Pela voz, inteligência artificial pode detectar alterações cognitivas e insuficiência cardíaca

Tema é destaque do Congresso Ética.com, que aconteceu em paralelo ao 32º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia (CBFa), que vai até 30/11 em São Paulo

Publicado em 28/11/2024 às 12:41 | Atualizado em 28/11/2024 às 17:12
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SÃO PAULO - A fonoaudiologia tem aproveitado todo o potencial da inteligência artificial (IA) no diagnóstico, na terapia e reabilitação dos pacientes, como também na análise de dados para pesquisa. Esse é um dos temas em alta do 32º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia (CBFa), que começa nesta quinta-feira (28) e termina no sábado (30), no Centro de Convenções Frei Caneca, na cidade de São Paulo. 

Durante o evento, o presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), Leonardo Wanderley Lopes, ressalta o quanto a IA pode processar grandes volumes de dados para identificar padrões e tendências relacionados a distúrbios da fala, linguagem e audição.

"Além disso, a tecnologia tem usado o sinal da voz para predizer se algo ocorre de maneira diferente no sistema cardiovascular do paciente. E também para analisar se, a partir da voz, o paciente tem um declínio cognitivo que pode ser um marcador de demência", disse Leonardo durante o Congresso Brasileiro e Paulista de Ética e Comunicação em Saúde (Ética.com), realizado pelo Crefono com a SBFa, na quarta-feira (27), em paralelo ao CBFa.

Também professor do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Leonardo faz parte do grupo de pesquisa que estuda os biomarcadores vocais e neurofisiológicos para predição, diagnóstico e monitoramento da saúde. O presidente da SBFa ainda é líder do Laboratório Integrado de Estudos da Voz (LIEV) da UFPB, uma das unidades na coordenação do subprojeto. 

"Precisamos destacar que devemos fazer uma abordagem ética para o uso da inteligência artificial em saúde e, dessa forma, potencializar a prática fonoaudiológica com respeito e foco no bem-estar do paciente", sublinhou Leonardo, em palestra no Congresso Ética.com.

Com isso, ele listou a importância de a ciência, ao recorrer à IA, considerar pontos como privacidade e confidencialidade, consentimento (esclarecer pacientes como a IA será usada e como informações serão analisadas) e transparência (orientar pacientes de que a IA complementa e não substitui a análise humana)

A detecção precoce de condições mentais e neurodegenerativas apenas pela análise da voz é, segundo Leonardo, decorrente de sua característica complexa. Ou seja, para ser produzida, a voz se liga a outras estruturas do corpo e áreas do cérebro. 

Dessa maneira, alterações nesses pontos podem afetar a voz, mesmo que de forma sutil. Essas alterações geralmente são imperceptíveis ao ouvido humano, mas conseguem ser reconhecidas pela IA.

A pesquisa, que receberá cerca de R$ 5 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), é um dos quatro subprojetos da UFPB classificados em chamada pública, promovida pela entidade, para financiamento de infraestrutura de pesquisa por meio de modernização de ambientes físicos e aquisição de equipamentos.

Segundo Leonardo, está em estudo o desenvolvimento de sensores com inteligência artificial que capazes de identificar mudanças de padrão na voz humana, com o objetivo de indicar possíveis transtornos mentais ou neurodegenerativos, como depressão, Alzheimer e outros tipos de demência. 

Pelo o que propõe o projeto, essas tecnologias vão mapear o funcionamento cerebral, muscular e de outras estruturas corporais durante a fala, a interação social e o desempenho motor.

A UFPB tem um histórico de aplicação da IA à saúde. Um exemplo é algoritmo desenvolvido por pesquisadores da engenharia mecânica e da medicina que usa a IA para ajudar a diagnosticar insuficiência cardíaca pela análise da voz dos pacientes.

A expectativa é que os futuros sensores possam ser comercializados a um custo acessível, a fim de oferecer soluções para o monitoramento da saúde e diagnóstico de condições como autismo, Alzheimer e depressão. 

*A jornalista viajou a convite da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia

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