Brasil tem 6 mortes por hora atribuídas ao consumo de ultraprocessados, afirma estudo

No estado de Pernambuco, em 2019, o número de mortes chegou a 2.539 e os custos estimados da mortalidade prematura foi de mais de R$ 400 milhões

Publicado em 22/11/2024 às 11:00 | Atualizado em 23/11/2024 às 14:15
Google News

O consumo de alimentos ultraprocessados tem representado uma perda financeira e humana significativa no Brasil, de acordo com relatórios do pesquisador Eduardo Nilson, do Observatório de Hábitos Alimentares da Fiocruz Brasília e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde Pública (Nupens/USP).

Os ultraprocessados são aqueles produzidos com pouco ou nenhum alimento in natura e nutricionalmente desbalanceados, como biscoitos recheados, salgadinhos de pacote, refrigerantes e macarrão instantâneo.

Nos estudos, Nilson reuniu dados sobre a quantidade de mortes atribuíveis aos ultraprocessados e o impacto na economia do país.

De acordo com o pesquisador, em 2019, cerca de 57 mil mortes prematuras foram atribuídas ao consumo de alimentos ultraprocessados em todo o território nacional - 10,5% das mortes do país naquele ano. Esse número representa o agravamento das doenças associadas a essa categoria e equivale a 6 mortes por hora, ou 156 mortes por dia.

Só no estado de Pernambuco, em 2019, o número de mortes chegou a 2.539.

Consumo de ultraprocessados custa mais de R$ 10 bi por ano ao Brasil

Eduardo Nilson investigou, ainda, a relação do consumo de alimentos ultraprocessados na população adulta do Brasil com os custos diretos e indiretos que a obesidade, diabetes e hipertensão representam para a economia do país.

De acordo com ele, por ano, o custo dos ultraprocessados ultrapassa os R$ 10 bilhões. O valor inclui os custos diretos de tratamentos no SUS, os custos previdenciários por aposentadoria precoce e licença médica e as perdas econômicas com as mortes por todas as causas atribuíveis ao consumo de ultraprocessados.

Desses:

  • R$9,2 bilhões milhões/ano são por mortes prematuras, custos preveníveis que representam as perdas econômicas pela saída de pessoas em idade produtiva do mercado de trabalho por todas as causas de morte;
  • R$933,5 milhões/ano são os custos com o tratamento no SUS (hospitalares, ambulatoriais e com o programa Farmácia Popular) da diabetes, hipertensão e obesidade;
  • R$263,2 milhões/ano são custos previdenciários (aposentadoria precoce e licenças médicas) e custos por absenteísmo (internações e licenças médicas).

O estudo aponta que o custo dos ultraprocessados representa o dobro do que é investido no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) todos os anos e 300x mais do que é investido em Cozinhas Solidárias, por exemplo.

GUGA MATOS/JC IMAGEM
Pesquisador Eduardo Nilson pontua que, no Brasil, tendência de aumento no consumo de ultraprocessados afeta famílias de menor renda e crianças e adolescentes - GUGA MATOS/JC IMAGEM

“No Brasil observa-se uma tendência de aumento no consumo de ultraprocessados ao longo das últimas décadas, particularmente nas famílias de menor renda e entre crianças e adolescentes”, explica o pesquisador no relatório.

Em Pernambuco, os custos estimados da mortalidade prematura atribuíveis ao consumo de produtos ultraprocessados em 2019 foi de mais de R$ 400 milhões.

Foram considerados dados do SUS e do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). O valor é a soma de custos diretos - como hospitalização e medicamentos para o diabetes, a hipertensão e a obesidade - e indiretos - como benefícios previdenciários oficiais e absenteísmo por licenças médicas e internações hospitalares.

“Esses dados, junto com os de estudos anteriores, mostram a urgência de políticas públicas voltadas para a redução do consumo de produtos ultraprocessados, como tributação majorada/reforma tributária, a rotulagem nutricional e a regulação da venda e marketing desses produtos”, afirma o pesquisador em seu relatório.

Posicionamento da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos

Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) esclareceu que o documento não se trata de um estudo da Fiocruz, mas um relatório elaborado pelo pesquisador a pedido da organização ACT.

A ABIA afirma que o relatório é "superficial" e que "se baseia em dados de risco relativo extraídos de estudos já classificados como de baixa qualidade".

Veja a nota na íntegra:

"É importante esclarecer que o documento em questão não se trata de um estudo da Fiocruz, mas sim de um relatório elaborado por um pesquisador a pedido da ACT, uma ONG que, de forma constante, critica a indústria. Trata-se de um relatório superficial, que se baseia em dados de risco relativo extraídos de estudos já classificados como de baixa qualidade, os quais não foram realizados no Brasil e não incluem informações específicas sobre o país. Portanto, o relatório não reflete a realidade do consumo da população brasileira.

Além disso, o que classificam como "alimento ultraprocessado" não possui uma definição clara, abrangendo mais de 5.700 itens produzidos pelas indústrias brasileiras. Entre eles estão produtos como pão, requeijão e iogurte, compondo uma lista extensa e diversificada de alimentos que pouco têm em comum.

Causa preocupação e indignação a disseminação de alegações à sociedade brasileira que atribuem a mais de 5.700 alimentos, produzidos por 41 mil indústrias no país e rigorosamente regulamentados e aprovados por órgãos como a Anvisa e o Ministério da Agricultura, a responsabilidade direta por doenças e mortes.

O relatório afirma que “não há consumo seguro” desses alimentos, mesmo assumindo que “ainda não há estudos que estimam o risco relativo e a relação dose-resposta para todos os desfechos de saúde associados ao seu consumo”.

Os alimentos produzidos pela indústria brasileira passam por rigorosos controles de qualidade e são aprovados não só pelas autoridades nacionais, como internacionais também. A confiabilidade desses alimentos é evidenciada pelo fato de o Brasil exportar para mais de 190 países, cumprindo rígidos padrões sanitários de cada mercado."

Tags

Autor