Teste pioneiro na detecção da peste bubônica é avaliado em roedores e cães; custo cai de R$ 200 para menos de R$ 6

Foco da investigação foi detecção da doença em roedores e cães, com utilização de nova tecnologia capaz de entregar resultados em apenas 15 minutos

Publicado em 27/09/2024 às 10:29 | Atualizado em 27/09/2024 às 10:47

Pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, em parceria com Bio-Manguinhos (Fiocruz), com o Ministério da Saúde e a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, realizaram uma nova etapa no desenvolvimento de um teste rápido para diagnóstico da peste bubônica.

Embora rara no Brasil, a peste bubônica ainda é uma preocupação de saúde pública. A doença, causada pela bactéria Yersinia pestis e transmitida por pulgas que parasitam roedores, pode ser fatal tanto para humanos quanto para animais se não tratada rapidamente.

Entenda o estudo em campo

Entre os dias 6 e 16 de setembro, os pesquisadores estiveram no município de Virgem da Lapa, no leste mineiro, para conduzir treinamentos e testes de campo com um material pioneiro no mundo.

O foco da investigação foi a detecção da doença em roedores e cães, com a utilização de uma nova tecnologia capaz de entregar resultados em apenas 15 minutos.

Esse novo teste, que já demonstrou 100% de eficácia em laboratório, representa um avanço significativo em comparação com os métodos tradicionais, que podem levar dias para apresentar resultados e custam cerca de R$ 200. Agora, o custo será reduzido para apenas US$ 1 (um dólar - o equivalente hoje a R$ 5,44), o que torna o diagnóstico mais acessível e eficiente.

Os cientistas testaram mais de 100 mamíferos (cães e roedores) e realizaram análises adicionais em laboratório para garantir a precisão dos resultados. O teste rápido é realizado com a coleta de algumas gotas de sangue do animal, que são misturadas ao reagente disponível na ferramenta.

Em poucos minutos, o resultado é revelado a olho nu, sem precisar de equipamentos especiais, que costumam ter preço elevado e necessitar de técnicos com formação específica para serem operados.

Teste deve ser disponibilizado para todo o País

Os resultados observados têm sido promissores. O próximo passo será a aprovação do teste pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, para que ele possa ser disponibilizado em todo o País.

A Fiocruz, em conjunto com governos estaduais e o Ministério da Saúde, tem desempenhado um papel essencial no monitoramento e prevenção da peste bubônica, a fim de ajudar a prevenir surtos no País.

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Embora rara no Brasil, a peste bubônica ainda é uma preocupação de saúde pública - DIVULGAÇÃO

Resposta rápida a futuros surtos de peste bubônica 

O microbiologista Matheus Bezerra, da Fiocruz Pernambuco e envolvido no projeto, destacou a relevância dessa inovação.

"Eu, particularmente, fico grato ao ver esses materiais sendo utilizados em campo. Foi um trabalho feito por muitas mãos, e eu realmente estou feliz por isso", disse Matheus, ao se referir ao impacto que o teste terá no cotidiano das pessoas, com garantia de uma resposta rápida e eficaz a futuros episódios.

Onde há focos de peste no Brasil?

Essa inovação tem o potencial de beneficiar regiões do mundo onde a peste bubônica ainda representa uma ameaça.

Segundo o Ministério da Saúde, a peste continua potencialmente perigosa em diversas partes do mundo. No Brasil, existem duas áreas distintas consideradas focos naturais: 

  • o foco do Nordeste
  • o foco de Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro

Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, existem outras áreas pestígenas localizadas no território mineiro do Vale do Rio Doce e Vale do Jequitinhonha, que podem ser consideradas como extensão do foco do Nordeste.

O foco do Nordeste encontra-se distribuído nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco (com pequena extensão para o Piauí), Alagoas e Bahia.

Há casos de peste em humanos no País?

O Brasil não registra casos humanos de peste desde ano de 2005. O último caso ocorreu no Estado do Ceará, no município de Pedra Branca.

Transmissão da peste bubônica 

A transmissão da peste, na forma bubônica, ocorre por meio da picada de pulgas infectadas. Na forma pneumônica, a transmissão se dá por gotículas aerógenas lançadas pela tosse no ambiente.

A maior transmissibilidade se dá no período de sintomas, em que o bacilo circula no organismo em maiores quantidades.

A transmissibilidade da peste pneumônica ocorre no início da expectoração e permanece enquanto houver bactérias no trato respiratório.

O período de incubação geralmente é de 2 a 6 dias na peste bubônica.

Como tratar?

O tratamento da peste deve ser feito com antibióticos. Ele deve ser instituído precoce e intensivamente. Não se deve, em hipótese alguma, aguardar os resultados de exames laboratoriais, devido à gravidade e rapidez da instalação do quadro clínico que a peste provoca.

O ideal é que se inicie a terapêutica específica nas primeiras 15 horas após o início dos sintomas, para evitar complicações e morte.

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