Detento que deu ordem para chacina em São João está isolado em presídio no Grande Recife
No crime, cinco pessoas foram mortas e cinco ficaram feridas. Seis homens viraram réus pelos assassinatos
A Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) decidiu isolar o detento que deu a ordem para a chacina registrada no município de São João, no Agreste de Pernambuco. Paulo Ricardo Gomes dos Santos, apontado pela polícia como mandante o crime que deixou cinco mortos e cinco feridos no dia 26 de janeiro deste ano, está em um presídio do Grande Recife.
Além dele, Renato Roque da Silva, Erikys dos Santos Caetano, José Carlos da Silva, Joelson José Gomes da Silva, Cosme Gomes da Silva e Paulo Ricardo Gomes dos Santos tornaram-se réus pelos crimes de cinco homicídios qualificados consumados (dos quais, quatro por motivo torpe e utilizando de meio que impossibilita a defesa à vítima; e um por motivo torpe, uso de meio que impossibilita a defesa à vítima e contra menor de 14 anos) e mais cinco homicídios qualificados tentados.
A Seres informou também que foi aberto um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar como foi feita a comunicação do detento com os outros acusados para que o crime fosse praticado.
As investigações da polícia apontaram que o preso "determinou aos demais que se dirigissem a um espetinho no Centro de São João para matar Lucas Pereira de Andrade, com o objetivo de dominar o tráfico de drogas no município e retaliar a vítima pela participação na morte do traficante Gilson Gomes da Silva", informou o Ministério Público de Pernambuco.
Os acusados de executarem as vítimas foram presos, exceto Joelson José Gomes da Silva, que ainda permanece foragido.
A partir de agora, os advogados dos réus terão um prazo para apresentação das defesas prévias. Depois, o magistrado marcará a audiência de instrução e julgamento do caso, quando testemunhas de acusação e de defesa serão ouvidas - além dos réus.
VEJA VÍDEO DA CHACINA:
COMO FOI O CRIME
Imagens de câmeras de segurança mostraram o momento em que homens armados se aproximaram das pessoas que estavam em um ponto de venda de espetinho, na Avenida Coronel João Fernandes, no centro de São João. O grupo já chegou atirando. Além das cinco pessoas mortas, outras cinco ficaram feridas.
Além do Lucas, que era o alvo, morreram: Vinícius Ravelly Ferreira Cavalcante, 27 anos; Valderlan Vinícius Bezerra Alves, 27; Durval Roberto Pereira Neto, 21; e Maria Sophia Gonçalves da Silva, de apenas 2 anos.
SÓ 2 PMS FAZIAM SEGURANÇA NA CIDADE NO MOMENTO DA CHACINA
A Coluna Segurança teve acesso à escala de plantão da PM. Nela, constam os nomes de um sargento e de um soldado.
O documento é uma prova do que há muito vem sendo denunciado pela população, principalmente quem vive nas cidades do interior: falta policiamento nas ruas para garantir a segurança.
Segundo a Polícia Militar de Pernambuco, faltam 10.950 profissionais na corporação. Deveriam ter 27.672 PMs na ativa, mas só há 16.722. Os dados foram atualizados em julho de 2022.
GUERRA DO TRÁFICO DE DROGAS NO AGRESTE
A chacina no município de São João é uma tragédia anunciada. O crescimento dos assassinatos na região vem sendo observado pela polícia desde o final de 2021. E a guerra entre grupos rivais pelo domínio do tráfico de drogas é a principal motivação para tantos crimes.
São João tem cerca de 23 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só no ano passado, oito assassinatos foram somados pela polícia. Desse total, quatro foram no último mês de dezembro - o que já chama a atenção para a tendência de avanço da criminalidade e necessidade de mais reforço de policiamento.
O município de Garanhuns, vizinho a São João, também apresentou crescimento de homicídios. Foram 65 assassinatos em 2022. Ao longo de todo o ano de 2021, foram 46 mortes. Lá, como a polícia já confirmou, o problema está na disputa por território para venda de drogas.
Na região do Agreste de Pernambuco, 841 homicídios foram registrados no ano passado. Já em 2021, foram 771. Operações de repressão qualificada foram realizadas pela polícia ao longo de 2022, mas não foram suficientes para diminuir a violência e evitar a chacina.