Nova versão de injeção no olho é capaz de evitar cegueira em pacientes com diabetes e idosos

Em Barcelona, o JC acompanhou discussões dos especialistas e avanços no tratamento das doenças na retina, como a DMRI e o edema macular diabético

Publicado em 02/10/2024 às 19:23 | Atualizado em 02/10/2024 às 19:29

BARCELONA (ESPANHA) - A visão fica distorcida ou embaçada, e o paciente reclama que vê uma mancha preta bem no centro. Além disso, os objetos podem parecer desbotados ou pouco detalhados, o que torna mais difícil a leitura. Essas são queixas comuns de pessoas que apresentam doenças na retina. Entre as mais comuns, que causam deficiência visual ou cegueira, estão a degeneração macular relacionada à idade (mais conhecida pela sigla DMRI) e o edema macular diabético

O tema ganhou destaque durante o a 24ª edição do Euretina, um dos principais congressos de oftalmologia do mundo, realizado em Barcelona, na Espanha, em setembro. Durante o evento, acompanhamos as discussões dos especialistas e os avanços no tratamento das doenças na retina

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acaba de aprovar, no Brasil, a versão de 8 mg do aflibercepte, também conhecido pelo nome comercial Eylia. É um medicamento injetável no olho que é usado para tratar a DMRI e a deficiência visual causada pelo edema macular diabético. 

aflibercepte 8 mg, entre outros benefícios, prolonga o intervalo entre as aplicações, que pode chegar a 20 semanas, com segurança e eficácia semelhante ao do aflibercepte 2 mg. Dessa maneira, é possível proporcionar um controle rápido e sustentado da doença. A versão de 8 mg é comercializado, no País, desde agosto deste ano, e o uso já é coberto pelos planos de saúde.

Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza o aflibercepte 2 mg. No Recife, a Fundação Altino Ventura (FAV) é uma das instituições que oferecem assistência aos pacientes com doenças na retina. "Até maio desse ano (2024), a FAV realizava 200 aplicações intravítreas por mês. Mas, a partir de então, foi feito um acordo com o governo do Estado para que o número dessas injeções fosse ampliado. Então, atualmente, fazemos cerca de 400 injeções intravítreas mensais. A nossa droga mais aplicada no momento é o Eylia 2 mg (aflibercepte)", diz a médica oftalmologista da FAV Michelle Gantois.

CINTHYA LEITE/SJCC
A médica oftalmologista da FAV Michelle Gantois participou do Euretina, em Barcelona - CINTHYA LEITE/SJCC

A oftalmologista participou do Euretina e, durante o congresso, conversou com o JC sobre o tratamento da DMRI e do edema macular diabético. "Todos os pacientes (na FAV) são do SUS. São atendidos através de financiamento do governo do Estado e do Ministério da Saúde. Eles vêm referenciados da unidade básica de saúde, passam pelo especialista em retina, fazem exames como retinografia e tomografia de coerência óptica (OCT de mácula), por exemplo, e possuem suas injeções indicadas de acordo com o diagnóstico", destaca Michelle. 

A oftalmologista acrescenta que as doenças mais tratadas costumam ser o edema macular diabético/retinopatia diabética, a DMRI úmida, o edema macular decorrente de oclusões vasculares e a retinopatia da prematuridade (em bebês prematuros). "Na FAV, são, em média, 4.800 injeções intravítreas ao ano."

Assistência no SUS

Agora, o trabalho é fazer com que todos os pacientes brasileiros com essas doenças possam ter acesso à nova versão do aflibercepte, a de 8 mg. "Já estamos trabalhando nos trâmites burocráticos, junto ao Ministério da Saúde, para que a medicação (8 mg) possa ser incorporada o mais breve possível ao SUS", informa o diretor da área terapêutica de Especialidades da Bayer, Tiago Dias. 

Em todo o mundo, de acordo com dados do Relatório Mundial sobre Visão da Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo menos 2,2 bilhões de pessoas têm uma deficiência visual ou cegueira. Desse total, pelo menos 1 bilhão poderia ter sido evitada ou ainda não foi tratada corretamente. São, em média, 8 milhões de pessoas com DMRI e 3,9 milhões com retinopatia diabética.

Ao progredir, a retinopatia diabética pode levar para o edema macular diabético, que acomete entre 7,5% e 11% das pessoas com diabetes. Essa doença da retina, principal causa de perda de visão nesses pacientes, é resultado do excesso prolongado de açúcar no sangue, o que faz os vasos sanguíneos oculares absorverem mais líquido. Isso leva ao inchaço da retina e prejudica a função visual. 

"O tratamento e acompanhamento correto é muito importante para manter a qualidade de vida ao prevenir a progressão da doença e evitar a perda da visão. Infelizmente, na prática clínica,
vemos que existem diversos fatores que podem comprometer a adesão do paciente ao tratamento, como a duração do tratamento com doses frequentes em ambas as doenças (DMRI e edema macular diabético) consideradas crônicas e, consequentemente, a frequência que precisam se deslocar para receber a medicação e fazer exames de acompanhamento da visão", explica a oftalmologista Tereza Kanadani, especialista em retina.

Durante o Euretina, ela conversou com a imprensa sobre essas condições e alertou que, no início do tratamento, o paciente já percebe melhora da visão. "Mas isso pode criar, para ele, a falsa percepção de que não há necessidade de dar continuidade." Ela complementa que o fato mais controverso é alguns pacientes não seguirem o tratamento por medo de perderem a visão. "E é exatamente o contrário: ao não se tratarem da forma adequada, o risco de perda da visão pode chegar a 100% em alguns
casos."

Uma pesquisa realizada pelo Ipec, a pedido da farmacêutica multinacional alemã Bayer, mostra que, para 65% dos oftalmologistas, os pacientes com doenças da retina abandonam o tratamento recomendado quando observam uma melhora.

"Esse é um dado preocupante e que precisa ser discutido, pois a mesma pesquisa mostrou que 97% dos oftalmologistas percebem que os pacientes dão importância ao tratamento. Então, podemos concluir que já há uma consciência sobre a relevância de tratar, mas ainda há necessidade de reforçar a conscientização sobre a manutenção do tratamento prescrito", reforça Tereza. 

Tags

Autor