A Polícia Civil de Pernambuco apresenta, na tarde desta quarta-feira (26), detalhes da conclusão de dois inquéritos instaurados contra o padre Airton Freire de Lima, fundador da Fundação Terra, investigado por suspeita de estupro.
Padre Airton Freire foi preso preventivamente no dia 14 de julho em Arcoverde, no Sertão de Pernambuco. No último sábado, após passar mal, ele foi encaminhado para o Hospital Memorial Arcoverde e, no dia seguinte, para o Hospital Português, no Recife. Segue sem previsão de alta.
Uma força-tarefa formada por cinco delegadas está investigando o religioso.
"Os relatos das vítimas merecem credibilidade. Todas essas mulheres e um homem relataram de forma detalhada, segura, de forma emocionada. Mostraram dor. Para elas, ele era como um homem santo", afirmou a delegada Andrezza Gregório.
A polícia confirmou que padre Airton foi indiciado por crimes sexuais, mas que não poderia revelar qual deles porque os casos seguem sob segredo de justiça.
Outras três pessoas, funcionárias do padre, também foram indiciadas. Duas por crimes sexuais e outra por falso testemunho.
Jailson Leonardo da Silva e Landelino Rodrigues da Costa filho tiveram as prisões decretadas pela Justiça, mas não foram encontrados, por isso não considerados foragidos. O primeiro é motorista do religioso. O segundo trabalhava realizando as filmagens das missas.
ACOMPANHE AO VIVO COLETIVA DA POLÍCIA SOBRE PADRE AIRTON FREIRE:
De acordo com o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), cinco inquéritos foram instaurados contra o padre.
A polícia começou a investigar padre Airton Freire após registrar a denúncia de estupro feita pela personal stylist Sílvia Tavares de Souza, de 53 anos, contra o religioso e o motorista dele. O crime, segundo a mulher, teria sido praticado durante um retiro espiritual em agosto de 2022.
Em entrevista à TV Jornal, ela disse que mantinha uma relação próxima com o padre e o tinha como uma figura paterna e santa. Mas que a admiração deu lugar ao pavor após ser violentada pelo motorista a mando do padre, que teria presenciado tudo. Na ocasião, ela teria sido chamada pelo religioso para realizar uma massagem.
"Quando pulei da cama, o motorista colocou a faca no meu pescoço, me deu uma gravata e disse 'quieta que ninguém vai morrer'", disse a mulher.
Após o início dessa investigação, outras passaram a ser apuradas pela Polícia Civil, com acompanhamento do MPPE.
NÚMERO EXCLUSIVO PARA QUE OUTRAS POSSÍVEIS VÍTIMAS DENUNCIEM
A polícia também divulgou um número exclusivo para que possíveis vítimas ou testemunhas possam entrar em contato e passar informações.
O número do Disque-Denúncia do Departamento de Polícia da Mulher (DPMul) é o (81) 9.94887082.
"Se vítimas tiverem em outros estados, podem ir até as delegacias que eles entram em contato com a Polícia Civil de Pernambuco", destacou a chefe da DPMul, Fabiana Leandro.
PADRE AIRTON FREIRE FOI AFASTADO DAS ATIVIDADES
Desde o final do mês de maio deste ano, padre Airton Freire estava suspenso das atividades religiosas, após publicação de decreto da Diocese de Pesqueira.
O documento assinado pelo bispo que comanda a Diocese, Dom José Luiz Ferreira Salles, determinou a suspensão do "Uso de Ordem", ou seja, a proibição de que o padre Airton presida publicamente ritos religiosos (sacramentos). A exceção é para celebrações eucarísticas privadas com até três fiéis.
O decreto pontuou que a decisão foi tomada "considerando advertências anteriores e a gravidade dos fatos atualmente denunciados com investigação na esfera estatal e eclesiástica em andamento". Além disso, citou o cumprimento do dever, "para o bem da Igreja com a finalidade de prevenir os escândalos e garantir o curso da justiça".
O documento ainda destacou que a medida é válida a partir da publicação e notificação do padre até o término do procedimento penal. E que o não cumprimento das medidas pode significar desobediência e pode implicar em outras medidas canônicas.
O que diz a defesa de Padre Airton Freire?
Os advogados do padre Airton se pronunciaram por meio de nota oficial. Confira a íntegra a seguir.
A defesa do padre Airton Freire reafirma a inocência do religioso e, devido à entrevista coletiva concedida pela Polícia Civil de Pernambuco nesta quarta-feira (26 de julho), afirma:
1. Existem provas técnicas, documentais e testemunhais, no âmbito dos dois inquéritos concluídos, que atestam que o Padre Airton é inocente.
2. As provas, infelizmente, não podem ser ainda reveladas pelo fato de as investigações estarem sob segredo de justiça.
3. Lamentavelmente, a Polícia Civil não se pronunciou sobre a tentativa de extorsão praticada por uma das supostas vítimas contra o padre Airton.
4. A prisão preventiva do padre fere a legislação brasileira e o direito internacional pelos fatos já expostos à imprensa: o religioso nunca tentou impedir as investigações, não coagiu testemunhas, nunca representou ameaça de cometimento de crimes e se apresentou espontaneamente à Justiça.
