CASO PADRE AIRTON FREIRE

Polícia prende funcionário de padre Airton Freire que estava foragido

Outro funcionário, denunciado por estupro, continua sendo procurado

Raphael Guerra
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Raphael Guerra
Publicado em 27/07/2023 às 11:52 | Atualizado em 27/07/2023 às 17:26
GUGA MATOS/ACERVO JC IMAGEM
Airton Freire é investigado em mais três inquéritos - FOTO: GUGA MATOS/ACERVO JC IMAGEM

A Polícia Civil conseguiu prender um dos funcionários do padre Airton Freire de Lima que era considerado foragido desde 14 de julho. Landelino Rodrigues da Costa filho, de 34 anos, responsável por realizar filmagens de missas e eventos na Fundação Terra, foi preso na cidade de Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, na manhã desta quinta-feira (27). 

A prisão ocorreu um dia após a polícia confirmar que o padre Airton freire e três funcionários foram indiciados em dois inquéritos que apuraram denúncias de crimes sexuais. Os nomes de Landelino e do motorista Jailson Leonardo da Silva, que continua foragido, foram divulgados para que a população pudesse ajudar na captura. 

Landelino foi encontrado em São Pedro, distrito de Garanhuns. Ele estava no quarto da casa de familiares quando foi surpreendido pelos policiais. A informação é de que ele foi chorando na viatura até a chegada à delegacia. No caminho, negou ter participado de qualquer crime sexual. 

A Polícia Civil se pronunciou por meio de nota oficial. Disse que o mandado foi cumprido com a colaboração de várias equipes e que, "após os procedimentos de praxe, o homem foi apresentado em audiência de custódia realizada pela comarca de Arcoverde".  

Veja vídeo sobre a prisão:

A defesa de Landelino disse que "todos os fatos alegados serão, em momento oportuno, devidamente esclarecidos durante a instrução processual. A defesa informa que se trata de uma privação de liberdade descabida, que viola as garantias fundamentais elencadas na Constituição Federal".

"O investigado é inocente e não representa ameaça alguma para as supostas vítimas, tampouco para o transcurso do processo penal. No decorrer da instrução processual, a verdade será revelada e sua inocência, comprovada", concluiu o texto.

Os dois inquéritos concluídos pela polícia são relacionados às denúncias feitas por duas vítimas, que acusaram o religioso e funcionários por estupro. A polícia, no entanto, não quis informar qual tipo de crime sexual, previsto no Código Penal Brasileiro, foi atribuído aos indiciados na conclusão dessas duas primeiras investigações - sob o argumento do segredo de justiça.

Há ainda três inquéritos em andamento, de mais três supostas vítimas. Uma delas é um homem que disse também ter sofrido abuso sexual após supostamente ter sido dopado.

A delegada Andrezza Gregório, responsável pela investigação, destacou que, além dos depoimentos de vítimas e testemunhas, provas técnicas também foram levadas em consideração no indiciamento nos dois inquéritos. 

Padre Airton Freire, que é o criador da Fundação Terra, foi preso preventivamente no dia 14 de julho em Arcoverde, no Sertão de Pernambuco, durante uma operação que também cumpriu mandados de busca e apreensão. Ele estava numa cela isolada do Presídio Advogado Brito Alves. 

No último sábado (22), após passar mal, o religioso foi encaminhado para o Hospital Memorial Arcoverde e, no dia seguinte, para o Hospital Português, no Recife. O estado de saúde não é informado, mas a defesa alega que ele teve um princípio de acidente vascular cerebral (AVC) e que segue em tratamento na UTI. 

O nome do terceiro funcionário indiciado - que também é motorista da fundação - não foi revelado pela polícia sob o argumento de que não houve a decretação da prisão preventiva. O homem foi indiciado por crime de falso testemunho. 

POSSÍVEIS VÍTIMAS DE OUTROS ESTADOS

Uma força-tarefa formada por cinco delegadas está investigando o religioso. Nessa quarta-feira, a polícia confirmou que há informações de outras possíveis vítimas, inclusive de outros estados do País.

"A gente precisa ainda apurar, realizar oitivas, para poder definir qual o tipo penal que vai se enquadrar o caso dela. (Avaliar) se está prescrito, se não está prescrito, para, realmente, instaurar o procedimento", disse a gestora do Departamento de Polícia da Mulher (DPMul), Fabiana Leandro. 

"Havia caravanas de outros estados para Pernambuco (para visitarem a fundação). Por isso, podem ter vítimas de qualquer lugar do País", completou a delegada Morgana Alves.

Por isso, a polícia divulgou um número exclusivo para que as possíveis vítimas ou testemunhas possam entrar em contato e passar informações. O número do Disque-Denúncia do DPMul é o (81) 9.9488.7082.

Fabiana destacou que as vítimas de outros estados podem ir em qualquer delegacia do País e que os policiais vão repassar os casos à Polícia Civil de Pernambuco. 

