Desafios do Recife: a missão é não deixar famílias sem acesso à atenção básica, porta de entrada do SUS
Meta do município é concluir, até o fim do ano, a universalização da atenção básica, com a meta de alcançar 100% de cobertura populacional
São os municípios que tornam possível os mais necessários cuidados com a saúde. A partir das cidades, é oferto o acesso inicial a serviços, o acompanhamento e o encaminhamento para unidades de saúde de maior complexidade, quando necessário. É por isso que o sistema de saúde é um dos principais temas que tomam conta da corrida eleitoral e permeia parte das promessas de campanha.
Principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), a atenção primária (ou básica) leva serviços às comunidades por meio das Unidades de Saúde da Família (USFs). Consultas, exames e outros procedimentos são disponibilizados à população.
A capital pernambucana tem a missão de, nos próximos anos, construir um SUS mais forte, através de serviços que fiquem mais próximos da população e das realidades locais.
No Recife, muito se tem avançado nesse primeiro nível de assistência. Mas ainda há muita gente que não é contemplada com essa gestão do cuidado, primordial para promoção da saúde (por exemplo, orientações para uma melhor alimentação), prevenção, tratamento de doença agudas e infecciosas, controle de doenças crônicas, cuidados paliativos e reabilitação.
"Já caminhamos bastante. Vejo que o principal desafio, quando falamos sobre atenção primária, é ampliar o acesso da cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF). Mas não adianta apenas aumentar; é preciso qualificar os serviços com número de profissionais adequados para dar conta das necessidades da população coberta por cada equipe", diz o médico de família e comunidade Carlos Eduardo Gomes de Melo, presidente da Associação Pernambucana de Medicina de Família e Comunidade.
As equipes de Saúde da Família operam em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e são compostas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde, entre outros profissionais. Cada equipe deve ser responsável por, no máximo, 4 mil pessoas. Mas a média recomendada é de 3 mil.
Atualmente, o Recife tem 80% do território coberto pela atenção básica. Até novembro de 2023, quando a capital iniciou o projeto de expansão da atenção básica, o percentual era 59%. De lá para cá, houve inaugurações de novas unidades, transformação de Unidades Básicas Tradicionais (UBTs) e Unidades de Saúde da Família (USFs) em USF Mais - aquelas que tiveram horário de funcionamento ampliado, passando de 8h às 17h para 7h às 19h, ininterruptamente.
Hoje a rede municipal conta com 56 USFs Mais e, para que elas recebam a população num horário ampliado, foram implantadas 87 novas equipes de Saúde da Família.
"A Prefeitura do Recife está empreendendo seu projeto mais ambicioso, que é o de não deixar nenhuma família ou comunidade sem referência na atenção básica para o seu território. Estamos há meses trabalhando nesse projeto, avançando em todos os pilares, como recursos humanos, gestão, investimento, estrutura, tecnologia, ampliação de atendimento, para ofertar o melhor serviço", destacou a secretária de Saúde do Recife, Luciana Albuquerque, quando anunciou, no fim de 2023, a ampliação da atenção básica para todo o território recifense.
Com isso, a meta do município é concluir, até o fim deste ano, a universalização da atenção básica através da Estratégia da Saúde da Família, com a meta de alcançar 100% de cobertura populacional. "Isso é muito importante, desde que essa expansão numérica venha acompanhada da ampliação do acesso, com mais profissionais em cada equipe. Dessa maneira, a gente garante o acesso e tem mais tempo para atender cada paciente, sem a necessidade de encaminhá-lo a outros serviços", avalia Carlos Eduardo Gomes de Melo.
HOSPITAL DA CRIANÇA
Entre as promessas de governo para a Saúde ainda não cumpridas, feitas pelo prefeito João Campos (PSB) durante a campanha para as eleições de 2020, está o Hospital da Criança do Recife, localizado no bairro de Areias, Zona Oeste da cidade.
Em nota ao JC, a Prefeitura do Recife informou que "os trabalhos, iniciados em janeiro deste ano, estão previstos para serem concluídos em dezembro. A construção da unidade de saúde conta com um investimento de R$ 116 milhões, cujos recursos são advindos do Ministério da Saúde e da gestão municipal".
A prefeitura diz que o hospital tem uma área construída de 12 mil metros quadrados e terá capacidade para realizar consultas, exames e cirurgias de pequeno porte, a fim de ampliar o acesso de crianças e adolescentes da capital ao Serviço Único de Saúde (SUS). A unidade será equipada com 60 leitos, sendo 50 destinados à enfermaria e dez à terapia intensiva (UTI).
CUIDADOS PARA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA
O Recife é a capital brasileira com maior porcentagem de pessoas com deficiência, com 11,1% dos seus habitantes de 2 anos ou mais nessa condição, o equivalente a 182 mil pessoas. O dado é do módulo Pessoas com Deficiência da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2022 (PNAD Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Possibilitar atendimento especializado e contínuo na rede de cuidados às pessoas com deficiência é um desafio para a próxima gestão municipal.
Durante a campanha para as eleições de 2020, João Campos também prometeu criar o Centro Dia da Pessoa com Deficiência. O serviço ainda não está em funcionamento.
Ao JC, a prefeitura informa que esse projeto é o Centro Especializado em Reabilitação (CER), do tipo IV, que atenderá o público em geral com algum tipo de deficiência e necessidade de reabilitação. "Esse serviço funcionará com a ativação do Hospital da Criança do Recife."
Em julho, a Rede Municipal de Saúde do Recife passou a contar com um Centro TEA - Núcleo de Reabilitação Integral, que funciona na Unidade Pública de Atendimento Especializado (UPAE) Cyro de Andrade Lima, na Mustardinha, Zona Oeste.
O centro tem capacidade para 1.413 atendimentos por mês, especialmente destinados a crianças e adolescentes que vivem com transtorno do espectro autista.
O acesso se dá por meio das unidades da atenção básica, que fazem o encaminhamento, via Central de Regulação, para os centros especializados.
SAÚDE MENTAL NA INFÂNCIA
Também na lista de serviços que devem ser concluídos ainda neste ano, está um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) infantil.
"A obra (no Pina, Zona Sul do Recife) está com 64% de execução, e a conclusão ocorrerá neste segundo semestre. Importante lembrar que os CAPS infantojuvenil Cempi, em Jardim São Paulo, e Clea Lacet, no Bongi, foram requalificados este ano, para melhorar a assistência em saúde mental para os pacientes da rede", diz a prefeitura.