HIV em transplante: entenda caso que infectou pacientes no Rio
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro disse considerar o caso "inadmissível" e afirmou ser uma "situação sem precedentes"
Pacientes do Rio de Janeiro testaram positivo para HIV, o vírus causador da Aids, após passarem por transplantes de órgãos. Segundo o Ministério da Saúde, por ora, houve a confirmação da infecção de dois doadores, antes tidos como negativos, e seis receptores.
A informação foi revelada pela Rádio Band News FM. A falha teria ocorrido em testes do Laboratório PCS Saleme, contratado por licitação pela Fundação Saúde, sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ). O local foi interditado cautelarmente.
A reportagem tentou contato com o laboratório, sem sucesso. Para a Agência Brasil, em nota, o PCS Lab afirmou que abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades e fala em episódio "sem precedentes na história da empresa, que atua desde 1969".
Em nota, a SES-RJ disse considerar o caso "inadmissível" e afirmou tratar-se de uma "situação sem precedentes". "Prestaremos toda a assistência a essas pessoas e a seus familiares", garantiu a ministra da Saúde, Nísia Trindade, em vídeo enviado à imprensa.
Ela anunciou cinco medidas imediatas, incluindo a solicitação de interdição cautelar do Laboratório PCS Saleme e a determinação de que a testagem de todos os doadores de órgãos no Rio volte a ser feita exclusivamente pelo Hemorio. Ainda ordenou a retestagem do material de todos os doadores de órgãos feita pelo Laboratório PCS Saleme.
O ministério também pede que os receptores de órgãos dos doadores infectados, bem como seus contatos, recebam atendimento especializado e estipulou ação do Departamento Nacional de Auditoria do SUS no sistema de transplantes do Rio, além da apuração de eventuais irregularidades ao contratar o laboratório.
A SES-RJ informou que criou "comissão multidisciplinar" para acolher os pacientes afetados. A pasta disse ter iniciado a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores desde dezembro, data da contratação do laboratório. "Uma sindicância foi instaurada para identificar e punir os responsáveis."
Ao Estadão, o Ministério Público do RJ informou que a 5ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Saúde da Capital instaurou um inquérito civil para investigar as irregularidades noticiadas no programa de transplantes do Estado. "O procedimento está sob sigilo, em razão do envolvimento de dados sensíveis de pacientes."
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) também informou que abriu sindicância para apurar as denúncias. "A situação é gravíssima", avaliou Walter Palis, presidente da entidade, em comunicado.
RIGOR
Diante do caso, o Ministério da Saúde lembrou que o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é "reconhecido como um dos mais transparentes, seguros e consolidados do mundo". "Existem normas rigorosas que visam a proteger tanto os doadores quanto os receptores, garantindo que os transplantes realizados no País mantenham um alto nível de confiabilidade", reforçou.
"O serviço de transplantes no Estado do Rio sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas", lembrou a SES-RJ.