Policiais perseguiam comerciantes no Recife e confiscavam cargas, que eram revendidas, revela investigação
Segundo as investigações, o delegado teria envolvimento com grupo suspeito de crimes como roubo, extorsão, concussão e abuso de autoridade
Detalhes sobre a operação que prendeu um delegado e mais três policiais civis foram revelados em coletiva de imprensa pela Polícia Civil de Pernambuco nesta quarta-feira (26). Segundo as investigações, o grupo perseguia comerciantes, apreendia as cargas de cigarro deles e ainda revendia para outros vendedores do Recife.
O delegado preso foi Joaquim Braga Neto, que durante anos comandou investigações de homicídios no Estado. A Operação Espórtula, como foi denominada, também prendeu mais três policiais civis suspeitos de integrar a organização criminosa. Um dos presos já foi demitido em 2019 pela acusação de roubar mercadorias e dinheiro após invadir a casa de um chinês.
A investigação foi conduzida pelo Grupo de Operações Especiais (GOE), após uma denúncia feita em 2016, com o objetivo de identificar e desarticular um grupo criminoso voltado à prática dos crimes de roubo, extorsão, concussão (se utilizar do cargo público para exigir vantagem indevida) e abuso de autoridade.
"Esses policiais, à época lotados na Delegacia de Água Fria, passaram a perseguir comerciantes do ramo tabagista e a confiscar as cargas que eles comercializavam, sabendo que ali havia uma quantia expressiva de dinheiro. Após selecionar a dedo suas possíveis vítimas, os agentes de segurança pública perseguiam as vítimas e arrebatavam as cargas sob pretexto de que elas seriam falsificadas", explicou o delegado Jorge Pinto.
"O que se deveria esperar em um caso desse é que o procedimento fosse conduzido até a delegacia, onde fosse formalizado. Mas, não. A carga era revendida para outros comerciantes. Os agentes públicos lucravam duas vezes, porque as vítimas posteriormente eram conduzidas às delegacias e eram constrangidas a pagar propina como forma de se evitar uma prisão em flagrante", pontuou o delegado.
Ainda segundo o delegado, vários comerciantes chagaram a se mudar do bairro de Água Fria, na Zona Norte do Recife, porque não aguentavam mais as investidas dos policiais. "Começamos a investigar o caso após uma vítima procurar o GOE porque não aguentava mais a situação. Era muito dinheiro que esses agentes de segurança conseguiam. A gente imagina uma média de R$ 30 mil por carga", disse Pinto.
As investigações foram assessoradas pela Diretoria de Inteligência da Polícia Civil de Pernambuco (Dintel), contando ainda com o apoio operacional da Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social.
OPERAÇÃO CONTOU COM 40 POLICIAIS
Os mandados de prisão foram expedidos pela Vara de Crimes Contra a Administração Pública e Ordem Tributária da Capital.
Na operação, nessa terça-feira (25), foram empregados 40 policiais civis, entre delegados, agentes e escrivães.
"O delegado (preso) tinha muita má fama na corporação. Os inquéritos presididos por ele sempre chegavam com problemas e isso já chamada a atenção", revelou uma fonte da Polícia Civil.
A coluna não conseguiu contato com a defesa dos policiais presos.