INVESTIGAÇÃO

SDS prende policiais do Bope que invadiram casa e mataram homens no Recife; Veja imagens

Imagens de câmera de segurança indicam que PMs mentiram em versão apresentada após os óbitos ocorridos na comunidade do Detran na noite dessa segunda-feira (20)

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Raphael Guerra

Publicado em 21/11/2023 às 10:22 | Atualizado em 21/11/2023 às 16:54
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Nove policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) envolvidos na ação que resultou nas mortes de dois homens na comunidade do Detran, no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife, na noite dessa segunda-feira (20), foram autuados em flagrante pelo crime militar de violação de domicílio. 

Os PMs foram presos pela Delegacia de Polícia Judiciária Militar e devem passar por audiência de custódia na manhã desta quarta-feira (22), quando será decidido se as prisões serão convertidas em preventivas. A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) e o Ministério Público de Pernambuco estão acompanhando o caso. 

Uma câmera de segurança foi fundamental para a decisão pela autuação dos policiais. Imagens mostraram o momento em que eles chegaram e arrombaram a porta da casa onde estavam as vítimas. Mulheres e crianças foram tiradas do local e, depois, houve os disparos de tiros. Momentos depois, os militares saíram da residência com um corpo enrolado em um lençol.

As vítimas foram identificadas como Bruno Henrique Vicente da Silva, de 28 anos, e Rhaldney Fernandes da Silva Caluete, 32. Eles chegaram a ser levados para a UPA da Caxangá, mas já estavam mortos. Nenhum PM se feriu na operação. 

Familiares das vítimas afirmaram que não houve troca de tiros - como alegaram os policiais. 

Logo após as mortes, os militares do Bope se apresentaram na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro do Cordeiro, e relataram que os homens foram mortos porque reagiram à abordagem.

Os PMs disseram que, na ação, foram apreendidos 527 gramas e mais 28 pequenas porções de maconha, 150 pedras de crack, uma balança de precisão, dois revólveres calibre 38 e 12 munições - sendo nove deflagradas. 

Eles chegaram a ser liberados após os depoimentos no DHPP. Mas, após as imagens da câmera de segurança circularem em grupos de grupos de WhatsApp, a Delegacia de Polícia Judiciária Militar identificou que a versão dos militares não se sustentava e determinou a autuação deles. 

"Muitos policiais optaram pelo silêncio, que é um direito legal e constitucional. Logicamente estão acompanhados por advogados. Eles optaram por responder perguntas apenas da defesa", afirmou o diretor adjunto de Planejamento Operacional da Polícia Militar, Fred Saraiva, em coletiva de imprensa no Comando Geral da PM, no bairro do Derby. 

O QUE DIZ OS FAMILIARES DAS VÍTIMAS?

Os parentes disseram que os policiais entraram na casa, renderam e atiraram nas vítimas. "Houve um ato de covardia. A gente não sabe nem o motivo disso. Eles não eram traficantes, não tem nada disso. Não havia mandado de prisão nenhum contra ninguém aqui", contou um irmão de Bruno que preferiu não se identificar.

"Meu irmão estava em casa, tranquilo. Os policiais entraram, mandaram as mulheres saírem com as crianças e depois dispararam os tiros. Ainda atiraram de dentro para fora para simular que meu irmão e o amigo dele atiraram", completou.

Outro parente cobrou um posicionamento do governo do Estado sobre a ação policial. "Não houve troca de tiros. Como houve troca de tiros se houve tempo de tirar as mulheres e crianças (da casa)? Não havia armas, não havia drogas."

INVESTIGAÇÃO

Mais cedo, em nota oficial, a Polícia Civil de Pernambuco afirmou que relatos indicaram que os homens estariam com armas de fogo e entorpecentes, quando foram abordados pelo efetivo. "Houve troca de tiros entre as vítimas e o efetivo policial. As vítimas foram socorridas, porém não resistiram aos ferimentos. As investigações seguem até o esclarecimento total do caso."

O delegado Roberto Lobo foi designado para assumir o inquérito policial. Nesta quarta-feira (22), a primeira testemunha será ouvida. 

Diante da gravidade do caso, dois promotores de Justiça também foram designados pela Procuradoria-Geral de Justiça para acompanhar as investigações.

VÁRIOS MORTOS EM AÇÕES POLICIAIS NOS ÚLTIMOS DIAS

Nos últimos dias, outras três ações policiais resultaram em oito mortes de supostos bandidos

No último sábado (18), três homens foram mortos após supostamente trocarem tiros com policiais militares na comunidade de Salinas, em Porto de Galinhas, na cidade de Ipojuca. A PM alegou que os homens eram suspeitos de integrar uma facção especializada no tráfico de drogas.

Na sexta-feira (17), a troca de tiros ocorreu em Casa Amarela, Zona Norte do Recife. De acordo com a versão da Polícia Militar, uma equipe da Companhia Independente de Policiamento com Cães (CIPCães) recebeu a denúncia de um veículo que estava realizando direção perigosa no bairro do Vasco da Gama.

Os militares teriam sido recebidos a tiros ao localizarem o carro em Casa Amarela. Os PMs reagiram e mataram os dois homens. Ainda de acordo com a versão oficial, no carro dos suspeitos foram encontrados um pistola calibre .40, três carregadores, munições e cápsulas deflagradas.

Na troca de tiros, uma idosa de 60 anos que passava pelo local foi atingida na perna por uma bala perdida. Ela foi socorrida e encaminhada para a UPA de Nova Descoberta. Um cachorro, também atingido por um tiro, morreu.

Já na quinta-feira (16), durante ronda do Batalhão Radiopatrulha, na comunidade V8, no Varadouro, em Olinda, cinco homens teriam trocado tiros com policiais militares. A versão oficial é de que os suspeitos teriam iniciado os disparos após perceberem a presença da viatura policial.

Quatro homens ficaram feridos à bala. Eles foram socorridos e encaminhados para o Hospital da Restauração, na área central do Recife, mas três não resistiram. Os nomes e idades dos suspeitos não foram revelados.

De acordo com nota enviada pela assessoria de comunicação da Polícia Militar, quatro armas de fogo foram apreendidas, sendo três revólveres e uma pistola.

Os suspeitos, ainda segundo a nota oficial, também estavam de posse de uma grande quantidade de drogas, sendo dezenas de papelotes de maconha e pedras de crack, além de balança de precisão e uma quantia em dinheiro.

A PM disse, por fim, que um dos suspeitos envolvidos no tiroteio foi preso pelo 1° BPM após o confronto na comunidade V8. Ele foi levado para a sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

 


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