Morte de médicos: suspeitos foram 'julgados' e mortos por facção
Na noite de quarta-feira (4) um criminoso viu o médico Perseu Ribeiro Almeida com três amigos em um quiosque na Avenida Lucio Costa e o confundiu com Taillon, miliciano
A Polícia Civil concluiu que os médicos foram mortos por engano porque um deles foi confundido com o alvo dos criminosos. Segundo a investigação, em 16 de setembro, uma milícia que atua na zona oeste do Rio matou o traficante Paulo Aragão Furtado, conhecido como Vin Diesel. Esse assassinato, praticado no bairro Gardênia Azul, na zona oeste, teria sido cometido sob as ordens de Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, filho de Dalmir Pereira Barbosa, o líder dessa milícia.
Furtado era aliado de Philip Motta Pereira, o Lesk, que era miliciano e aderiu à facção criminosa Comando Vermelho. Lesk passou a planejar a morte de Taillon, como vingança. Esse alvo havia sido preso em dezembro de 2020 e de março a setembro deste ano cumpriu prisão domiciliar em sua casa na Avenida Lucio Costa, na Barra da Tijuca. Desde 29 de setembro, quando ganhou liberdade condicional, passou a ser procurado pelo grupo adversário, segundo suspeitas da polícia.
Na noite de quarta-feira (4) um criminoso viu o médico Perseu Ribeiro Almeida com três amigos em um quiosque na Avenida Lucio Costa e o confundiu com Taillon - eles são parecidos fisicamente, e o médico estava muito próximo da casa de Taillon. Lesk então acionou seus comparsas e quatro homens foram até o quiosque e mataram Almeida e dois de seus três colegas - o quarto médico sobreviveu e está internado em um hospital do Rio.
TRIBUNAL DA FACÇÃO
Diante do engano e da repercussão do crime, líderes do Comando Vermelho, a quem Lesk era subordinado, teriam feito uma reunião horas depois do crime para "julgar" Lesk e os demais criminosos que mataram os médicos.
Líderes da facção criminosa presos na penitenciária Gabriel Ferreira Castilho, conhecida como Bangu 3, no complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu (zona oeste), teriam participado por videoconferência, usando telefones celulares. O grupo decidiu matar os executores dos médicos.
Na noite de quinta-feira, a Polícia Civil encontrou quatro pessoas mortas - pelo menos duas delas suspeitas pelo crime - em dois carros abandonados na zona oeste. Seriam justamente os autores dos assassinatos dos médicos, punidos pelos próprios comparsas.
Até a tarde desta sexta-feira, a polícia havia divulgado o nome de dois dos quatro mortos: Lesk, que estava no porta-malas de um Toyota Yaris abandonado na Gardênia Azul, e Ryan Soares de Almeida, que estava com outros dois corpos em um Honda HR-V abandonado no bairro Camorim.
Sobre a suposta participação de integrantes do Comando Vermelho presos no complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu, no "julgamento" que determinou a morte dos comparsas que teriam se enganado ao matar os médicos, o governador do Rio, Cláudio Castro, afirmou que foram apreendidos celulares na penitenciária e haverá investigação.
"O que nos parece é que até eles se indignaram com a ação dos seus próprios (comparsas) e eles fizeram essa punição interna. Temos que achar, inclusive, quem cometeu esse segundo assassinato. É óbvio que eles já sabiam quem tinha sido (o autor das mortes supostamente por engano), foram à frente e puniram eles. Tem que ver se foram todos, se tinha mais gente envolvida, a investigação não muda em nada", disse o governador.