PREVENÇÃO

Em Maracaípe, prática do surfe afasta crianças e adolescentes da violência

ONG criada por ativista social e ex-surfista profissional está mudando a difícil realidade de moradores de duas comunidades de Maracaípe

Raphael Guerra
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Raphael Guerra
Publicado em 06/07/2023 às 15:14 | Atualizado em 06/07/2023 às 18:38
GG Silva/Divulgação
ONG ensina surfe e outras atividades para crianças e adolescentes de Maracaípe - FOTO: GG Silva/Divulgação

O estímulo à prática do surfe está mudando a rotina de crianças e adolescentes que vivem na praia de Maracaípe, em Ipojuca, Litoral Sul de Pernambuco. O esporte não só trouxe mais alegria, como também está contribuindo para evitar a situação de vulnerabilidade e, consequentemente, os casos de violência. 

Quem está a frente do projeto é a ativista social Nuala da Silva Costa, de 42 anos, fundadora da Organização Não Governamental (ONG) TPM - Todas Para o Mar. Ela foi a primeira mulher a representar o Estado de Pernambuco em torneios de surfe nacionais. 

"Fui surfista, mas sentia que no Brasil eu era inviabilizada, principalmente por causa do racismo. Por isso morei por 15 anos na Europa. Quando voltei, comecei a fazer eventos de surfe em Maracaípe. Mas percebi que não havia crianças e mulheres pretas na praia. Não havia inclusão social, até porque o surfe é um esporte muito caro. Então resolvi criar a ONG para dar visibilidade às surfistas invisíveis", conta a ex-surfista profissional.

"Quando a criança não se sente pertencente ao espaço onde vive, que era o que ocorria em Maracaípe, ela fica vulnerável à violência. Por isso, havia a necessidade de se mudar essa realidade para que elas não seguissem esse caminho", afirma Nuala.

O município de Ipojuca, onde a praia de Maracaípe está inserida, é marcado pelo avanço do tráfico de drogas nos últimos anos. Nesse cenário, adolescentes são recrutados e, com propostas de dinheiro fácil e melhoria de vida, acabam se envolvendo com a criminalidade. 

No primeiro semestre deste ano, segundo estatísticas da Secretaria de Defesa Social (SDS), 15 pessoas foram mortas na cidade. Desse total, duas tinham entre 12 e 17 anos. A polícia afirma que a maioria dos crimes contra a vida tem relação com as drogas - sejam por dívida ou guerra entre grupos rivais.

CRIAÇÃO DE ONG E MUDANÇA DE VIDA PARA FAMÍLIAS DE MARACAÍPE

Maria Eduarda Moura/Cortesia

ONG ensina surfe e outras atividades para crianças e adolescentes de Maracaípe - Maria Eduarda Moura/Cortesia

A ONG TPM foi criada em 2016 e, inicialmente, pretendia levar o surfe apenas para jovens do sexo feminino. Mas rapidamente atraiu a atenção de voluntários, fazendo com que o projeto pudesse ser ampliado, com a inclusão de mais atividades esportivas e culturais - como a capoeira, o maracatu e o hip hop. 

"Meninos e meninas, filhos de mães pretas, das comunidades da Vila do Campo e Vila Bob Marley foram convocados a participarem do projeto, que tem como base o esporte e a cultura", afirma Nuala.

O reforço escolar e cursos técnicos também passaram a fazer parte do cardápio, em contribuição às mulheres negras das localidades onde o poder público não dá a devida atenção. 

Maitê Baratella/Divulgação

ONG ensina surfe e outras atividades para crianças e adolescentes de Maracaípe - Maitê Baratella/Divulgação

As atividades acontecem sempre de segunda a sábado, no turno em que as crianças e adolescentes não estão em aula. Ao todo, há atualmente uma média 80 participantes, com idades entre 8 e 17 anos.

"A ideia é que os mais velhos depois continuem participando do projeto, como voluntários", explica a ativista social.

COMO AJUDAR A ONG?

Para quem quiser contribuir com ações que ajudem as crianças e adolescentes que vivem em Maracaípe, o contato com a ONG pode ser feito por meio do Whatsapp. O número é (81) 99548-6539.

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