O desafio de enfrentar a dor que não vai embora: conheça a realidade da fibromialgia
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a doença afeta cerca de 3% da população brasileira e é mais prevalente em mulheres de 30 a 50 anos

Causada por uma alteração no sistema nervoso central, que amplifica a percepção da dor, a fibromialgia afeta cerca de 3% da população brasileira e é mais prevalente em mulheres entre 30 e 50 anos. Neste mês de fevereiro, a atenção de médicos, pesquisadores e autoridades de saúde se voltam também para a importância do diagnóstico precoce de doenças neurológicas como a fibromialgia.
Trata-se da campanha Fevereiro Roxo, cujo objetivo também é promover a conscientização sobre a necessidade de pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novas terapias para essas doenças.
O principal sintoma da fibromialgia é uma dor generalizada que acomete os dois lados do corpo por mais de três meses. O diagnóstico é clínico, pois não há alterações detectáveis em exames de sangue ou radiografias", explica o neurologista e clínico-geral Conrado Friggi Bissoli.
A intensidade da dor pode variar ao longo do tempo e ser desencadeada por fatores como estresse, desenvolvimento de outras doenças como infecções virais ou eventos traumáticos.
O que é fibromialgia? Descubra quais são os sintomas
A fibromialgia tem como sintomas dores generalizadas pelo corpo, principalmente nas articulações, músculos, tendões e tecidos moles, com duração prolongada. Somado a essa quadro, a fibromialgia pode causar fadiga, distúrbios do sono e depressão que está associada a desequilíbrios de neurotransmissores no cérebro (como a serotonina). Podem aparecer ainda ansiedade, dificuldades de memória e concentração, bem como alterações intestinais.
"Dor, muita dor no corpo todo. Ela está comigo há tanto tempo que já somos amigas íntimas. Aprendi a conviver com isso, apesar de não ser nada fácil. A sensação que tenho é de estar sendo abraçada por um arame farpado o tempo todo", relata a secretária Claudia Aguiar, que foi diagnosticada com fibromialgia em 2013.
"Mas não é só a dor. Há também a tristeza, a ansiedade, a fadiga, a sensação de inutilidade por não conseguir tomar um banho direito, porque até a água do chuveiro causa dor quando encosta no couro cabeludo", complementa.
A razão da predominância da doença entre mulheres ainda não é totalmente compreendida, e estudos indicam que não há relação direta com os hormônios, pois a doença pode ocorrer tanto antes quanto depois da menopausa.
A secretária Claudia Aguiar conta que, além de medicamentos para controlar o desconforto, investe em terapia. "As pessoas me veem e dizem: 'Mas você é tão alto astral, está sempre sorrindo, de bem com a vida'. Sigo assim porque não quero me tornar a reclamona. Mas já fiquei afastada do trabalho por dez dias sem conseguir me mexer, de tanta dor", conta a secretária.
Qual é o tratamento para fibromialgia?
Especialistas afirmam que a fibromialgia não tem cura, mas pode ser controlada com eficácia. O tratamento combina duas abordagens: medicamentosa e integrativa.
Os medicamentos têm como objetivo reduzir a dor e melhorar a qualidade de vida do paciente, além de auxiliar no sono e no controle do estresse. Para isso, podem ser prescritos antidepressivos, analgésicos e anticonvulsivantes.
Já as terapias integrativas como fisioterapia, acupuntura e massagens, envolvem estratégias que ajudam a minimizar a dor e o impacto emocional da doença.
"O tratamento é individualizado e inclui orientações para evitar esforços pesados ou repetitivos, além da prática de alongamentos e exercícios musculares, preferencialmente com acompanhamento de um fisioterapeuta", diz Conrado.
"Além disso, o uso de medicamentos para aliviar e prevenir as dores crônicas é essencial, frequentemente associado a antidepressivos, já que a doença pode causar alterações emocionais devido à dor constante e às limitações diárias", completa.
Cuidado deve ser global e humanizado
O reumatologista Levi Jales Neto, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, concorda que o cuidado com a fibromilagia deve ser interdisciplinar. "Destacamos a fisioterapia regular, a prática de exercícios físicos supervisionados, a estimulação magnética transcraniana, o acompanhamento psicológico e o uso de técnicas alternativas, como a acupuntura. Essa abordagem visa oferecer um cuidado global e humanizado, a fim de promover o bem-estar e a qualidade de vida de quem enfrenta essa condição", comenta.
Abaixo, o reumatologista Levi Jales Neto lista algumas dicas que podem auxiliar os pacientes no dia a dia da convivência com a fibromialgia. Confira:
Como melhorar o sono de quem tem fibromialgia?
O sono é importante para a regeneração física e mental. Para pessoas com fibromialgia, é ainda mais essencial estabelecer horários regulares para dormir e acordar, mesmo nos fins de semana. Dormir em um ambiente tranquilo, escuro e confortável, além de evitar o uso de dispositivos eletrônicos antes de deitar, pode reduzir os episódios de insônia e o cansaço excessivo durante o dia.
Qual o melhor exercício para quem tem fibromialgia?
A atividade física moderada pode aliviar dores musculares e melhorar a mobilidade. Caminhadas, ioga, pilates ou hidroginástica são boas opções para quem sofre de fibromialgia, pois evitam sobrecarga das articulações e promovem um condicionamento físico gradual.
"O ideal é começar devagar, respeitar os limites do corpo e contar com a orientação de um fisioterapeuta ou educador físico para garantir práticas seguras", comenta Levi Jales Neto.
Como deve ser a alimentação?
Uma dieta rica em nutrientes desempenha um papel importante no equilíbrio do organismo. Alimentos anti-inflamatórios, como frutas, verduras, peixes ricos em ômega-3 e grãos integrais, podem ajudar a aliviar os sintomas. Além disso, deve-se evitar açúcares refinados, gorduras trans e alimentos ultraprocessados pode reduzir picos de inflamação e fadiga.
Como o emocional afeta a fibromialgia? Quem tem fibromialgia pode ter estresse?
Gerenciar o estresse é fundamental, já que ele pode agravar os sintomas da fibromialgia. "Práticas como meditação, mindfulness e respiração profunda ajudam a reduzir a tensão emocional. Participar de grupos de apoio ou buscar a ajuda de um psicólogo também pode ser uma ferramenta valiosa para identificar gatilhos emocionais e promover maior equilíbrio mental e emocional", reforça Levi Jales Neto.
Qual é o médico que cuida de fibromialgia?
O diagnóstico e o tratamento da fibromialgia precisam de um acompanhamento contínuo, realizado por médicos que compreendam a complexidade da condição.
Consultas regulares são essenciais para avaliar a eficácia dos tratamentos, ajustar medicamentos e encaminhar para outras especialidades, como reumatologia, fisioterapia ou psicologia, conforme necessário.
"Embora a fibromialgia seja uma condição crônica, o prognóstico tem melhorado significativamente graças aos avanços no tratamento e à maior compreensão da síndrome. O mais importante é não desistir e buscar ajuda profissional especializada", sublinha Levi Jales Neto.
Pesquisa e ciência no combate aos sintomas da fibromialgia
O rol de medicamentos para o tratamento da fibromialgia é amplo e inclui analgésicos, anti-inflamatórios, antidepressivos, ansiolíticos, anticonvulsivantes, relaxantes musculares e medicamentos para distúrbios do sono.
"O tratamento medicamentoso da fibromialgia, além de aliviar a dor, busca melhorar a qualidade do sono e tratar sintomas associados, como depressão e ansiedade", explica a pesquisadora da indústria farmacêutica Prati-Donaduzzi Amanda Bedin.