As investigações concluídas e em andamento também estão em análise de outra força-tarefa, formada por promotores designados pela Procuradoria-Geral de Justiça. 

VEJA COLETIVA DA POLÍCIA SOBRE PADRE AIRTON FREIRE:

PRIMEIRA DENÚNCIA CONTRA PADRE AIRTON

A polícia começou a investigar padre Airton Freire após registrar uma denúncia de estupro feita pela personal stylist Sílvia Tavares de Souza, de 53 anos, contra o religioso e o motorista Jailson. O crime, segundo a mulher, teria sido praticado durante um retiro espiritual em agosto de 2022. 

Ela disse que mantinha uma relação próxima com o padre e o tinha como uma figura paterna e santa. Mas que a admiração deu lugar ao pavor após ser violentada pelo motorista por ordem do padre, que teria presenciado tudo.

Na ocasião, ela teria sido chamada pelo religioso até a casa dele para realizar uma massagem. Durante a atividade, ela teria percebido que Airton estava sem roupa e decidiu interrompê-la. 

"Quando pulei da cama, o motorista colocou a faca no meu pescoço, me deu uma gravata e disse 'quieta que ninguém vai morrer'", contou. 

Segundo Sílvia, o padre ordenou o estupro enquanto ele se masturbava. 

A polícia não deu informações sobre o caso da outra vítima - relacionado ao segundo inquérito concluído. 

PADRE AIRTON FREIRE FOI AFASTADO DAS ATIVIDADES

Desde o final do mês de maio deste ano, padre Airton Freire estava suspenso das atividades religiosas, após publicação de decreto da Diocese de Pesqueira. 

O documento assinado pelo bispo que comanda a Diocese, Dom José Luiz Ferreira Salles, determinou a suspensão do "Uso de Ordem", ou seja, a proibição de que o padre Airton presida publicamente ritos religiosos (sacramentos). A exceção é para celebrações eucarísticas privadas com até três fiéis. 

O decreto pontuou que a decisão foi tomada "considerando advertências anteriores e a gravidade dos fatos atualmente denunciados com investigação na esfera estatal e eclesiástica em andamento". Além disso, citou o cumprimento do dever, "para o bem da Igreja com a finalidade de prevenir os escândalos e garantir o curso da justiça". 

O documento ainda destacou que a medida é válida a partir da publicação e notificação do padre até o término do procedimento penal. E que o não cumprimento das medidas pode significar desobediência e pode implicar em outras medidas canônicas. 

O QUE DIZ A DEFESA DE PADRE AIRTON FREIRE?

Os advogados do padre Airton se pronunciaram por meio de nota oficial. Confira a íntegra a seguir. 

A defesa do padre Airton Freire reafirma a inocência do religioso e, devido à entrevista coletiva concedida pela Polícia Civil de Pernambuco nesta quarta-feira (26 de julho), afirma:

1. Existem provas técnicas, documentais e testemunhais, no âmbito dos dois inquéritos concluídos, que atestam que o Padre Airton é inocente.

2. As provas, infelizmente, não podem ser ainda reveladas pelo fato de as investigações estarem sob segredo de justiça.

3. Lamentavelmente, a Polícia Civil não se pronunciou sobre a tentativa de extorsão praticada por uma das supostas vítimas contra o padre Airton.

4. A prisão preventiva do padre fere a legislação brasileira e o direito internacional pelos fatos já expostos à imprensa: o religioso nunca tentou impedir as investigações, não coagiu testemunhas, nunca representou ameaça de cometimento de crimes e se apresentou espontaneamente à Justiça.

O QUE DIZ A DEFESA DE JAILSON LEONARDO DA SILVA?

Jaílson, não possui histórico de qualquer conduta criminosa. Por isso, a defesa está trabalhando na revogação da decretação de sua prisão preventiva pois entende ser essa totalmente infundada e desproporcional, uma vez que Jaílson jamais agiu para criar obstáculos às investigações.

É absurdo esperar que alguém acusado injustamente de um crime gravíssimo e altamente estigmatizante, se entregue espontaneamente ao presídio, onde se sabe o risco, inclusive de vida, que ele pode sofrer, principalmente quando há provas de sua inocência nos autos que estão sendo completamente desconsideradas, Jaílson, está fazendo uso de suas garantias fundamentais em não se render por ora ao decreto que entende ser injusto.

Tratando-se de acusação de crime sexual, em respeito ao sigilo processual a defesa não pode expor ao momento informações e provas que dizem respeito ao fato, contudo reitera que Jaílson não cometeu este crime e dentro da instrução processual utilizando-se do contraditório e da ampla defesa isso restara cada vez mais cristalino.

O indiciamento não significa culpa ou trata-se de condenação criminal transitada em julgado, bem como, é direito natural do ser humano lutar por sua liberdade, inocência e justiça, e neste caso, tudo está sendo  feito conforme a lei.

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COLETIVA POLICIA CIVIL CASO PADRE AIRTON FREIRE - FOTO:COLETIVA POLICIA CIVIL CASO PADRE AIRTON FREIRE

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