grávidas devem tomar a partir da 20ª semana de gestação e que oferece proteção também ao recém-nascido, até o tempo de completar o esquema vacinal, aos 6 meses de vida. 

"Ao tomar a vacina, a gestante produz anticorpos que são transferidos para o bebê pela placenta, o que proporciona proteção contra a infecção nos primeiros meses de vida, quando o sistema imunológico da criança não está ainda completamente desenvolvido", explica Eduardo Jorge. 

A passagem de anticorpos, segundo o médico, também continua a existir após o nascimento da criança, por meio do leite materno.  

COQUELUCHE ATINGE ADULTOS? 

A resposta para a pergunta acima é sim, embora a coqueluche afete mais as crianças. "Nos adultos, geralmente são casos menos intensos dos que os observados em bebês e crianças pequenas. Os sintomas podem variar de uma tosse persistente, algumas vezes com "guinchos", vômitos após as crises de tosse, dificuldade para dormir pela tosse à noite, além da febre baixa", destaca Eduardo Jorge.

O médico reforça que, nos adultos, a coqueluche tende a não ser diagnosticada com facilidade, pois os sintomas são confundidos com outras doenças respiratórias, como resfriado, gripe, asma e até tuberculose.

"No entanto, o adulto infectado transmite a doença para indivíduos susceptíveis, especialmente as crianças pequenas e com esquema vacinal incompleto. É importante que os adultos mantenham suas vacinas atualizadas contra a coqueluche com a vacina tríplice acelular dTpa, com objetivo de proteger a si mesmos e seus contactantes vulneráveis", alerta. 

As vacinas contra coqueluche são seguras? Qual a frequência de reações adversas?

As vacinas contra coqueluche são seguras e eficazes na prevenção da doença. Como acontece com qualquer imunizante, pode causar eventos adversos geralmente leves, como dor, edema e vermelhidão no local da aplicação, além de febre e irritabilidade.

"Alguns pacientes podem apresentar eventos adversos maiores e, por isso, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), sempre que possível, recomenda a utilização das vacinas acelulares para coqueluche, nas apresentações penta e hexa", diz Eduardo Jorge. 

Ele destaca que para, alguns bebês prematuros, a depender da idade gestacional e do peso ao nascimento, e crianças com algumas comorbidades, essas apresentações (vacinas acelulares contra coqueluche) são disponibilizadas nos Centros de Referência para Imunobiológicas Especiais (CRIEs). No Recife, fica localizado no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, na área central da cidade. 

“A matéria apresentada neste portal tem caráter informativo e não deve ser considerada como aconselhamento médico. Para obter informações fornecidas sobre qualquer condição médica, tratamento ou preocupação de saúde, é essencial consultar um médico especializado.”

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