Responsável por assinar laudo de órgãos infectados por HIV se apresenta a polícia após pedido de prisão

Jacqueline Bacellar, técnica que usava carimbo de biomédica e assinou exames que resultaram na infecção de seis pacientes após transplantes de órgãos

Publicado em 15/10/2024 às 18:00

A técnica do laboratório Jacqueline Iris Bacellar de Assis, de 36 anos, se entregou à polícia nesta terça-feira (15) após um mandado de prisão temporária, pelo caso de infecção por HIV de 6 pacientes.

A assinatura nos documentos que comprovam os exames como ‘não reagentes’ resultou na infecção de 6 pacientes que receberam órgãos contaminados com HIV.

Os exames em questão foram realizados no laboratório PCS Lab Saleme, onde Jacqueline trabalhou como auxiliar administrativa, segundo a mesma em entrevista para a Globo.

A prisão de Jacqueline ocorreu na Delegacia do Consumidor, na Cidade da Polícia, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde ela chegou acompanhada de seus advogados.

Certificação não reconhecida

Jacqueline, que não possuía registro como biomédica, segundo o Conselho de Biomedicina. Segundo o Lab Saleme, a técnica apresentou ao laboratório um diploma de biomédica que não foi reconhecido pela Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera.

O documento não reconhecido, datado de abril de 2022, foi entregue ao laboratório durante sua contratação, em agosto deste ano.

Tanto o Conselho de Biomedicina quanto o Conselho de Farmácia confirmaram que Jacqueline não possuía registro profissional.

Apesar de estar inscrita no Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF-RJ) como técnica de patologia clínica, ela não tinha a formação acadêmica necessária para revisar laudos, conforme exige o órgão.

Para a CNN, o advogado de Jacqueline, José Félix, afirma que Jacqueline “tem um diploma de certificação na área de patologia. Ela jamais cursou o curso de biologia medicina. Não tem nenhum diploma da área e desconhece qualquer documento”.

Seis pacientes infectados

O erro fatal nos exames ocorreu quando dois doadores de órgãos foram testados para HIV e receberam laudos falsamente negativos. Esses laudos ocorreram na infecção de seis pacientes que receberam os órgãos transplantados.

A primeira vítima identificada foi um paciente que recebeu um coração e, posteriormente, foi diagnosticada com HIV após apresentar sintomas neurológicos.

Além do coração, foram doados rins, fígado e córnea do mesmo doador, os receptores foram infectados pelos rins, sendo duas pessoas, a paciente que recebeu o figado faleceu logo após o transplante, não sendo relacionado a infecção, o paciente que recebeu a córnea testou negativo para HIV.

Outras três pessoas foram infectadas por dois rins e um fígado de uma mulher de 40 anos que faleceu no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo. Contando até o momento seis pessoas contaminadas.

A Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro transferiu os exames de 286 doadores para o HemoRio, que estão testando novamente o material armazenado.

Investigações em andamento

A operação que investiga o PCS Lab Saleme, chamada Operação Verum, levou à prisão de dois dos quatro investigados. Além de Jacqueline, o ginecologista Walter Vieira, sócio do laboratório e também responsável por supervisionar os exames de outro doador, foi preso.

Eles são investigados por crimes como falsificação de documentos, falsidade ideológica e crimes contra as relações de consumo.

O laboratório é acusado de não ter realizado corretamente os testes sorológicos, além de suspeitas de falsificação de laudos.

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