Saúde mental: novo Centro de Atenção Psicossocial no Recife atende crianças de 0 a 12 anos
Unidade começa a receber pacientes na próxima semana, com marcação e demanda espontânea - portas abertas para emergências psiquiátricas na infância
A literatura médica é clara: os transtornos mentais em adultos começam na infância em 75% dos casos, segundo mostram pesquisas mundiais. Metade deles ocorre até os 14 anos. É por isso que, neste momento em que vivemos uma explosão de transtornos depressivos e ansiosos, a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS) precisa de um reforço para dar conta da demanda crescente de crianças e adolescentes que necessitam de cuidados para manter a saúde mental em equilíbrio.
No Recife, a rede municipal fortalece o investimento em práticas de cuidado e de proteção da saúde mental das crianças mais vulneráveis. Com foco em fatores de proteção a transtornos mentais nessa faixa etária e em estímulo a uma assistência de qualidade, o Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) foi inagurado, na quarta-feira (6), no bairro do Pina, Zona Sul da capital pernambucana.
A nova unidade, batizada de CAPSi Marcela Lucena, oferece atendimento multidisciplinar para crianças de 0 a 12 anos com sofrimento psíquico e transtornos mentais que afetam o desenvolvimento saudável.
"Estamos abertos, de segunda à sexta, para acolher todas as crianças, seus familiares e seus cuidadores em momentos de sofrimento mais intenso, para ajudar a regular essas crianças. Muitas vezes, o sofrimento psíquico infantil não é percebido pela sociedade. Então, estamos muito felizes de ter mais um equipamento no Recife para olhar para a saúde mental dessas crianças", disse a gestora do CAPSi Marcela Lucena, Andrea Figueiras, 52 anos, que trabalha na Rede de Saúde do Recife há 21 anos.
É o primeiro CAPS do tipo na região. Outros quatro estão localizados na área cental da cidade, nas Zonas Norte e Oeste.
Localizado na Rua Marquês de Alegrete, nº 42, o imóvel ganhou novos equipamentos, mobília e passou por reforma de adaptação à realidade de saúde mental.
"O CAPSi Marcela Lucena funciona não só com agendamento prévio, mas as portas estão abertas para receber emergências psiquiátricas infantis. Investimos quase R$ 900 mil. Nele, temos 23 espaços diferentes, com médico psiquiatras, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fonoaudiólogas, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais", informou o prefeito João Campos, durante a inauguração do CAPSi, na última quarta-feira (6).
A nova unidade passa a ser referência em atendimento em saúde mental à população infantil do:
- Distrito Sanitário 1, que abrange os bairros do Recife, Santo Amaro, Boa Vista, Cabanga, Ilha do Leite, Paissandu, Santo Antônio, São José, Coelhos, Soledade e Ilha Joana Bezerra;
- Distrito Sanitário 6, que abrange os bairros de Boa Viagem, Brasília Teimosa, Imbiribeira, Ipsep e Pina;
- Distrito Sanitário 8, que abrange os bairros da Cohab, Ibura e Jordão.
Até então, as demandas dessas regiões eram direcionadas para o Centro Médico Psicopedagógico Infantil (Cempi), em Jardim São Paulo, Zona Oeste do Recife, e para o Caps Zaldo Rocha, na Encruzilhada, Zona Norte.
Agora, o serviço está mais próximo da população local e das equipes da Atenção Básica, da Assistência Social e da Rede de Educação Municipal que já a assiste.
Essa proximidade possibilita maior articulação com a rede territorial e comunitária da criança e sua família. Dessa maneira, é fortalecido o acesso ao cuidado em saúde mental e às práticas de cuidado psicossocial, além do enfrentamento a estigmas e preconceitos que podem levar à exclusão social de crianças com transtornos mentais.
"A saúde mental do Recife é uma das áreas que mais avançam nos últimos anos. Isso porque 11 centros foram totalmente requalificados; 142 profissionais aprovados em concurso foram convocados para a rede e também foram abertos dois equipamentos importantes: o Centro de Convivência Fátima Caio e o Serviço Integrado de Saúde Mental (SIM)", destacou a secretária municipal de Saúde, Luciana Albuquerque.
Ela acrescenta que ainda foi atualizado todo o rol de medicamentos para transtornos mentais. "Entendemos que essa pauta é prioritária, pois o atendimento especializado e integral faz muita diferença para quem precisa. Traz esperança e qualidade de vida para o paciente e para seus familiares e responsáveis."
A nova unidade atenderá, a partir da próxima semana, por demanda espontânea, sem necessidade de agendamento.
Com capacidade para 40 atendimentos por dia, o CAPSi Marcela Lucena oferecerá atividades como atendimentos individuais e em grupo de psicologia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e médico; oficinas terapêuticas com profissionais de nível médio e superior; visitas e atendimentos domiciliares, atendimentos à família, atividades comunitárias e desenvolvimento de ações intersetoriais em áreas de assistência social e educação.
A equipe é formada por psiquiatras, pediatras, enfermeiros, assistente social, psicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e técnicos de enfermagem. O funcionamento do serviço é das 7h às 19h, de segunda à sexta-feira.
O espaço conta com consultórios médicos, salas multiuso, sala de estímulo senhorial, espaço família, cozinha e refeitório, farmácia, sala de aplicação de medicamentos e sala de repouso, além de parquinho. Todo o CAPSi Marcela Lucena é climatizado e atende às normas de acessibilidade para pessoas com deficiência.
A nova unidade homenageia Marcela Adriana da Silva Lucena, que faleceu em abril deste ano. Psicóloga e servidora da Secretaria de Saúde do Recife, ela desempenhou papel importante na reforma antimanicomial e na implantação da rede de CAPS da capital pernambucana.
Sinais de alerta na saúde mental de crianças
São comportamentos aos quais profissionais (enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos e agentes comunitários) devem estar atentos:
- Regressões no desenvolvimento
- Ideação suicida na infância
- Diminuição no rendimento escolar e dificuldade no aprendizado
- Mudanças de comportamento (autoagressão, mudanças na desenvoltura), comportamentos antissociais
- Dificuldades de relacionamento, agitação, hiperatividade, comportamentos desafiadores, medos e tristezas
- Dificuldades com o sono
- Dificuldades com a alimentação
- Uso abusivo de drogas, alucinações e pseudoalucinações e lesões autoprovocadas
Para as famílias e a sociedade como um todo contribuir com o cuidado das crianças e adolescentes, é importante considerar as emoções desse público infantojuventil, incentivar que todos expressem sentimentos e propiciar uma escuta que faça com que eles se sintam acolhidos e protegidos. Dessa maneira, quando passarem por algo que os façam sentir medo, haverá um adulto confiável que terá a chance de ajudar essas crianças e adolescentes.