INVESTIGAÇÃO

MORTES EM CAMARAGIBE: testemunhas são ouvidas e relatam tortura policial e temor pela vida

Cinco parentes de Ana Letícia Carias, de 19 anos, grávida de sete meses, e baleada na ação policial, foram ouvidos nesta segunda-feira (18), na sede do Grupo de Operações Especiais (GOE)

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Filipe Farias

Publicado em 18/09/2023 às 22:32 | Atualizado em 19/09/2023 às 11:05
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A Policia Civil de Pernambuco começou, nesta segunda-feira (18), a colher os depoimentos de algumas testemunhas da ação policial que acabou culminando na morte de oito pessoas no bairro de Tabatinga, em Camaragibe, na Grande Recife, na noite de quinta-feira (14) para a sexta-feira (15).

Nas oitivas que aconteceram na sede do Grupo de Operações Especiais (GOE), no bairro do Cordeiro, Zona Oeste da capital, e duraram cerca de seis horas, cinco parentes de Ana Letícia Carias, de 19 anos, grávida de sete meses, e do primo, o adolescente de 14 anos, que foram atingidos no tiroteio e seguem no Hospital da Restauração, foram ouvidos.

De acordo com os advogados de defesa das testemunhas, todas ainda se mostraram bastante abaladas com todo o ocorrido. "Foi bem triste e difícil, pois eles tiveram de reviver todo o drama que aconteceu nas suas residências. Hoje correm o risco de perder uma filha, que infelizmente já perdeu a visão de um olho, além de também ter um sobrinho que também se recupera no hospital após serem baleados na cabeça", detalhou a advogada Aline Maciel.

Carlos Augusto, pai Ana Letícia, também prestou depoimento nesta tarde e relatou a agressividade da Polícia Militar, que baleou o seu carro. Segundo o advogado Jean Willian, que também representa a família, o seu cliente teme pela própria vida. "Ele ficou muito abalado. Disse que deram um golpe com arma e que falaram para ele correr, que iria encontrar o caminho dele. Mas ele não correu e disse que se fosse para matá-lo, que o matasse ali, pela frente. Foram momentos aterrorizantes e que ele não sabia se iria ver o outro dia, que ele temia pela própria vida", contou o advogado Jean Willian.

No relato das testemunhas, eles também informaram que foram torturados por policiais naquela noite de terror. "Carlos Augusto Filho (irmão de Ana Letícia) disse em depoimento que quando foi ajudar o pai a socorrer a irmã, no meio do caminho, uma viatura policial parou e bateram neles. E que os policiais também atiraram e deixaram o carro do pai todo furado, pois eles acharam que os dois estavam dando fuga a Alex (que teria matado os dois policiais militares)", revelou advogada Aline Maciel.

Agora, tudo o que a família de Ana Letícia quer é paz, segurança e justiça. "A gente precisa que o Estado coloque a mão na situação e garanta a proteção dessa família, e não aconteça o que aconteceu com a família do outro (Alex da Silva). Essa é a nossa maior preocupação", falou Aline Maciel. "De agora em diante vamos tentar garantir segurança da família e cobrar das autoridades justiça, que aqueles que pegaram o Carlos Augusto Filho paguem pelos excessos que cometeram. Aqueles que atiraram no carro do Carlos pai pague também. E que todos os envolvidos que tiveram um grau de excesso na atividade policial pague. A família não quer nada mais do que justiça", complementou o advogado Jean Willian.

Investigações da Polícia Civil

Durante a manhã desta segunda-feira (18), as autoridades que estão à frente das investigações se reuniram com a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS-PE), o Ministério Público, além da chefia de polícia. "Há uma grande união dos órgãos do Estado, uma junção de forças para que possamos solucionar esse caso o mais rápido possível e atribuir a culpa a quem tem culpa, e que os responsáveis possam responder pelos atos", disse o delegado Ivaldo Pereira.

As investigações começaram ainda no final de semana, mas somente nesta tarde é que a equipe responsável pelo caso voltou a cena do crime para buscar evidências para ajudar no inquérito policial. "Fomos a campo conhecer o local, onde os fatos aconteceram, para termos uma ideia da dinâmica de tudo o que aconteceu na região. Também fomos atrás de câmeras e outros tipos de provas que possam ajudar na investigação", contou o delegado.

A expectativa é que nesta terça-feira (19), pessoas relacionadas a Alex Silva sejam ouvidas pela Polícia Civil para aprofundar o caso. "Queremos entender o porquê ele reagiu a ação, se tinha alguma irregularidade ali no local, buscar saber a dinâmica dos fatos, quem realizou o tiro primeiro, quem atirou em seguida... Vamos continuar a diligência para esclarecer todos os fatos", pontuou o delegado Ivaldo Pereira.

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