INCÊNDIO BOATE KISS

SOBREVIVENTES BOATE KISS: conheça vítimas que sobreviveram à tragédia da Boate Kiss em Santa Maria

Tragédia da Boate Kiss deixou 242 pessoas mortas e mais de 600 feridas

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Bianca Dias

Publicado em 25/01/2023 às 16:12 | Atualizado em 30/01/2023 às 12:11
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*Conteúdo Sensível: Esta matéria pode ser sensível para algumas pessoas.

Quase 10 anos depois do incêndio da Boate Kiss, a tragédia acontecida na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, ainda choca o Brasil. 

Em 27 de janeiro de 2013, a banda Gurizada Fandangueira se apresentava no palco da Boate Kiss.

O evento foi organizado por estudantes dos cursos de agronomia, medicina veterinária, zootecnia, técnico em agronegócio, técnico em alimentos e pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Eram mais de 800 jovens presentes no local.

Em certo momento, um dos integrantes da banda acendeu um artefato pirotécnico e as faíscas atingiram as espumas de isolamento do teto da boate. O produto era inapropriado para uso interno e produziu substâncias tóxicas quando queimada.

WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL
CHAMAS Fogo começou quando banda disparou sinalizador no palco - WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL

A Kiss ainda tinha documentação irregular, estava superlotada naquele dia e possuía sinalização precária, sem um sistema de saída de fumaça ou chuveiros antifogo. 

Sobreviventes afirmam que uma fumaça preta invadiu o local em pouco tempo e dificultou o encontro da rota de fuga. Muitos acabaram fugindo para o banheiro, onde foram encontrados, posteriormente, mortos.

Ao todo, foram contabilizadas 242 pessoas mortas e mais de 600 feridas na tragédia. 

Primeiros instantes do resgate de vítimas do incêndio na Boate Kiss

 

Conheça os sobreviventes da Boate Kiss

Kelen Ferreira

Na época, Kelen Ferreira era estudante de Terapia Ocupacional e estava na Kiss com duas amigas.

Durante o incêndio, ela foi arrastada, mas a sandália ficou presa e estrangulou o tornozelo. 

Kelen foi a primeira pessoa a ser socorrida, porém acabou tendo uma necrose e precisou amputar a perna direita. Além disso, a jovem teve 18% do corpo queimado, o que resultou em marcas nos seus braços.

Após 78 dias internada, Kelen falou que vê a “a vida de forma diferente. Dou mais valor para minha família, meus amigos. Estou recomeçando a cada dia. A gente tem que continuar a viver”.

Delvani Brondani

No fim de semana da tragédia, Delvani Brondani estava com o seu irmão, Jovani, visitando os amigos na cidade. Ele é natural do município de Manoel Viana.

Em seu depoimento, o jovem, que tinha 21 anos na época, falou que quando o incêndio começou, eles deram os braços para andarem juntos. Porém o empurra-empurra os fez se separar e tentar sair do local cada um por si. 

Delvani, entretanto, foi perdendo as forças enquanto tentava se salvar. “Enquanto fui caindo, fui me despedindo da minha família, dos meus amigos, pedindo desculpas por alguma coisa que eu tivesse feito. Senti meu corpo queimar, fui caindo e desmaiei”, lembrou.

O sobrevivente foi salvo pelo irmão, que conseguiu também tirar outras pessoas da boate. Delvani e Jovani, porém, acabaram perdendo três amigos, Henrique, Cássio e Jacob.

O jovem passou 2 meses internado, emagrecendo 20 kg e precisando reaprender a fazer coisas básicas, como caminhar e se alimentar. Atualmente, ele ainda possui marcas nos braços e nas costas.

Jéssica Montardo

Jéssica Montardo Rosado estava com o irmão, Vinícius, e amigos na Kiss para assistir ao show da Gurizada Fandangueira. 

Em seu depoimento, ela disse não lembrar do percurso para sair da boate durante o incêndio, porém recordava de estar apavorada com tanta gente em sua volta e chegou a ligar à família, preocupada com o irmão.

REPRODUÇÃO DE VÍDEO/TJRS JÉSSICA
Jéssica Montardo estava na Boate Kiss com o irmão, que acabou não sobrevivendo à tragédia. - REPRODUÇÃO DE VÍDEO/TJRS JÉSSICA

Vinícius, infelizmente, não sobreviveu ao incêndio. Ele tinha 26 anos na época e ajudou a salvar outras vítimas, porém faleceu no hospital. 

“Meu irmão era um gigante solidário. Ele jamais seria o mesmo se tivesse voltado para a casa e não tivesse ajudado ninguém, vendo a magnitude que foi”. falou Jéssica, afirmando que os bombeiros pediram que ele não entrasse na boate.

Emanuel de Almeida

Emanuel de Almeida Pastl tinha 18 anos no dia 27 de janeiro de 2013 e comemorava o aniversário com o irmão gêmeo e amigos na boate Kiss. 

Quando o incêndio começou, ele falou que não soou alarme ou luzes indicativas para a rota de saída de emergência. “Um estado insuportável. As pessoas entraram em pânico”, contou. 

O sobrevivente disse que o local estava tão cheio que alguns amigos foram embora da festa antes do incêndio reclamando da quantidade de pessoas. 

Do lugar que estavam, não visualizavam o palco e só começaram a correr quando viram a fumaça subir. Na correria, ele e o irmão se perderam, porém os dois conseguiram deixar a boate. Emanuel teve como sequela bronquiolite.

Kátia Pacheco  

Kátia Pacheco Siqueira trabalhava na cozinha da Kiss na época da tragédia. Ela contou que, em dado momento da noite, faltou luz e algumas pessoas falaram que se tratava de briga. Já era, no entanto, o incêndio.

A trabalhadora tentou sair, porém havia muitas pessoas e a situação fez com que ela desmaiasse e só conseguisse se salvar depois de acordar. "Tentaram me puxar e não conseguiram. Agarrei nas pernas de uma das pessoas. Foi quando fizeram força para me puxar", disse.

REPRODUÇÃO DE VÍDEO/TJRS - Kátia
Kátia Pacheco, uma das sobreviventes da Boate Kiss. - REPRODUÇÃO DE VÍDEO/TJRS - Kátia

Kátia foi encaminhada para o hospital, onde acabou tendo falta de ar e desmaiou novamente. Ela acordou 21 dias depois em um hospital em Porto Alegre. Em razão do incêndio, teve 40% do corpo queimado e precisou passar por 5 cirurgias de enxerto de pele e diversas cirurgias reparativas.

"Quando me perguntavam o que eram as queimaduras no braço, eu dizia que foi só um acidente. Só queria esquecer o que aconteceu", comentou sobre os traumas da tragédia, que foram tratados em sessões psicológicas e psiquiátricas. 

Boate Kiss: famílias lembram a dor provocada pela tragédia

*Com informações da Agência Brasil

 

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