Teste pioneiro na detecção da peste bubônica é avaliado em roedores e cães; custo cai de R$ 200 para menos de R$ 6
Foco da investigação foi detecção da doença em roedores e cães, com utilização de nova tecnologia capaz de entregar resultados em apenas 15 minutos
Pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, em parceria com Bio-Manguinhos (Fiocruz), com o Ministério da Saúde e a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, realizaram uma nova etapa no desenvolvimento de um teste rápido para diagnóstico da peste bubônica.
Embora rara no Brasil, a peste bubônica ainda é uma preocupação de saúde pública. A doença, causada pela bactéria Yersinia pestis e transmitida por pulgas que parasitam roedores, pode ser fatal tanto para humanos quanto para animais se não tratada rapidamente.
Entenda o estudo em campo
Entre os dias 6 e 16 de setembro, os pesquisadores estiveram no município de Virgem da Lapa, no leste mineiro, para conduzir treinamentos e testes de campo com um material pioneiro no mundo.
O foco da investigação foi a detecção da doença em roedores e cães, com a utilização de uma nova tecnologia capaz de entregar resultados em apenas 15 minutos.
Esse novo teste, que já demonstrou 100% de eficácia em laboratório, representa um avanço significativo em comparação com os métodos tradicionais, que podem levar dias para apresentar resultados e custam cerca de R$ 200. Agora, o custo será reduzido para apenas US$ 1 (um dólar - o equivalente hoje a R$ 5,44), o que torna o diagnóstico mais acessível e eficiente.
Os cientistas testaram mais de 100 mamíferos (cães e roedores) e realizaram análises adicionais em laboratório para garantir a precisão dos resultados. O teste rápido é realizado com a coleta de algumas gotas de sangue do animal, que são misturadas ao reagente disponível na ferramenta.
Em poucos minutos, o resultado é revelado a olho nu, sem precisar de equipamentos especiais, que costumam ter preço elevado e necessitar de técnicos com formação específica para serem operados.
Teste deve ser disponibilizado para todo o País
Os resultados observados têm sido promissores. O próximo passo será a aprovação do teste pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, para que ele possa ser disponibilizado em todo o País.
A Fiocruz, em conjunto com governos estaduais e o Ministério da Saúde, tem desempenhado um papel essencial no monitoramento e prevenção da peste bubônica, a fim de ajudar a prevenir surtos no País.
Resposta rápida a futuros surtos de peste bubônica
O microbiologista Matheus Bezerra, da Fiocruz Pernambuco e envolvido no projeto, destacou a relevância dessa inovação.
"Eu, particularmente, fico grato ao ver esses materiais sendo utilizados em campo. Foi um trabalho feito por muitas mãos, e eu realmente estou feliz por isso", disse Matheus, ao se referir ao impacto que o teste terá no cotidiano das pessoas, com garantia de uma resposta rápida e eficaz a futuros episódios.
Onde há focos de peste no Brasil?
Essa inovação tem o potencial de beneficiar regiões do mundo onde a peste bubônica ainda representa uma ameaça.
Segundo o Ministério da Saúde, a peste continua potencialmente perigosa em diversas partes do mundo. No Brasil, existem duas áreas distintas consideradas focos naturais:
- o foco do Nordeste
- o foco de Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro
Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, existem outras áreas pestígenas localizadas no território mineiro do Vale do Rio Doce e Vale do Jequitinhonha, que podem ser consideradas como extensão do foco do Nordeste.
O foco do Nordeste encontra-se distribuído nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco (com pequena extensão para o Piauí), Alagoas e Bahia.
Há casos de peste em humanos no País?
O Brasil não registra casos humanos de peste desde ano de 2005. O último caso ocorreu no Estado do Ceará, no município de Pedra Branca.
Transmissão da peste bubônica
A transmissão da peste, na forma bubônica, ocorre por meio da picada de pulgas infectadas. Na forma pneumônica, a transmissão se dá por gotículas aerógenas lançadas pela tosse no ambiente.
A maior transmissibilidade se dá no período de sintomas, em que o bacilo circula no organismo em maiores quantidades.
A transmissibilidade da peste pneumônica ocorre no início da expectoração e permanece enquanto houver bactérias no trato respiratório.
O período de incubação geralmente é de 2 a 6 dias na peste bubônica.
Como tratar?
O tratamento da peste deve ser feito com antibióticos. Ele deve ser instituído precoce e intensivamente. Não se deve, em hipótese alguma, aguardar os resultados de exames laboratoriais, devido à gravidade e rapidez da instalação do quadro clínico que a peste provoca.
O ideal é que se inicie a terapêutica específica nas primeiras 15 horas após o início dos sintomas, para evitar complicações e morte.