Câncer de pênis leva a 2,2 mil internações por ano e gera 600 amputações no Brasil

Doença pode começar com alteração na pele do pênis, como mudança de cor e textura. Assim, pode evoluir para ferida que sangra e secreção com mau odor

Publicado em 03/02/2025 às 18:00
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Neste mês marcado pelo Dia Mundial do Câncer (4/2), a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) realiza a quinta edição da Campanha de Prevenção ao Câncer de Pênis para conscientizar sobre a prevenção e tratamento precoce desse tumor.

Durante todo o mês de fevereiro, médicos esclarecerão dúvidas sobre a doença nas redes sociais da entidade no Instagram, Facebook e Tik Tok (@portaldaurologia). E ao longo do mês, a SBU e suas seccionais realizam um grande mutirão de postectomias (retirada da pele que recobre a cabeça do pênis) em vários Estados brasileiros. 

Tipo de tumor raro, mas que no Brasil ainda atinge estatísticas alarmantes, o câncer de pênis está associado à má higiene íntima, à infecção pelo papilomavírus humano (HPV) e a homens que não se submeteram à circuncisão (remoção do prepúcio, pele que reveste a glande - a 'cabeça' do pênis).

No Brasil, o câncer de pênis é mais comum nas regiões Norte e Nordeste, onde representa 2% de todos os tipos de câncer que atingem os homens. 

A doença pode começar com alterações na pele do pênis, como mudança de cor e na textura. Assim, pode evoluir para presença de nódulo e ferida que sangra e secreção com mau odor. 

Segundo dados obtidos com exclusividade pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) com o Ministério da Saúde, nos últimos dez anos, o Brasil registrou mais de 22,2 mil internações devido ao câncer de pênis. Nesse mesmo período, a média ultrapassou 580 amputações de pênis por ano. E de 2014 a 2023, foram contabilizadas mais de 4,5 mil mortes em decorrência dessa neoplasia.

"Apesar de ser um dos poucos tipos de câncer que podem ser prevenidos, o Brasil ainda apresenta preocupantes índices relativos ao câncer de pênis, especialmente nas regiões Norte e Nordeste", alerta o presidente da SBU, Luiz Otavio Torres. 

"Nosso maior objetivo com a campanha é informar os homens que é possível prevenir e, caso ele surja, que seja diagnosticado e tratado de forma precoce, a fim de evitar a amputação do órgão", acrescenta. 

Fimose e câncer de pênis

Há uma relação estreita entre o câncer de pênis e a fimose, principalmente quando se trata do diagnóstico precoce da doença. 

Entre os fatores que podem levar ao aparecimento do câncer de pênis, está a dificuldade do homem em expor a cabeça do pênis (glande) para higienizá-la, condição conhecida como fimose.

Assim, quando a postectomia (cirurgia para correção da fimose) não é feita, pode acarretar acúmulo de esmegma (secreção), o que dificulta a higiene correta e propicia o desenvolvimento da neoplasia maligna.

"A presença de fimose (excesso de pele que cobre a glande e que impede que ela seja exteriorizada) pode ocultar uma lesão em fase inicial que poderia ser tratada de forma menos agressiva e mutilante, além de prevenir uma possível disseminação da doença em forma de metástase", explica o urologista  José Calixto, membro da Disciplina de Câncer de Pênis da SBU e um dos organizadores do mutirão de postectomias.

"O estímulo à realização de postectomias tem como objetivo educar os homens sobre a importância de uma higiene adequada do pênis, reduzir as chances de perda do órgão e possibilitar o diagnóstico precoce de lesões pré-malignas ou até já malignas." 

Neste ano, a SBU chega ao segundo mutirão de postectomias, e a expectativa é realizar cerca de 100 procedimentos.

Na primeira edição do mutirão, em 2022, a expectativa também era de 100 cirurgias, mas foi possível superar a margem e contemplar 187 homens das regiões Norte e Nordeste.

Como o câncer de pênis se manifesta? 

A maior incidência do câncer de pênis costuma ocorrer em homens a partir dos 50 anos, mas ele também pode acometer os mais jovens. 

Os sinais comuns de câncer de pênis geralmente são: 

  • Ferida que não cicatriza;
  • Sangramento sob o prepúcio;
  • Secreção com forte odor;
  • Espessamento ou mudança de cor na pele da glande (cabeça do pênis);
  • Presença de nódulos na virilha. 

E entre os fatores de risco do câncer de pênis, estão:

  • Baixas condições socioeconômicas;
  • Higiene inadequada da região íntima;
  • Fimose;
  • Infecção pelo vírus HPV (papilomavírus humano);
  • Tabagismo.

O câncer de pênis, apesar de ser amplamente evitável, ainda causa mutilações e mortes no Brasil. "Não podemos ignorar os sinais de alerta, pois são eles que nos auxiliam a fazer o diagnóstico o mais precoce possível, evitando suas consequências mais sérias. E se houver fimose, deve-se procurar logo corrigir", destaca a urologista Karin Jaeger Anzolch, diretora de Comunicação e coordenadora das campanhas de awareness da SBU.

Muitos casos de câncer de pênis poderiam ser evitados ou tratados de maneira menos agressiva com atenção à higiene íntima e intervenções precoces. "Essas medidas não apenas contribuem para a qualidade de vida dos pacientes, mas também evitam a necessidade de amputação do pênis e reduzem o risco de morte pela doença", ressalta o urologista Roni de Carvalho Fernandes, diretor da Escola Superior de Urologia da SBU.

Tem como tratar o câncer de pênis? 

O tratamento do câncer de pênis, que depende do estágio do tumor, pode contemplar a remoção da lesão por meio de cirurgia, radioterapia, quimioterapia e até mesmo amputação de parte ou de todo o pênis.

"O tratamento cirúrgico (penectomia), que se constitui em retirada do pênis, pode ser feito parcialmente, para casos iniciais, ou uma retirada completa do órgão, em casos avançados. Na remoção parcial, o paciente permanece com um coto peniano possibilitando urinar em pé e, dependendo do tamanho do coto, atividade sexual", esclarece o urologista Maurício Cordeiro, coordenador do Departamento de Uro-Oncologia da SBU.

Ele acrescenta que, nos casos de remoção completa do pênis, a uretra é colocada na região de períneo (entre o escroto e o ânus), e o paciente precisa se sentar para urinar. "A atividade sexual com penetração já fica impossibilitada. Em casos avançados, o principal local de disseminação da doença é para os gânglios da região inguinal e a realização de uma linfadenectomia inguinal bilateral se faz necessária."

O urologista acrescenta que atualmente é possível realizar a linfadenectomia inguinal por via laparoscópica ou robótica, o que permite uma recuperação mais rápida e taxas menores de complicação da ferida operatória. 

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