Saúde mental: novo Centro de Atenção Psicossocial no Recife atende crianças de 0 a 12 anos

Unidade começa a receber pacientes na próxima semana, com marcação e demanda espontânea - portas abertas para emergências psiquiátricas na infância

Publicado em 07/11/2024 às 12:46

A literatura médica é clara: os transtornos mentais em adultos começam na infância em 75% dos casos, segundo mostram pesquisas mundiais. Metade deles ocorre até os 14 anos. É por isso que, neste momento em que vivemos uma explosão de transtornos depressivos e ansiosos, a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS) precisa de um reforço para dar conta da demanda crescente de crianças e adolescentes que necessitam de cuidados para manter a saúde mental em equilíbrio. 

No Recife, a rede municipal fortalece o investimento em práticas de cuidado e de proteção da saúde mental das crianças mais vulneráveis. Com foco em fatores de proteção a transtornos mentais nessa faixa etária e em estímulo a uma assistência de qualidade, o Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) foi inagurado, na quarta-feira (6), no bairro do Pina, Zona Sul da capital pernambucana.

A nova unidade, batizada de CAPSi Marcela Lucena, oferece atendimento multidisciplinar para crianças de 0 a 12 anos com sofrimento psíquico e transtornos mentais que afetam o desenvolvimento saudável. 

Hélia Scheppa/ Prefeitura do Recife
Com capacidade para 40 atendimentos por dia, o CAPSi terá atividades como atendimentos individuais e em grupo - Hélia Scheppa/ Prefeitura do Recife

"Estamos abertos, de segunda à sexta, para acolher todas as crianças, seus familiares e seus cuidadores em momentos de sofrimento mais intenso, para ajudar a regular essas crianças. Muitas vezes, o sofrimento psíquico infantil não é percebido pela sociedade. Então, estamos muito felizes de ter mais um equipamento no Recife para olhar para a saúde mental dessas crianças", disse a gestora do CAPSi Marcela Lucena, Andrea Figueiras, 52 anos, que trabalha na Rede de Saúde do Recife há 21 anos. 

É o primeiro CAPS do tipo na região. Outros quatro estão localizados na área cental da cidade, nas Zonas Norte e Oeste. 

Localizado na Rua Marquês de Alegrete, nº 42, o imóvel ganhou novos equipamentos, mobília e passou por reforma de adaptação à realidade de saúde mental.

"O CAPSi Marcela Lucena funciona não só com agendamento prévio, mas as portas estão abertas para receber emergências psiquiátricas infantis. Investimos quase R$ 900 mil. Nele, temos 23 espaços diferentes, com médico psiquiatras, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fonoaudiólogas, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais", informou o prefeito João Campos, durante a inauguração do CAPSi, na última quarta-feira (6). 

A nova unidade passa a ser referência em atendimento em saúde mental à população infantil do:

  • Distrito Sanitário 1, que abrange os bairros do Recife, Santo Amaro, Boa Vista, Cabanga, Ilha do Leite, Paissandu, Santo Antônio, São José, Coelhos, Soledade e Ilha Joana Bezerra;
  • Distrito Sanitário 6, que abrange os bairros de Boa Viagem, Brasília Teimosa, Imbiribeira, Ipsep e Pina;
  • Distrito Sanitário 8, que abrange os bairros da Cohab, Ibura e Jordão.

Até então, as demandas dessas regiões eram direcionadas para o Centro Médico Psicopedagógico Infantil (Cempi), em Jardim São Paulo, Zona Oeste do Recife, e para o Caps Zaldo Rocha, na Encruzilhada, Zona Norte.

Hélia Scheppa/ Prefeitura do Recife
"O CAPSi Marcela Lucena é o 18º da cidade e o primeiro infantil da Zona Sul. Nele, vamos realizar o atendimento de crianças de 0 até 12 anos na área de saúde mental", diz o prefeito João Campos - Hélia Scheppa/ Prefeitura do Recife

Agora, o serviço está mais próximo da população local e das equipes da Atenção Básica, da Assistência Social e da Rede de Educação Municipal que já a assiste.

Essa proximidade possibilita maior articulação com a rede territorial e comunitária da criança e sua família. Dessa maneira, é fortalecido o acesso ao cuidado em saúde mental e às práticas de cuidado psicossocial, além do enfrentamento a estigmas e preconceitos que podem levar à exclusão social de crianças com transtornos mentais. 

"A saúde mental do Recife é uma das áreas que mais avançam nos últimos anos. Isso porque 11 centros foram totalmente requalificados; 142 profissionais aprovados em concurso foram convocados para a rede e também foram abertos dois equipamentos importantes: o Centro de Convivência Fátima Caio e o Serviço Integrado de Saúde Mental (SIM)", destacou a secretária municipal de Saúde, Luciana Albuquerque.

Ela acrescenta que ainda foi atualizado todo o rol de medicamentos para transtornos mentais. "Entendemos que essa pauta é prioritária, pois o atendimento especializado e integral faz muita diferença para quem precisa. Traz esperança e qualidade de vida para o paciente e para seus familiares e responsáveis."

A nova unidade atenderá, a partir da próxima semana, por demanda espontânea, sem necessidade de agendamento.

Com capacidade para 40 atendimentos por dia, o CAPSi Marcela Lucena oferecerá atividades como atendimentos individuais e em grupo de psicologia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e médico; oficinas terapêuticas com profissionais de nível médio e superior; visitas e atendimentos domiciliares, atendimentos à família, atividades comunitárias e desenvolvimento de ações intersetoriais em áreas de assistência social e educação.

A equipe é formada por psiquiatras, pediatras, enfermeiros, assistente social, psicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e técnicos de enfermagem. O funcionamento do serviço é das 7h às 19h, de segunda à sexta-feira. 

O espaço conta com consultórios médicos, salas multiuso, sala de estímulo senhorial, espaço família, cozinha e refeitório, farmácia, sala de aplicação de medicamentos e sala de repouso, além de parquinho. Todo o CAPSi Marcela Lucena é climatizado e atende às normas de acessibilidade para pessoas com deficiência.

A nova unidade homenageia Marcela Adriana da Silva Lucena, que faleceu em abril deste ano. Psicóloga e servidora da Secretaria de Saúde do Recife, ela desempenhou papel importante na reforma antimanicomial e na implantação da rede de CAPS da capital pernambucana.

Sinais de alerta na saúde mental de crianças

São comportamentos aos quais profissionais (enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos e agentes comunitários) devem estar atentos:

  • Regressões no desenvolvimento
  • Ideação suicida na infância
  • Diminuição no rendimento escolar e dificuldade no aprendizado
  • Mudanças de comportamento (autoagressão, mudanças na desenvoltura), comportamentos antissociais
  • Dificuldades de relacionamento, agitação, hiperatividade, comportamentos desafiadores, medos e tristezas
  • Dificuldades com o sono
  • Dificuldades com a alimentação
  • Uso abusivo de drogas, alucinações e pseudoalucinações e lesões autoprovocadas

Para as famílias e a sociedade como um todo contribuir com o cuidado das crianças e adolescentes, é importante considerar as emoções desse público infantojuventil, incentivar que todos expressem sentimentos e propiciar uma escuta que faça com que eles se sintam acolhidos e protegidos. Dessa maneira, quando passarem por algo que os façam sentir medo, haverá um adulto confiável que terá a chance de ajudar essas crianças e adolescentes. 


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