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Juiz quer reconhecimento facial nos estádios e diz ser contra extinção de torcidas organizadas em Pernambuco

Em audiência pública, o titular do Juizado Especial do Torcedor da Capital defendeu investimentos em inteligência policial para coibir violência

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Raphael Guerra

Publicado em 29/11/2023 às 13:24 | Atualizado em 29/11/2023 às 13:28
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A violência dentro e fora dos estádios em dias de jogos de futebol continua preocupando autoridades em Pernambuco. Mesmo com o reforço de policiamento, principalmente em dias de clássico, o número de militares segue insuficiente para impedir tumultos e até agressões. O juiz titular do Juizado Especial do Torcedor da Capital, Flávio Fontes, defendeu a adoção do reconhecimento facial e disse ser contrário à extinção das torcidas organizadas.

"Essa discussão tem que ser levada a sério. Não existe nenhum sistema perfeito, mas a gente tem que ver o custo-benefício. É uma tecnologia que está cada vez mais barata, e que ajuda muito. Como a gente não tem nem cadastro nem reconhecimento, qualquer torcedor, mesmo o que está proibido, entra no estádio e faz o que quiser", afirmou o magistrado, durante audiência pública que discutiu a violência nos estádios realizada pela Comissão de Esportes da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) na semana passada. 

O promotor de Justiça José Bispo de Melo, titular da Promotoria do torcedor, disse que a violência diminuiu nos estádios e que o problema maior está no entorno. Mas concordou que o uso da tecnologia do reconhecimento facial vai afastar torcedores com mandados de prisão em aberto ou banidos dos estádios.

"No Rio de Janeiro fomos para o estádio e vimos como é fácil resolver. Durante todo o período dos jogos, as câmeras ficam rodando, os drones, por todos os espaços e identificando quem precisa ser abordado", pontuou. 

O delegado Paulo Moraes, titular da Delegacia de Repressão à Intolerância Esportiva, disse que a iniciativa do reconhecimento facial é positiva, mas que a implementação dela é difícil. "É excelente para nós, policiais, o reconhecimento facial. Mas não é fácil a implantação. Não é barato. Custa mais de R$ 30 mil cada máquina, e precisaria ter uma em cada catraca."

POUCA POLÍCIA E INVESTIMENTO EM INTELIGÊNCIA

O delegado Paulo Moraes reconheceu que o número de policiais civis responsáveis por investigar os casos de violência dentro e fora dos estádios é muito baixo. "Tenho pena do funcionário que trabalha na Delegacia de Intolerância (Esportiva) devido ao trabalho exaustivo", disse.

Apesar disso, Moraes afirmou que todos os inquéritos foram concluídos, com exceção de um, do ano de 2021, que ainda aguarda laudos periciais. "Só em 2023, realizamos seis operações. A última, em novembro, foi com relação à busca e apreensão nas sede e lojas das três principais organizadas do Estado, que, apesar de estarem extintas, vêm funcionando. (...) Foram encontrados artefatos e barrotes nesses locais", contou.

O juiz Flávio Fontes destacou que, sem efetivo policial suficiente para evitar os casos de violência, é preciso investir em em tecnologia e inteligência como solução para o problema. "Com inteligência não precisa ter um batalhão."

EXTINÇÃO DE TORCIDAS ORGANIZADAS EM PERNAMBUCO

O magistrado também deu a opinião sobre a extinção das principais torcidas organizadas em Pernambuco. 

"Sou contra extinguir torcida organizada, porque você não pode extinguir uma coisa que existe de fato.
A meu ver, as torcidas nunca estiveram tão fortalecidas como hoje. Elas são uma marca", afirmou. 

O fim das torcidas Jovem, Inferno Coral e Fanáutico, além dos Cadastros Nacionais de Pessoa Jurídica (CNPJ) delas, foi determinado pela Justiça em fevereiro de 2020, a pedido da Procuradoria-Geral do Estado, por causa dos constantes casos de violência - incluindo mortes de torcedores.

Apesar da decisão da 5ª Vara da Fazenda Pública, a situação das organizadas pouco mudou. A violência não diminuiu e elas continuaram com sedes e lojas em funcionamento, como comprovou a mais recente operação da Polícia Civil. 

GRUPO DE TRABALHO DISCUTIU PLANEJAMENTO PARA 2024

No final de outubro, o Grupo de Trabalho - Futebol da Secretaria de Defesa Social (SDS) fez a primeira reunião de planejamento de segurança para as competições previstas para o ano de 2024. 

Segundo a pasta estadual, foram abordados a situação de regularidade dos estádios, capacidade de público, capacitação da segurança privada para uma maior atuação nos jogos, implantação do reconhecimento facial nas catracas, convênio com a Federação Pernambucana de Futebol e cadastro dos torcedores.

Também ficou definido que a Federação e os representantes dos principais clubes serão convidados a participar da próxima reunião do GT, devendo apresentar as tabelas das partidas e as ações que estão sendo feitas relativas à estrutura interna de segurança para os jogos do ano que vem. 

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