Filha de idosa que teve AVC implora por leito na UTI do HR: 'Não tem médico. Desumano'

Dona Ezinete está há 14 dias esperando um leito de UTI no Hospital da Restauração (HR) após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Publicado em 25/10/2024 às 17:34

Ezinete Gomes da Cruz, uma idosa de 81 anos, está há duas semanas implorando por um leito de UTI, no Hospital da Restauração (HR), no Recife, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou simplesmente derrame cerebral.

A história de Dona Ezinete veio à tona após a morte de outro idoso. Ivanildo Emiliano Braz, de 65 anos, também sofreu um AVC e esperou por um leito, do HR, por cinco dias, até não resistir e morrer na última segunda-feira (21).

Em entrevista ao Meio Dia, da TV Jornal, a filha de Dona Ezinete, Simone Gomes, disse que tem medo da mãe passar pela mesma situação e afirmou que vai lutar para que ela não seja mais uma nas estatísticas.

"14 dias [aguardando leito]. Estou aqui com o documentação da solicitação da UTI, mas é uma eternidade. Essa senha não sai. É um descaso, uma falta de respeito, uma negligência, uma falta de humanidade. Onde está a gestão?", cobrou Simone.

A mulher afirmou que, a cada dia que chega no HR, tem uma novidade sobre o quadro da mãe e criticou a falta de médicos.

"Mais de 50% dos profissionais aqui são plantonistas. Cada dia que eu chego, às 14h, para receber minha mãe, é uma novidade. Eu não tenho o quadro clínico correto. Não tenho médico para acompanhar o processo", protestou.

Ainda segundo Simone, nem a assepsia hospitalar está sendo feita em sua mãe. Ela relatou que gastou do próprio dinheiro para comprar o material que poderia evitar a escara, mas não pôde utilizar.

"[Não pôde utilizar] porque já estava com escara. Passou 48 horas e não colocaram as placas. Foi solicitado [a vistoria] por uma médica, amiga da gente, que esteve aqui, no sábado, e verificou que estava com início de escara. Eu fui na farmácia, comprei [o material para higienização] e quando trouxe, na segunda-feira, me devolveram as placas porque já estava com escara nas nádegas, costas e no calcanhar".

 

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O pé de dona Ezinete está com escara. - Cortesia

Simone finalizou fazendo um apelo as autoridades nacionais e estaduais. "Estou angustiada, sensível... acordo de manhã e não sei para onde eu vou. Eu vou para onde? Para o Ministério da Saúde? Eu vou para a delegacia do idoso? Eu faço o que? Me digam! Qual é o local que eu vou? Procuro quem para dar um direcionamento? Minha mãe precisa de uma UTI. Ela precisa de cuidados especiais. Ela está sem falar. Sem mobilidade. Isso é surreal. Isso é desumano".

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Dona Ezinete durante seu aniversário. - Cortesia

"Eu estou me sentindo impotente. Eu não sei mais para onde eu vou. O único lugar de comunicação e de socorro que eu tenho, são vocês. Por favor, minha gente. Alguém precisa me ajudar. Alguém precisa fazer alguma coisa pela minha mãe ou vou chegar, a qualquer momento, e ela vai estar morta. É isso que vai ser preciso? [para resolverem algo]", finalizou ela.

Posição da Secretaria de Saúde de Pernambuco

Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco (SES-PE) não respondeu como está, no momento, a fila de leitos no estado, mas informou que os critérios para adentrar em um leito de UTI são estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina.

Veja a nota, na íntegra, abaixo:

"O Hospital da Restauração (HR) informa que a paciente, de 81 anos, está recebendo toda a assistência necessária, sendo acompanhada, por equipe multidisciplinar, desde a admissão na unidade. As próximas condutas médicas serão definidas de acordo com a evolução do paciente.

O HR explica ainda que os pacientes com indicação de tratamento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) são classificados, em lista única da Central de Regulação de Leitos, através de critérios estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, de acordo com a gravidade e o prognóstico, podendo ser encaminhados a qualquer unidade da rede estadual."

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